ter 02 dez 2025
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COP30: a experiência de cobrir a conferência mundial do clima na graduação

Entre dificuldades e desafios, a cobertura por estudantes da Conferência das Partes sobre Mudança do Clima, em Belém (PA), é um marco

A 30ª Conferência das Partes sobre Mudança do Clima – a COP30 – pode ser considerada uma edição histórica da conferência por vários motivos. Foi a primeira a acontecer na Amazônia e teve uma participação inédita, embora ainda suficiente, dos povos indígenas. Representou um avanço para a agenda de adaptação, mesmo ainda fechando os olhos para os combustíveis fósseis.

O encontro global também teve outros ineditismos: o incêndio em um dos pavilhões, o protesto de indígenas e coletivos estudantis na entrada da blue zone e o bloqueio dos Munduruku, para mencionar os mais repercutidos.

Para o Departamento de Comunicação Social (Decom) da Universidade Federal do Paraná (UFPR), em Curitiba, também houve novidade: pela primeira vez, estudantes de graduação puderam participar de uma COP. A seguir, deixamos um breve relato sobre nossa experiência de cobertura.

Parceria

Nossa viagem a Belém (PA) teve início antes de arrumarmos as malas, pelo menos três meses antes. Tudo isso só foi possível a partir do momento em que Denily Fonseca, uma amiga nossa, ofereceu estadia para nós durante o período da COP30. Denily é estudante de jornalismo na Universidade Federal do Pará (UFPA) e vencedora do 17º Prêmio Fernando Pacheco Jordão para Jovens Jornalistas, do Instituto Vladimir Herzog. Foi no dia de premiação que a conhecemos.

A partir da certeza da estadia, o sonho de realizar a cobertura tomou forma. O passo seguinte foi ir à busca de um veículo que aceitasse que estudantes de jornalismo fizessem a cobertura para eles, afinal, para a cobertura seria necessário credenciamento.

O primeiro veículo que conversamos foi a Folha de Londrina, mas sem sucesso. Foi em uma reunião remota entre nós e o editor chefe do Jornal Plural, Rogério Galindo, veículo local e independente com sede em Curitiba, e o Observatório de Justiça e Conservação (OJC), organização ambiental que atua desde 2016, se consolidou. 

Com passagens pagas pelos parceiros, partimos entre os dias 8 e 9 de novembro, de Curitiba com baldeações em São Paulo, Brasília e Belo Horizonte até a chegada na capital do Pará – e capital do Brasil durante os quinze dias de COP.

Belém

Nossa ‘hospedagem’ ficou dividida entre uma casa no Guamá, bairro com maior densidade populacional de Belém, próximo à UFPA, e a Ocupação Welfesom Alves, do Movimento de Luta nos Bairros, Vilas e Favelas (MLB), próxima ao Parque da Cidade, sede da COP30.

Dividimos a cobertura em duas frentes: a blue zone, onde as negociações entre as partes acontecem, e a green zone e os eventos paralelos à COP, com livre acesso à população e movimentos sociais.

O principal evento paralelo foi a Cúpula dos Povos, sediada pela UFPA, onde povos indígenas, pesquisadores e movimentos sociais do Brasil e outros países se reuniram de 12 a 16.

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De lá, partiu uma barqueata com mais de 200 embarcações rumo à Baía do Guajará, em ato simbólico pela Amazônia. Na Cúpula, entrevistamos a delegação dos Avá-Guarani que saíram do oeste do Paraná para reivindicar, em Belém, a reparação pelo território inundado para a construção da Usina Hidrelétrica de Itaipu.

Primeiras impressões

Antes de qualquer perrengue jornalístico, o primeiro desafio foi dar de cara com uma cidade inteiramente desconhecida. Durante o dia, a temperatura não saía do intervalo entre 30 e 35 ºC. A locomoção também de início foi algo confuso. Não sabíamos se o melhor seria pagarmos Uber ou os Ônibus destinados para a COP. Por fim, utilizamos um misto dos dois.

Quanto a Conferência em si, a jornalista Giovana Girardi, em entrevista para o podcast Fio da meada, já havia antecipado “para quem vai cobrir de primeira vez, você até corre o risco de ficar atordoado, mesmo, sabe? “Para onde eu vou? Para onde eu olho? O que eu faço?”. Foi mais ou menos assim que ficamos nos primeiros dias.

São muitos eventos ocorrendo ao mesmo tempo, tanto dentro quanto fora dos espaços oficiais. A estrutura da Bluezone é muito maior do que imaginávamos. A diversidade de pessoas, línguas e possibilidades também nos assustou.

Desafios e falhas na cobertura

Alguns obstáculos pelo caminho comprometeram a cobertura em certos momentos. Como nossa “equipe de reportagem” se resumia a apenas duas pessoas e estávamos sempre em lugares diferentes, a colaboração se tornou um desafio. 

Na prática, o trabalho foi ‘solo’ durante a maior parte do tempo, o que trouxe dificuldade técnica e humana à execução das pautas. Mesmo assim, a divisão era a melhor maneira de cobrir mais lugares e pessoas ao mesmo tempo.

Outro problema de comunicação: a distância entre repórteres, em Belém, e a editoria do Plural, em Curitiba. Como jornal local, as pautas localizadas em Curitiba não deixaram de preencher quase todo o tempo da redação na capital paranaense. 

Encaixar o tempo da cobertura em tempo real da COP no turbilhão de pautas diárias do Plural foi outra dificuldade. Por mais de uma vez, matérias de vida curta acabaram esfriando na fila das publicações de rotina do jornal.

O material

Embora não tenhamos planejado essa divisão na hora de pensar as pautas, hoje é possível dividir as reportagens entre as mais frias e as mais factuais. A cobertura começou com a menção do presidente da COP30, André Corrêa do Lago, ao tornado que devastou Rio Bonito do Iguaçu (PR) em 7 de novembro, às vésperas da conferência que deveria discutir como frear os eventos climáticos extremos e seus catalisadores.

A captura em tempo real foi o que rendeu notas e matérias sobre o incêndio no pavilhão da África Oriental ou do bloqueio dos Munduruku na entrada da blue zone, por exemplo. Outras puderam ser executadas com menos urgência, como a cobertura da Casa da Mata Atlântica, sediada pela Universidade da Amazônia (Unama), avaliação da atuação do governo do Paraná e o balanço geral da primeira e segunda semana de negociação.

Para além do texto, buscamos expandir o alcance do conteúdo para as redes sociais, com vídeos para os stories e os reels do Instagram – apresentando a parceria, mostrando o funcionamento da COP e cobrindo o dia do incêndio.

Experimentações

Apesar do tempo curto para as produções, dificuldades com logística e perrengues durante a COP30, essa viagem e cobertura foi um poço de novas experiências que permitiram uma compreensão de como o jornalismo ambiental e em tempo real ocorre. Nesse meio tempo foi possível fazer experimentações importantes. Tanto a escrita em conjunto, por exemplo quando um estava na Blue Zone coletando entrevistas e sonoras e outro estava escrevendo, quanto na parte técnica, com uso de equipamentos diferentes para reels e com fotos mais artísticas sobre o evento, como as fotos que estão a seguir.

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