sex 29 mar 2024
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Estudantes reclamam de ataques de cães no Politécnico

Alunos e professores querem solução para os animais abandonados no campus. Foto: Dayane Saleh

Os cães de rua ou abandonados já fazem parte da comunidade acadêmica do campus Politécnico da Universidade Federal do Paraná (UFPR). Segundo a Pró-Reitoria de Administração (PRA), o número de animais ainda não foi contabilizado, mas a estimativa é de que pelo menos sete vivem pelas redondezas.

Os cachorros despertam o afeto e o cuidado entre os estudantes e professores do campus. Um deles tem até um perfil na rede social Facebook, com o nome de “Alfredo do R.U”, por estar sempre perto do restaurante universitário no horário das refeições. Apesar da relação de amizade, alguns animais apresentam comportamento agressivo, principalmente devido à disputa e demarcação de território.

Em outubro, o estudante de Engenharia Civil, Leandro Comiran, foi surpreendido por três cães enquanto corria para pegar o ônibus intercampi. Ele levou mordidas e arranhões após ter deixado o restaurante da universidade. “Eu estava indo rente à calçada, quando eles vieram correndo ao meu encontro. No momento eu pensei ‘corro, chuto ou fico parado?’ Decidi ficar parado, tentando afastá-los com a mão”, explica. Leandro levou dois pontos na panturrilha esquerda e ficou com queloides, cicatrizes mais profundas que não desaparecem de forma espontânea.

Ele conta que o local estava vazio na hora do ataque e que foi socorrido pelo pai de um aluno, que estava de carro e o levou ao pronto-socorro do Cajuru. Na busca por ajuda, Leandro não encontrou informações com os seguranças e nem nas secretarias, que já estavam fechadas. “Só depois fiquei sabendo que a Universidade possui convênio com o Santé plus para emergências médicas. Eu não quero que isso aconteça com outra pessoa”, completa.

Uma semana depois de ter sido mordido, o estudante viu uma aluna ser atacada por cães nas proximidades do prédio de Administração, onde a maioria dos animais costuma ficar. Segundo a segurança do local, nos últimos meses ocorreram sete ataques parecidos, no mesmo gramado.

Para tentar resolver a situação, Leandro relatou o caso para a ouvidoria. “Eu acredito que os animais que estão dando problemas deviam ser retirados de lá. A universidade precisa pensar mais nos estudantes”, desabafa. Ele precisou pagar o atendimento médico e não obteve ajuda financeira da faculdade.

Carisma versus perigo

A comunidade acadêmica do Politécnico têm diferentes relações com os animais. Para o aluno de Engenharia Civil, Alyson Reis, o maior problema é que os cães não são castrados. “É necessário um controle para que a população não aumente”, argumenta. Ele não considera que os cachorros atrapalhem ou representem perigo.

“Eles até são carismáticos”, afirma outro aluno do curso, Thiago Bollman. Ele e o colega Alexandre Ramalho desconhecem problemas sérios com funcionários e alunos. “Uma vez eles entraram na aula de construção civil, mas saíram assim que o professor pediu”, conta Alexandre.

Já para os estudantes de Agronomia Pamela Padilha e Denis Santos, os cães podem ser perigosos. “Eu já passei pelo gramado atrás do laboratório de topografia e, algumas vezes, eu não conseguia atravessar porque eles não deixavam. Nesses casos, eu tinha que dar a volta”, diz a aluna. “Pelos animais não serem vacinados, o risco à saúde de uma pessoa que foi atacada é bem alto”, completa Denis.

Kelvín dos Santos, estudante de Engenharia Ambiental já foi perseguido por um cachorro uma vez e o amigo Luan Toquim viu uma menina ser atacada. “Seria interessante se o pessoal de veterinária amparasse os animais e os vacinassem”, concluiu Kelvín.

A matilha de cães costuma ficar perto do prédio do curso de Administração. Foto: Dayane Saleh

“Adote os cães da UFPR”

De acordo com o diretor de infraestrutura da prefeitura do campus, Luiz Carlos da Silva, as reclamações dos estudantes em relação aos animais são constantes. A UFPR orienta a comunidade a não alimentar os cães, fator que contribui para que eles permaneçam nos locais e, eventualmente, se tornem agressivos. “Nós podemos comparar essa alimentação com a dos pombos nas praças, por exemplo. Aqui no campus, temos observado que existem muitas vasilhas com água e comida. Sei também de pessoas que ‘surrupiam’ alimentos do R.U para dar aos cães”, relata. O diretor afirma que cerca de quatro cães perseguem alunos que passam pelo gramado para pegar ônibus. Nos últimos dois meses, três estudantes teriam sofrido ataques.

Segundo Silva, a gestão ambiental do Politécnico decidiu em reunião que os cães devem ser castrados e levados para um canil. A Prefeitura de Curitiba vai participar da ação, com a realização de uma campanha para mostrar os problemas de alimentar os animais. “A prefeitura do campus entende que é responsável, de certa forma. Mas não podemos cuidar dos cães com dinheiro público”, explana. O diretor assume que, até agora, os alunos tem arcado com as despesas sozinhos. “Nossa orientação é procurar a Pró-Reitoria de Assuntos Estudantis, que está sensibilizada nesse sentido”, diz.

A PRA informou ainda que os cachorros serão levados pela equipe da Prefeitura Municipal em grupos de três. Eles serão castrados, vacinados, vermifugados, e terão microchips instalados. A recuperação deve levar dez dias e, em seguida, eles serão colocados em processo de adoção. Para divulgar a campanha, foi criada no Facebook a página “Adote os cães da UFPR”. “Esperamos que até janeiro todos estejam fora do campus e em uma casa”, comenta Felix Calderaro, da PRA.

Quem adotar um cão terá um mês de ração provida pela equipe de proteção animal. “Esse é o chamado plano emergencial. O plano de ação é impedir a formação de novas matilhas”, explica Calderaro. Além disso, os abandonos registrados pelas câmeras da universidade serão repassados ao governo, para responsabilizar o dono.

Serviço

Os interessados em adotar os cachorros podem entrar na página “Adote os cães da UFPR” no Facebook ou ligar para (41) 3360-5292.

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