Após eliminação, grupo de brasileiros direciona torcida contra argentina

Semifinalista pela primeira vez, Marrocos se torna alternativa frente a rivais Argentina e França, e a algoz Croácia

Como alternativa a rival Argentino, grupo de brasileiros se une aos marroquinos. Foto: Agência de notícias Brasil-Árabe.

A derrota nos pênaltis para a Croácia, na última sexta-feira (9), depois do empate por 1 a 1, custou a eliminação da seleção brasileira da Copa do Mundo. Tomado o gol de empate, na prorrogação, Neymar questionou seus companheiros sobre a necessidade de tentarem subir o placar, pois o que realmente precisavam naquele momento era aumentar a defesa para manter a pontuação. O conselho do camisa 10 não foi escutado e resultou em eliminação, mas, agora, com as rivais França e, principalmente, Argentina nas semifinais, um grupo de brasileiros criou a união Brarrocos, em apoio aos marroquinos.

Páginas no Instagram, como a @badvibesmemes, já fizeram postagens para demonstrarem seus posicionamentos a favor do Marrocos, o primeiro país africano e islâmico a alcançar as semifinais. Reprodução: Instagram.

Origens da rivalidade

Ao contrário do que se pensa, a história de rancor entre os países se inicia muito tempo antes do duelo Pelé versus Maradona, até mesmo anteriormente à consolidação de Brasil e Argentina como países republicanos.

Para o cientista político argentino Rosendo Fraga, “um dos primeiros conflitos diretos entre o Brasil Imperial e as Províncias Unidas do Rio da Prata – nome da Argentina anterior à primeira Constituição – foi o conflito pela posse da Província Cisplatina, a primeira guerra que o Brasil disputou como país independente – que mais tarde se tornaria o Uruguai“. O Brasil Imperial perdeu o controle com o resultado do conflito, e assim o governo de Dom Pedro I ficou ainda mais fraco. Fraga explica à BBC que a tensão chegou ao ponto mais alto na primeira década do século passado, quando as relações diplomáticas entre os dois países foram interrompidas.

O cientista político e escritor argentino Vicente Palermo, autor de A alegria e a paixão – relatos brasileiros e argentinos em perspectiva comparada, afirma para a BBC que, “no geral, a percepção dos brasileiros é que os argentinos são soberbos, politizados e aguerridos. Os argentinos, por sua vez, acham que os brasileiros são sinônimo de mulatas bonitas, natureza e futebol – sim, porque apesar da rivalidade em campo, aqui admiram muito o futebol brasileiro”. Na Copa do Mundo de 1978, sediada pela Argentina, a eliminação do Brasil ainda assim foi saudada como a derrota dos negros.

Já inseridos nesse conflito, surgem então os jogadores Pelé e Maradona. Pelé, que participou das copas de 1958 a 1970, venceu três dos quatro mundiais que disputou, enquanto a Argentina não teve conquistas. Depois, o contrário aconteceu: Diego Maradona apareceu como outro jogador destaque e levou a Argentina ao sucesso em um período em que o futebol brasileiro não teve conquistas, apesar de ter formado excelente time em 1982.

Em 1920, confirmando a afirmação feita pelos brasileiros de que os argentinos cometiam racismo com o povo diverso no Brasil, a seleção brasileira foi a Buenos Aires para um jogo e foi recebida com manchetes de cunho racista na imprensa local, contendo o termo monos, que significa macacos.

Jornal argentino La crítica, de 3 de outubro de 1920, antes de um amistoso entre as duas seleções. Brasileiros se revoltaram e alguns atletas boicotaram a partida, que terminou com derrota por 3 a 1. Foto: Reprodução

Muitos consideram que as provocações são de cunho mais sério do lado dos brasileiros, porque “os argentinos levam na brincadeira”, mas quando se tratam de casos constantes de racismo, a luta brasileira ganha justificativa.

“O racismo contamina as subjetividades de se ver o mundo e a população. Ele se assemelha ao machismo e à homofobia. Mas enquanto esses dois comportamentos são sistematicamente combatidos por pessoas e ONGs na Argentina, o racismo não tem a mesma atenção.”, declara o doutor em Ciências Sociais e investigador do Consejo Nacional de Investigaciones Científicas y Técnicas (Conicet), Daniel Mato, à Télam.

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