Alunas e alunos da UFPR promovem iniciativas de combate ao patriarcado

Estudantes protestam contra o Manual do Calouro de Direito, publicado em 2012, que dizia que “as calouras tinham obrigação de dar” (Foto: Divulgação)
Estudantes protestam contra o Manual do Calouro de Direito, publicado em 2012, que dizia que “as calouras tinham obrigação de dar” (Foto: Divulgação)

Uma sociedade sem exploração e opressão. Essa é a principal luta de alunas e alunos que se organizam através de grupos de estudos de gêneros e coletivos feministas. Na Universidade Federal do Paraná, estudantes de cursos como Direito, História e Psicologia veem a luta contra o machismo como uma de suas causas.

Criado em 2010, o Grupo de Gênero e Sexualidade de Direto é um exemplo desse tipo de iniciativa. O conjunto surgiu após relatos de opressão no ambiente universitário e, segundo o mestrando em direito pela UFPR e membro do grupo, Lawrence Estivalet, “a naturalização da opressão que permeava o senso comum dos estudantes de direito”.

Iniciativa semelhante, mas institucionalizada, é o Núcleo de Estudos de Gênero da UFPR. Em atividade desde 1994, o grupo promove seminários, palestras e eventos, visando estimular discussões sobre questões de gênero. “Já fomos procurados por alunas e alunos que tiveram uma questão grave de gênero envolvida. Às vezes a gente tem que intervir em certas situações e criar espaço para se discutir o tema ou intermediar soluções”, afirma uma das coordenadoras do grupo e professora do curso de Ciências Políticas e Sociais, Marlene Tamanini.

Em 2014, o Grupo de Gênero e o Coletivo Iara pretendem fazer estudos sobre o tema prostituição (Foto: Divulgação)

Machismo na UFPR

Para Tamanin, um ambiente universitário não é um lugar menos intolerante. “Aqui [na Universidade] as pessoas tem outros mecanismos para se posicionar de maneira homofóbica e machista”. Em 2012, Integrantes do Partido Democrático Universitário (PDU), do curso de Direito, criaram um Manual do Calouro que gerou polêmica. Em determinado tópico, a cartilha dizia que “as calouras tinham obrigação de dar”. Na ocasião, o Grupo de Gênero de Direito organizou um ato, com mais de 250 pessoas, em repúdio à ação machista. “O fato teve grande repercussão, saímos até na Folha de S. Paulo e na Gazeta do Povo”, contam as integrantes do Coletivo Iara e estudantes de direito Naiara Bittencourt e Mariana Marques Auler.

Após esse episódio, integrantes do Grupo de Gênero sentiram a necessidade de criar um coletivo auto-organizado feminista do curso de Direito, o Coletivo Iara. Contudo, apesar de já estar no segundo ano de trabalhos concretos, as integrantes afirmam que, ainda hoje, são vítimas de machismo dentro da universidade.  “Até quando vamos dar recados nas salas alguns professores fazem piadinhas”, afirmam Naiara e Mariana.

A integrante do Coletivo “Aurora” (uma iniciativa das estudantes de história) Karlla Deparis conta que elas sofreram resistência dos alunos ao criar o grupo, inclusive de meninas. “Algumas mulheres tinham uma imagem estigmatizada das feministas. Não queriam ser vistas como extremistas ou algo tipo”, relata Karlla.

A estudante também defende a participação de todos nesse tipo de discussão. “O mundo, a sociedade é machista. Sofremos com um machismo institucionalizado”, argumenta Karlla. Opinião semelhante é a do aluno de direito, Lawrence Estivalet, que acredita que as opressões são estruturas sociais reproduzidas, mesmo que inconscientemente. “Só uma prática cotidiana pode nos levar a um real combate dessas ideias. Estudar um texto, realizar uma panfletagem, um debate, uma vivência com movimento social, são igualmente espaços de educação de nós mesmos, para podermos nos apropriar das relações que vivenciamos e lidar com elas de outro jeito”, conclui Lawrence.

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