Adrianópolis sofre com contaminação por chumbo

Adrianópolis, cidade da Região Metropolitana de Curitiba, no Vale do Ribeira, é marcada pelo chumbo. O desenvolvimento da região ocorreu junto com a instalação da mineradora Plumbum, na década de 30, o que garantiu melhorias de infraestrutura e gerou empregos à população, graças à extração de chumbo e prata. A empresa, porém, fechou as portas em 1995, deixando um rastro de despreocupação com o meio ambiente: rejeitos de chumbo abandonados ao ar livre. Esses restos de minérios não tratados até hoje contaminam rios, solo, ar e, consequentemente, os habitantes da região.

Vila Mota e Capelinha são as regiões mais afetadas, segundo estudos da Secretaria de Estado da Saúde e do Ministério da Saúde, divulgados em 2008. Foram encontradas altas concentrações de chumbo na poeira destes locais. Enquanto os números aceitáveis são 17 mg/Kg, foram detectados de 300 a 3.300 mg/Kg. Há também ní­veis acima dos toleráveis nos alimentos cultivados nas vilas (hortaliças, leguminosas e ovos).

O estudo para a tese de doutorado da geóloga Fernanda Gonçalves da Cunha, no Instituto de Geociências da Unicamp, mostrou também elevado ní­vel de chumbo na corrente sanguí­nea dos habitantes da região. “Do total analisado, 59,6% das crianças de Vila Mota e Capelinha apresentam teores de chumbo no sangue que já indicam necessidade de acompanhamento médico”, revela Fernanda.

Os moradores reclamam também do mau gosto e do aspecto da água, problema que alguns consideram mais urgente que o do chumbo. “A água está inadequada para consumo, mesmo que apresente concentração de chumbo e outros minérios dentro dos limites permitidos”, explica Guilherme Albuquerque, professor do Departamento de Saúde Comunitária da UFPR. Ele questiona os ní­veis considerados ‘aceitáveis’, pois, segundo ele, a concentração permitida já apresenta riscos à saúde.

A mineradora

A Plumbum pode ser vista como geradora de desenvolvimento da região a relação é tão forte que a cidade de Adrianópolis recebeu esse nome em homenagem ao proprietário da empresa, Adriano Seabra de Fonseca. No entanto, também é responsabilizada pela contaminação por chumbo no local, devido à falta de cuidados ambientais, que consequentemente trouxe prejuí­zos sócios econômicos.

Há mais de uma hipótese sobre o motivo de seu fechamento. Alguns acreditam que é econômico. “Não havia mais o que explorar na cidade, então ela fechou porque não era mais lucrativo”, diz Maria Dolores Torres Rúbio, moradora de Iporanga. Já a ambientalista e funcionária da Secretaria de Estado do Meio Ambiente Laura Jesus de Moura e Costa afirma que o motivo são as várias multas ambientais que a empresa recebeu.

Medidas

Segundo Laura, pouco foi feito para corrigir os problemas ambientais durante os últimos 14 anos. Em Adrianópolis, principalmente em um raio de cinco quilômetros de onde ficava a mineradora, o solo está contaminado e existem rejeitos expostos ao ar livre, sem tratamento. Além disso, existem ruas pavimentadas com restos de chumbo. Sempre que veí­culos trafegam por elas, a poeira contaminada se espalha pela região.

Um aterro foi feito à beira do rio que corta a cidade. Porém, sua capacidade é de apenas cerca de 10% da quantidade total dos rejeitos e sua situação é irregular. “A manutenção, que deveria ser realizada pelo IAP [Instituto Ambiental do Paraná] de três em três meses não está sendo feita”, denuncia Albuquerque. O IAP não se pronunciou sobre o assunto.

Quem vive o problema

Uma parte da população não acredita que o local esteja contaminado. “Trabalhei na Plumbum durante 30 anos e nunca tive nada”, diz o aposentado Antonio de Oliveira, que duvida dos prejuí­zos à saúde causados pelo chumbo. Já Sueli Aparecida de Almeida diz ter motivos para acreditar. Seu marido faleceu de câncer ano passado e seu filho mais velho possui fortes dores na panturrilha. “Os médicos já diagnosticaram: é excesso de chumbo no sangue”. Ela afirma também que há pouca conscientização entre os habitantes da região. “A maioria da população daqui finge não ver a contaminação, é mais cômodo”. Nelma Maria Cardoso, habitante da Vila Mota há dois anos, concorda: “Nosso maior problema é a falta de informação”, garante. Ela ainda afirma que, se soubesse da gravidade do problema, teria comprado sua casa em outro lugar. Para a ambientalista Laura, o que falta é mais refexão sobre o assunto. “Eles precisam ter consciência de que destruir e poluir o meio ambiente traz danos à saúde. Essa consciência precisa ser melhor trabalhada”, afirma.

Há solução?

Segundo um relatório da Secretaria Estadual de Saúde, a solução definitiva para o problema seria a retirada da população do local, já que o chumbo não pode ser removido. Entretanto, os moradores não estão dispostos a serem realocados. Segundo o professor do Departamento de Saúde da UFPR Paulo Perna, há outras soluções paliativas. “Uma série de medidas como asfaltar as estradas para evitar o levantamento de poeira contaminada, fazer uma cobertura mais efetiva do aterro e reforçar a mata ciliar, pra ninguém remover areia do rio, seriam boas alternativas”, explica. Ele ressalta, porém, que tudo deve ser acompanhado pela consciência dos moradores. Essas medidas também são apontadas pelo relatório do Ministério da Saúde.

Matéria publicada na edição 4 do Comunicação impresso.

Leia também: Projeto visa conscientizar sobre malefí­cios do chumbo.

bruno calzavara e camila schmidt

bruno calzavara e camila schmidt
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