Evento realizado na UFPR discute a violência das torcidas organizadas

Um evento realizado no final de Abril, no Campus de Comunicação Social da Universidade Federal do Paraná trouxe discussões diversas sobre a violência encontrada nos estádios de futebol.

O debate contou com a participação (da direita para a esquerda) do delegado Clóvis Galvão, do empresário Michel Micheleto, do professor de Sociologia Maurício Murad e do ex-jogador e comentarista esportivo Serginho Prestes, que mediou o bate-papo (Foto: Arthur Schiochet)

Os casos de violência nos estádios são recorrentes. Em 2013, 17 torcidas dos 20 times que disputam a série A do Campeonato Brasileiro se envolveram em brigas. Há poucos dias, torcedores do Coritiba filiados à torcida “Bonde do Terror” tiveram um mandato de prisão preventiva devido a investigações de conflitos com torcedores do Atlético Paranaense no fim de 2014.

No ano passado, foram comprovadas 18 mortes a partir de brigas entre torcidas e outras seis mortes ainda estão em investigação. Este número torna o Brasil o país com o maior número de mortes de torcedores do mundo, seguido pela Argentina.

O debate foi além do âmbito esportivo, abordando questões econômicas e sociais. Algo em que todos os debatedores concordaram é no ponto do fim das torcidas organizadas não acabar com a violência.

Os lados que contribuem com a manutenção das organizadas, segundo o sociólogo Maurício Murad, são as camisas das torcidas, as bandeiras, os ingressos distribuídos para eles, cambistas antes da partida e os votos para os dirigentes do clube.

O delegado Clóvis Galvão, coordenador da Delegacia Móvel de Atendimento a Futebol e Eventos (Demafe) do Paraná, explica o motivo pelo qual é contra o fim das torcidas organizadas: “Elas são oriundas da sociedade. Se há violência, é resultado de uma sociedade violenta. Um atletiba (Atlético Paranaense contra Coritiba) começa às seis e meia da tarde e às dez da manhã tem brigas entre torcedores. Isso nada tem a ver com o esporte”.

O chefe da Rádio Banda B, emissora referência na cobertura esportiva estadual, Michel Micheleto declara: ”O meu papel não é falar que a torcida deve acabar, mas sim a sociedade que os jovens têm acesso, o que o Estado fornece para estas pessoas”.

Ainda segundo o empresário, o valor dado ao futebol muitas vezes sobrepõe o papel de um esporte. Em frases como “um jogo de vida ou morte”, os locutores podem levar a uma interpretação errada por parte dos ouvintes. Esse detalhe é algo que Micheleto tenta retirar das transmissões de sua rádio.

Os debatedores comentaram também sobre os papéis sociais das torcidas, que produzem trabalhos nas periferias e abrem espaço para jovens se inteirarem em ciclos sociais e de lazer.

 

Soluções

O caso mais conhecido de repressão a torcedores violentos é o caso dos Hooligans ingleses. No fim dos anos 1980 e começo dos anos 1990, a primeira-ministra Margareth Tatcher sancionou um pacote de medidas, entre elas estava o cadastro de torcedores. Essa atitude tornou o país referência no combate às brigas de torcida.

Para o atual momento, Mauricio Murad comenta: “Precisamos de uma política de Estado permanente para reprimir em curto prazo, prevenir em médio prazo e erradicar em longo”.

O fator que depõe contra as medidas inglesas é elitizar o esporte, algo que tira o aspecto de celebração popular das partidas. Para isso, Michel Micheleto propõe: “Devemos achar medidas que resolvam e não reservem a uma elite econômica”.

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