Curitiba está longe de abandonar o dinheiro em espécie, segundo Banco Central 

Pesquisa aponta que, no país inteiro, a prática não caiu em desuso

A escolha de pagar com dinheiro em espécie não perdeu popularidade em Curitiba, mesmo diante do disparo das transações por PIX, segundo o Banco Central. O estudo “O brasileiro e sua relação com o dinheiro”, com dados do ano passado coletados nas capitais, apontou que cerca de 67% das mulheres e 70% dos homens do país utilizam as notas e moedas do Real. 

Na capital paranaense, o uso do dinheiro vivo é predominante em compras e gastos de menor valor, como depósitos em lotéricas, pequenos comércios e nos tubos e terminais de ônibus — em que a passagem única custa 6 reais. Ainda de acordo com o Banco Central, em escala nacional, as cédulas também são o meio majoritariamente utilizado em aquisições de até 20 reais.  

Renato Meirelles é CEO do Instituto Locomotiva, empresa pesquisa e inteligência especializada em conhecimento do consumidor. Ele aponta que algumas razões que ainda norteiam a utilização do dinheiro físico são o próprio hábito de uso “uma cultura que leva anos para mudar”, os pequenos varejos que não aceitam outro tipo de pagamento, além da frequente possibilidade de descontos nas negociações à vista.  

“O brasileiro de menor renda não tem acesso a aplicações financeiras, mas também faz parte da rotina, no dia a dia, com uma força especial entre os brasileiros mais velhos”, reforçou Meirelles. 

De fato, segundo o levantamento, o uso é mais comum pela população com menor poder aquisitivo. Conforme a renda aumenta, o dinheiro em espécie se torna menos frequente. Enquanto o número é de 75% entre as pessoas que recebem até dois salários-mínimos, passa para 69% entre os que ganham entre dois e cinco.  

Quando se trata do perfil de idade, porém, apesar do panorama de Renato, a diferença não é tão expressiva. Em todas as faixas etárias a partir dos 16 anos, a utilização o dinheiro físico prevalece. A diferença entre o número de jovens adultos e o número de idosos com este comportamento é de surpreendentes 4%. A impressão de que as células são uma exclusividade dos mais velhos parte de estigmas, como a falta de entendimento de algumas tecnologias e procedimentos dos bancos, e uma maior vulnerabilidade a crimes cibernéticos, roubos e emboscadas. 

É o caso do aposentado José Clovis Ferreira, que não se adaptou a métodos de transferência digital e prefere a facilidade das células por se preocupar com erros ou golpes durante o pagamento.  

“É mais vício de estar sempre com o dinheiro no bolso. O dinheiro não nega, você tirou, você paga qualquer coisa. O PIX, de repente você erra, tá exposto ao ladrão”, defendeu José. 

Outros curitibanos atribuem essa mesma praticidade e segurança aos depósitos e recebimentos por via digital. Com apenas alguns toques no celular, é possível evitar o risco de andar com grandes quantias em espécie. Os cartões, e mais recentemente o PIX, também permitem a utilização de crédito, garantindo o acerto de dívidas mesmo enquanto o consumidor não tem saldo. 

A fisioterapeuta curitibana Gabrielle de Souza Ferreira trabalha em uma clínica particular onde é paga por transferência bancária pela maioria dos pacientes. Quando realiza atendimentos domiciliares, geralmente pagos com dinheiro em espécie, ela prioriza receber o valor exato para que não haja necessidade de troco. 

“Os pagamentos já estão centralizados em uma conta onde eu distribuo para os locais que eu preciso. Normalmente é utilizado [as cédulas] no mercado, para as compras da casa. Para mim, o benefício do dinheiro digital é a facilidade com que eu pago as minhas contas como cartão de crédito e as pendências da casa, sem precisar me deslocar para uma lotérica ou um banco. Eu acho que não tem nenhuma situação em que eu sinta falta do dinheiro físico no meu dia a dia”, relatou Gabriela. 

O motorista de aplicativo Matheus Ribeiro, por outro lado, optou por não receber pagamentos em dinheiro vivo. Ribeiro explica que configurou a plataforma onde trabalha para receber corridas pagas somente por cartão de débito (cujo recebimento é automático), por questão de segurança.  

“Tenho um pouco de medo de golpes, e quando é no dinheiro ou no PIX, sempre tem passageiro que quer deixar para a próxima corrida. Mas sei de vários colegas que ainda recebem bastante em dinheiro, principalmente de idosos”, esclareceu. 

O receio de Matheus se refere à quando o passageiro não paga a viagem atual e adia o custo para a próxima corrida que realizar através do aplicativo. Essa funcionalidade é do motorista, que pode habilitá-la quando o cliente não tem troco ou saldo suficiente. O valor pendente é cobrado automaticamente, na viagem seguinte, o que pode atrasar o recebimento do profissional que já prestou o serviço. 

Ribeiro integra uma minoria dos brasileiros, os 14% que aboliram totalmente o uso do dinheiro vivo em sua rotina. No entanto, mais da metade dos entrevistados que andam com notas e moedas em suas carteiras declararam utilizá-las com pouca frequência. 

A expectativa é de que a prática diminua ainda mais. Embora a circulação de dinheiro em espécie seja significativa, ainda de acordo com o Banco Central, a maioria dos brasileiros estima que largará a moeda física de vez nos próximos 5 anos.

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