Criado pela produtora cultural Giusy de Luca, o coletivo Muchas Minas busca aumentar a produção e a representação feminina na cena artística de Curitiba. A iniciativa foi desenvolvida em março de 2020, semanas antes do início da pandemia, e une produções que têm como tema questões voltadas a maternidade, conflitos de gênero, sexualidade e o empoderamento feminino.
Desde o surgimento, o projeto realiza exposições e mostras virtuais, tendo também produzido murais em escopos de prédios pela capital. Agora, o Muchas Minas se apresenta como uma frente única de trabalhos de artistas mulheres, que leva ao público produções autorais como pinturas, esculturas, poesias, fotografias, audiovisual e murais.
Para a designer e artista visual Cris Pagnoncelli, há uma importância na representação das mulheres no cenário da arte urbana. “Temos uma maioria de obras feitas por homens, é difícil ter um trabalho grande produzido por uma mulher, mas estamos começando, aos poucos vamos trazendo mais mulheres e abrindo espaço”, afirma.
Muralismo feminino
Em 2018, Giusy de Lucca começou a trabalhar em um projeto que levava o mesmo nome do coletivo, Muchas Minas. A proposta era uma pintura na lateral de um prédio com a muralista espanhola Marina Capdevila – que veio ao Brasil pela iniciativa de apoio do escritório da Cooperação Espanhola, com o objetivo de fortalecer as relações com os países da América Latina.
Durante a pandemia, o projeto, escrito por Giusy e Bernardo Bravo, foi reconhecido e subsidiado pelo Mecenato da Fundação Cultural de Curitiba, sendo adaptado ao que viria a se tornar duas obras autorais. Finalizado em novembro do ano passado, o trabalho conta com duas empenas de 200 metros quadrados no Centro da capital, produzidas pelas artistas Marina Capdevila e Cris Pagnoncelli, localizadas ao lado do Passeio Público, na rua Presidente Faria.
A escolha do que seria pintado – por ser um projeto de lei – precisou da aprovação de diversas instâncias, desde a prefeitura da cidade até os moradores do prédio. “Decidi homenagear a Alice Ruiz, poeta e companheira de Paulo Leminski. Queria fazer uma homenagem, pois meu mural em Nova Iorque foi uma homenagem a ele. Porém, o poema que escolhi dela fala sobre desejo e sexualidade feminina e acabou sendo vetado, acharam muito ousado”, lembra Cris.
“Tive que criar uma nova arte em TRÊS dias, outros poemas também foram sendo vetados, eles aprovaram a palavra ‘coragem’, e fiquei feliz com a escolha. de certa maneira, cada um vai interagir e absorver de uma forma individual”
Cris Pagnoncelli, sobre a definição da palavra “Coragem” para seu mural
1º Mostra Muchas Minas
Uma das últimas ações do projeto aconteceu no início de dezembro (02), com a abertura da 1º Mostra Muchas Minas, a qual conta com exposições de mais de 30 artistas mulheres que moram em Curitiba, trazendo pinturas, gravuras, colagens, esculturas, produções audiovisuais e performances.
Os trabalhos abordam desde a opressão dos padrões de beleza femininos até questões relacionadas a maternidade, relacionamentos e o pertencimento da mulher na sociedade atual, como as colagens produzidas por Bruna Alcântara, as esculturas de Nicole Lima e as pinturas de Pétala Cavalcanti, entre outros temas e artistas também presentes na exposição.
A exposição, coordenada por Giusy de Luca e Bernardo Bravo, está em exibição no Centro Cultural Sistema Fiep, aberta ao público de segunda à sexta, das 9h às 22h, e aos sábados das 9h às 28h, até o dia 19 de fevereiro de 2022, com entrada gratuita.
Cenário artístico atual
Para Crys Pagnoncelli, o contexto atual traz a necessidade de discutir a representação feminina na arte. “A gente vive num momento de muito medo, uma cultura da violência. É importante trazer essa palavra no contexto atual, não só para mulheres, mas para explorarmos nosso lado feminino, inclusive os homens”, diz.
Com aumento de interesse no incentivo ao cenário artístico de Curitiba, existe ênfase na opinião do público sobre o que é a arte de rua e o seu significado. Crys conta que vê um ambiente onde ainda os artistas não são aceitos: “Vem em boa hora a exposição dos gêmeos para cá. Acho que [a visão do público sobre o grafite] já foi melhor no passado. Ocupamos a cidade sem problemas, agora estamos sendo mais oprimidos”.
Giusy de Luca espera que isso se transforme, aumentando e visibilizando a arte de rua em Curitiba— a produtora cultural aposta na cidade como um futuro polo turístico de arte urbana. “Em cidades como São Paulo e Belo Horizonte já existem circuitos para serem percorridos a fim de proporcionar aos turistas, uma verdadeira galeria a céu aberto. Queremos isso na nossa cidade: uma galeria gratuita e de fácil acesso”, afirma.
Você encontra mais informações sobre a exposição aqui.