Cinema curitibano enfrenta desafios de reconhecimento no segmento político-social

Títulos premiados, cineastas e cinemas de rua locais são incentivo para uma maior visibilidade

Espectadores na bilheteria do Cine Passeio. Foto: Loize Antoniacomi 

As produções cinematográficas brasileiras trazem, desde suas origens, questões políticas e sociais do país para as telas. Segundo pesquisa realizada pela Sociedade Brasileira de Estudos de Cinema e Audiovisual (Socine), dos 2619 filmes nacionais lançados de 1991 a 2016, 2258 abordaram temas como política, raça, gênero e direitos humanos. Em Curitiba, esses títulos têm baixa adesão, mas espaços urbanos e cineastas locais podem ser pilares para a valorização dessa cultura na cidade.  

Em 2024, o filme “Ainda Estou Aqui”, de Walter Salles, retomou o período da ditadura militar no Brasil e dividiu as opiniões do público. Dados da Agência Gov apontam que o longa arrecadou cerca de 200 milhões de reais em bilheteria e foi assistido por mais de 5 milhões de pessoas. Outros exemplos que obtiveram sucesso recentemente foram “O Auto da Compadecida 2”, que retratou as desigualdades do sertão nordestino e “Manas”, que refletiu o abuso em uma comunidade ribeirinha na Ilha do Marajó.  

Frequência de temas político-sociais nos filmes brasileiros. Fonte: Dados de 1991 a 2016 da Socine. Gráfico: Loize Antoniacomi  

Ulisses Galetto, professor e pesquisador em Política e Cultura no Cinema pela Faculdade de Artes do Paraná, explica que o recorte político-social do cinema nacional se dá pelas raízes históricas que compõem essa cultura no país, fazendo com que o cinema em si seja um ato político. Desde o início do século XX, os primeiros registros de filmes brasileiros já traziam momentos históricos e políticos. Com o Cinema Novo, em 1960, críticas sociais começaram a aparecer ainda mais nas telas.  

O cinema em si é um ato político

Ulisses Galetto

Apesar do êxito de muitos títulos, existem produções de muitas regiões do país que são pouco reconhecidas. Curitiba é um desses casos, pois apresenta uma grande variedade de títulos e iniciativas cinematográficas, inclusive premiados, mas que não são debatidos na própria cidade. Galetto ressalta que isso acontece porque esse tipo de produção muitas vezes não entra no chamado Brasil profundo e não atinge a totalidade da população. “Filme não visto, é filme que não existe”, cita.  

Passos importantes do cinema curitibano no âmbito nacional têm sido dados para atingir um maior reconhecimento. Obras curitibanas como “Entrelinhas”, que ilustra a ditadura militar na capital paranaense, conquistou cinco prêmios no Festival Cine PE e “Verde Oliva”, que ambientou uma investigação política na cidade, participou de categorias no Festival Olhar de Cinema. Os cineastas locais Guto Pasko, Wellington Sari, Marcos Jorge e Heloisa Passos são alguns exemplos que também têm se destacado. 

O lugar do cinema em Curitiba

Cinema de rua Cine Passeio no meio da vida urbana curitibana. Foto: Loize Antoniacomi  

Locais em Curitiba como o Cine Passeio, o Cine Guarani e a Cinemateca, são cinemas de rua localizados em diferentes regiões da cidade. Por estarem fora dos shoppings, esses espaços proporcionam ao público maior conexão com o cinema. “Você vai com um objetivo de viver o cinema e é possível entrar em contato com a vida urbana curitibana, por exemplo sair de um filme e ir para o Passeio Público ou andar no centro”, diz Lorena Aumann, que é curitibana e frequentadora semanal do Cine Passeio. 

Esses ambientes cinematográficos não só fortalecem a aproximação com a cidade, como podem ser grandes aliados para a valorização das produções curitibanas. Como espectadora, Lorena diz que gostaria de ver mais filmes da capital em cartazes, pois isso contribui para uma ligação maior com a cidade. Trazer pautas político-sociais para as telas e debater mais sobre a adesão do público a filmes curitibanos nesses espaços faz parte dos objetivos do cinema local. 

Sair da versão mobile
Acessar o conteúdo