Aumento de aluguel em Curitiba ameaça direito à moradia de população de baixa renda

Capital paranaense registra maior alta nos imóveis desde 2017, com valor médio chegando a 1.500/mês

Foto: Franklin Freitas

De acordo com relatório do Imovelweb, um dos maiores portais imobiliários do país, o preço do aluguel em Curitiba vem crescendo. Somente nos últimos meses, a capital paranaense registrou um aumento de 2,3% nas taxas dos imóveis. O aluguel médio de uma residência padrão, com dois quartos e uma vaga na garagem, chegou a R$ 1,513/ mês — R$ 413 a mais que o salário mínimo atual.

Além disso, nos primeiros meses de 2021, a Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (Fipe), em parceria com o Grupo Zap, divulgou uma pesquisa que demonstra um aumento de 5,20% no valor dos aluguéis em Curitiba.

“De maneira geral, algumas cidades da região Sul têm apresentado aumento no valor tanto do aluguel quanto da venda. Com a chegada da pandemia, muitas pessoas começaram a prestar mais atenção nas condições de moradia, o que reforçou a demanda e reflete agora nos preços dos aluguéis”, ressalta o pesquisador da Felipe Eduardo Zylbestejn, doutor em Economia pela Escola de Economia de São Paulo, da Fundação Getúlio Vargas (EESP-FGV).

Conforme o relatório do Imovelweb, o bairro Cristo Rei apresentou o maior aumento anual no aluguel, 18,7%, com valor médio de R$ 1.654 por imóvel. Em seguida estão o Centro Cívico, com R$ 2.127, e a Cidade Industrial de Curitiba, com R$ 1.452. Por sua vez, os bairros mais baratos para se morar foram Parolin, Cajuru e Mercês.

A pesquisa indica também que a capital possui um preço médio de metro quadrado (m²) de aproximadamente R$ 6.958, sendo o Campina do Siqueira o bairro com a metragem mais cara da cidade, registrando média de R$ 10.708/m². Já o metro quadrado mais econômico se encontra em Campo de Santana, com média de R$ 2.989/m².

“Independente da pandemia, nós estamos vivendo uma fase boa para o ciclo imobiliário, temos uma situação de juros baixos e, apesar do desemprego estar afetando a população, ele a afeta de uma forma desigual. As famílias de alta renda não estão sofrendo tanto com o desemprego”, ressalta o economista.

Direito à moradia é o primeiro a ser impactado

Em contraste com a realidade enfrentada pela população de alta renda, as famílias que vivem com menos de três salários mínimos (R$ 3.300) tiveram suas vidas e condições de moradia diretamente afetadas com a chegada da pandemia e com o aumento dos aluguéis. A alta no valor dos imóveis coincide com o momento em que Curitiba sofre com o crescimento dos chamados aglomerados subnormais, ocupações e loteamentos, locais de difícil acesso a saneamento básico e serviços essenciais. 

Paralelo a isso, o Paraná está em quinto lugar na lista dos estados que mais despejaram famílias durante o período de pandemia, pois teve 1.656 famílias removidas à força do seu local de moradia. Os dados foram levantados pela Campanha Despejo Zero, campanha nacional responsável por registro e apoio às famílias despejadas.

“A gente vem percebendo um processo muito forte de empobrecimento de pessoas que já estavam em situações vulneráveis. Pessoas que não tinham direito à moradia garantida, mas que conseguiam pagar pequenos aluguéis, ou mesmo morar de favor com alguns familiares”, aponta Mariana Kauchakje, que compõe a coordenação nacional do Movimento dos Trabalhadores Sem-Teto (MTST). “Com a crise econômica, estas pessoas já vulneráveis viram o pouco se transformar em nada. Elas tendem a ficar em situação de vulnerabilidade e as ocupações crescem, uma vez que a moradia é uma questão latente em Curitiba e na Região Metropolitana”, afirma.

Neste contexto, são criadas ocupações irregulares que, na maioria das vezes, concentram-se às margens da cidade ou até mesmo na Região Metropolitana de Curitiba (RMC). De acordo com levantamento realizado pelo próprio MTST, a capital paranaense conta com cerca de 40 mil famílias morando em ocupações irregulares. “Existe a percepção prática de que as ocupações estão aumentando, no último ano registramos de cinco a seis novas ocupações”, conta a coordenadora do movimento.

Confira a quantidade de ocupações em regionais da capital, segundo a Companhia de Habitação Popular de Curitiba (Cohab):

  • Boa Vista: 108 ocupações
  • Cidade Industrial de Curitiba (CIC): 71 ocupações;
  • Cajuru: 61 ocupações;
  • Santa Felicidade: 56 ocupações;
  • Bairro Novo: 37 ocupações;
  • Pinheirinho: 35 ocupações;
  • Boqueirão: 33 ocupações;
  • Portão: 27 ocupações;
  • Tatuquara: 22 ocupações;
  • Matriz: três ocupações.

Segundo dados do Plano Estadual de Habitação de Interesse Social (PEHIS), a cidade reúne mais de 450 assentamentos irregulares, com cerca de 50 mil domicílios ali localizados. O déficit habitacional está estimado em 322 mil casas. Das famílias que aguardam atendimento de programas habitacionais, 85% possuem indicador de renda de até três salários mínimos.

“Este índice de aumento dos aluguéis é muito significativo, Curitiba é uma cidade que tem espaços vazios, mas a prefeitura continua insistindo em cortar a verba para a habitação, por exemplo. O desmonte do programa Minha Casa, Minha Vida também aponta para isso, você retira a possibilidade de um programa de moradia para as pessoas mais vulneráveis”, explica Mariana.

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