Em tempos de crise climática e devastação ambiental, é necessário encontrar maneiras de conscientizar a população. Para isso, artistas da performance, do texto, da gravura e até dos quadrinhos estão utilizando suas maneiras de expressão como forma de denúncia contra as injustiças ambientais.
Da união entre a busca pela transformação social, o ativismo, e as diversas expressões de arte, surge o “artivismo”, e quando se une essa prática à defesa do meio ambiente, ela recebe o nome de “artivismo ambiental”. Através do uso de diferentes suportes artísticos, esses trabalhos buscam promover uma linguagem simples e familiar para levar conhecimentos sobre questões ambientais e climáticas a diversos públicos.
Artivismo em quadrinhos
“Eu acredito que você rompe algumas barreiras quando você trabalha o ativismo dentro da arte. Porque a arte chama atenção, ela é uma forma também de se comunicar com pessoas de várias idades e de vários meios”, conta a quadrinista Thai Rodrigues. O trabalho da artivista relaciona as discussões de meio ambiente, principalmente sobre a preservação da Amazônia, com as histórias em quadrinhos.
Como uma jovem oriunda do Amapá, na região Norte do país, os seus trabalhos envolvem desde a preservação da Floresta Amazônica até a relação com os rios. “Nós, pessoas da região Norte, da região Amazônica, temos muito isso de respeitar a nossa ancestralidade, as nossas heranças”, destaca Thai sobre seu último trabalho, o livro “Sagrado”, que conta a história de uma jovem em busca de autoconhecimento através de um banho em um rio sagrado, que a leva por reflexões sobre a vida e o meio ambiente.
Já o artista paraense Leonardo Dressant começou a alinhar seus trabalhos ao meio ambiente a partir de um incômodo. Quando observou que a cidade onde mora, Belém do Pará, estava passando por problemas com a coleta de lixo, Dressant passou a criar histórias que conscientizassem sobre poluição ambiental. “A questão do lixo me incomodava, de eu ver uma cidade tão bela como Belém e outras cidades amazônicas sofrendo o mesmo problema. A questão do lixo é uma coisa séria na Amazônia”, relata Leonardo.
“Eu uso o quadrinho como uma ferramenta de transformação, no qual a criança vê sobre aquele assunto e ele vai dialogar com a família, ele leva aquilo para uma conversa dentro de casa”, conta Dressant. Para alcançar o público infantil, o quadrinista amazônico criou os personagens Pitiú e Xibé, dois urubus que sobrevoam a cidade de Belém discutindo sobre temas como a crise climática e a poluição pelo lixo.
“Então, esse é o nosso papel como artista, a gente conseguir levar a educação, discutir temas que sejam mais complexos.” — Leonardo Dressant
Arte universitária na defesa do meio ambiente
O Coletivo (H)eras foi criado por estudantes de Artes Visuais da Universidade Federal do Paraná (UFPR), com o objetivo de juntar tipos diversos de materiais em obras que dialogam sobre ancestralidade e questões referentes à proteção do planeta. “A gente só usa materiais reciclados ou reutilizados de coisas que a gente tinha em casa, que deram para a gente, que a gente achou, que a gente coletou”, explica a estudante Paola Stencel, integrante do grupo.
O último trabalho do coletivo, denominado “Anhangá” – entidade inserida na cultura de povos originários do Brasil, é um livro feito de materiais, como folhas, tecidos e pedaços de árvore, que reúne fragmentos textuais.
As artistas unem o aspecto da ancestralidade nos trabalhos do coletivo, trazendo enfoque para a necessidade de valorizar conhecimentos ancestrais. Mas, para além disso, elas ressaltam a necessidade de prezar pelo futuro. “A gente precisa mudar a nossa perspectiva de vida mesmo, de como a gente se relaciona com o outro, e como a gente vê a natureza”, afirma Astrud Barbosa, do (H)eras.
Para essas jovens, o movimento artístico deve carregar aspectos de ativismo e denúncia. “Eu acho que não existe arte que não seja política, não existe uma arte que não seja arregalada e pensada por muitos planos que atravessam ela”, afirma Ana Viajante, do coletivo. “A arte sempre foi e sempre vai ser um meio de denúncia política”, acrescenta Brie Rizzi.
A performance artística e ambiental
A professora universitária Cristiane Souza vem há mais de 20 anos trabalhando a dança, o teatro e a arte performática como meio de alusão à problemas ambientais. Desde coreografias que questionavam a exploração do petróleo até performances sobre derretimento de calotas polares, as ações de Cristiane reforçam a diversidade de meios artísticos que podem se relacionar com o meio ambiente.
Em atos de parar o intervalo entre aulas, ou convidar uma plateia a observar a sua arte, a professora chama de “ecoperformance” a linguagem que mais lhe chama a atenção. A artista ressalta que as performances têm um grande valor, pois podem ser feitas em diferentes lugares e momentos. “Você pode estar fazendo uma ação na rua, você pode estar fazendo uma ação no intervalo da universidade, você pode fazer uma ação numa comunidade”.
A artivista conta que é convidada por diversos projetos acadêmicos para performances em eventos sobre meio ambiente e crise climática na universidade. “As pessoas me procuram hoje, porque estão sentindo a necessidade de outras linguagens, inclusive acadêmicas, de acesso às comunidades que não só a linguagem acadêmica mais tradicional, mas vem me solicitando outras linguagens, outras formas de comunicação”, conta Cristiane.
“A linguagem acadêmica e climática, eu particularmente adoro, mas ela não acessa na totalidade, porque às vezes é uma linguagem mais densa, mais difícil de ser absorvida.” — Cristiane Souza
