Espelho, espelho meu

“Existem pessoas e pessoas, mas elas nem sempre são o que aparentam ser. O que importa é a beleza interior”. Essa frase, recorrente na peça “A Feia”, apresentada no sexto dia do Festival de Antonina, define perfeitamente a idéia central do espetáculo.
A montagem narra o julgamento de um pai e uma mãe acusados de assassinar a própria filha, batizada de Feia. O motivo do crime: a aparência monstruosa da menina, que nasceu com terrí­veis deformidades fí­sicas. E é por meio dessa história que a peça incentiva o espectador a repensar algumas posturas, principalmente as que giram em torno de preconceitos mascarados.
Cleide Piasecki, autora e diretora do espetáculo, defende a profundidade do assunto. “A imagem representa uma boa parte da nossa vida, mas há um lado ainda mais importante. O culto da beleza faz as pessoas esquecerem que o que faz um ser humano são suas ações”.
O espetáculo questiona também a relação entre a religiosidade e o preconceito, por meio de comparações entre a história de Abel e da Feia. Segundo a peça, assim como Deus não tinha o direito de culpar Caim pelo assassinato de Abel, os pais de Feia não poderiam julgá-la, já que nem Deus nem os pais da menina conheciam os alvos de seus julgamentos.
A peça, apesar de trágica e pesada, contou com alguns momentos de descontração. O público pôde interagir com os atores fazendo “buruburuburu”, sons que em uní­ssono soam como burburinhos no decorrer do julgamento. Além disso, uma das espectadoras foi presenteada com uma rosa, o sí­mbolo que tanto encanta o pai da personagem principal.
Mesmo com o frio, as duas sessões do espetáculo lotaram. Boa parte do público elogiou a peça, que teve sua primeira montagem em 1994 e depois de algumas alterações estreou novamente este ano. “Achei a encenação maravilhosa”, derrete-se a jovem Renata Gomes. A estudante universitária Maria Fernanda Aquino também gostou do que viu, mas achou a linguagem cansativa. De qualquer forma, o drama dá abertura a uma grande reflexão a respeito da existência e do comportamento humano.

Espetáculo A Feia faz reflexão sobre o comportamento humano
Cris Seciuk
Professor do curso de Jornalismo da UFPR. Orientador do Jornal Comunicação.
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