Foto de capa: Giovana Bonadiman
Com a chegada da primavera, a população de Curitiba pôde prestigiar o já tradicional Haru Matsuri (Festival da Primavera), em sua 32ª edição neste ano, nos dias 21 e 22 de setembro. Organizado pela associação cultural Nikkei Curitiba, o evento ocorreu no Centro de Eventos do Parque Barigui e contou com diversas atrações, como apresentações culturais e uma grande oferta de pratos típicos da culinária japonesa.
Idealizado por Rui Hara e Claudio Seto, o evento ocorria originalmente dentro das dependências da associação nikkei. Com o passar dos anos, o festival cresceu para além dos limites da associação e integrou outras instituições nipo-brasileiras, como a União dos Gakusseis de Curitiba (UGC) e a Casa do Estudante Nipo-brasileiro de Curitiba (Cenibrac).
Atualmente, tanto a área gastronômica do evento, quanto as apresentações culturais são feitas apenas por voluntários. Para Everson Takayama, atual presidente da Nikkei Curitiba, esse é um dos destaques do evento. “A beleza do ambiente é isso: independente de classe social, de formação, todo mundo se une para a manutenção da cultura japonesa.”
Takayama acredita que o esforço da comunidade nipo-brasileira de manter a cultura japonesa viva aliado ao crescente interesse de não descendentes, são os principais fatores para esse desenvolvimento e o crescimento do Haru Matsuri. “Independente de classe social, de formação, todo mundo se une para a manutenção da cultura japonesa.”
“Independente de classe social, de formação, todo mundo se une para a manutenção da cultura japonesa.”
Everson Takayama, presidente da Nikkei Curitiba
Entre as atrações culturais, o festival contou com a participação do Ryukyu Koku Matsuri Daiko (RKMD). Traduzido literalmente para “Tambores Festivos do Reino de Ryukyu”, o grupo foi fundado em Okinawa, província ao sul do Japão, em 1982, com o objetivo de difundir e preservar a cultura okinawana. As apresentações são feitas unindo coreografias com os tradicionais tambores de Okinawa.
Natalie Nabeshima participa do Matsuri Daiko desde 2009, e conta que houve uma mudança no público que participa do grupo. “Acredito que seja mais a comunidade japonesa que participa, mas também atinge pessoas de fora da comunidade. Quando eu comecei no grupo participavam alguns não descendentes, mas eram poucos, hoje esse número cresceu bastante”, afirma.
A juventude da comunidade nipo-brasileira
Entidades voltadas para o público mais jovem, como a União dos Gakusseis de Curitiba (UGC) e a Casa do Estudante Nipo-brasileiro de Curitiba (Cenibrac) se mostram como importantes para a continuidade da presença nipônica na cidade. Fundada em 1979, a Cenibrac surgiu a partir do desejo das primeiras gerações de japoneses que chegaram ao estado e tiveram os filhos estudando em grandes cidades, como explica William Tsukahara, ex-presidente da casa.
Não é necessário ser descendente de japoneses para morar na casa, mas, segundo Tsukahara, mais da metade dos moradores são nikkei. Os únicos requisitos para poder fazer parte do processo seletivo é não ter pais morando em Curitiba e estar cursando a primeira graduação.
A UGC foi criada em 1949, no período pós Segunda Guerra Mundial (1930-1945), com o objetivo de acolher os descendentes que vinham do interior do Paraná para estudar e não conheciam muitas pessoas na cidade. A UGC se tornou então um ponto de encontro para esses jovens. Após 75 anos de sua fundação, a União ainda mantém o espírito de integração da comunidade japonesa e de abrigar aqueles que vêm de fora.
Atualmente, essa integração é feita principalmente a partir de eventos sociais e de atividades esportivas. O atual presidente da UGC, Hiro Sato, comenta sobre o quanto essa convivência foi importante para ele próprio. “O sentimento que eu tenho, depois de dois anos com esse pessoal, é que virou quase uma extensão da minha família.”
Por que a presença de japoneses é tão grande em Curitiba?
A Embaixada do Japão no Brasil estima que aproximadamente dois milhões de japoneses e descendentes vivem no país, a maior população nipônica fora do Japão. Com aproximadamente 200 mil descendentes, o Paraná é o segundo estado brasileiro com a maior população Nikkei, atrás apenas de São Paulo.
De acordo com a Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo, a imigração japonesa iniciou no Brasil no dia 18 de junho de 1908, quando os primeiros imigrantes desembarcaram no porto de Santos, trazidos pelo navio Kasato Maru. Atraídos pelas oportunidades de trabalho nas fazendas de café, os japoneses se instalaram principalmente em São Paulo e no norte do Paraná.
Dados do governo paranaense apontam que os japoneses começaram a se estabelecer em Curitiba por volta de 1912. Hoje, a cidade possui uma comunidade nipo-brasileira de cerca de 50 mil descendentes, além de locais, como a Praça do Japão e o Palácio Hyogo, que atestam a influência que a cultura japonesa na capital.
Criada em 1963 para homenagear os imigrantes residentes na cidade, a praça conta com lagos artificiais, esculturas e vegetações que remetem à cultura japonesa. Possui também o memorial da imigração japonesa, construído com uma arquitetura inspirada nos aspectos culturais do país ocidental.
Localizado na avenida Comendador Franco, 871, e inaugurado em 1996, o Palácio Hyogo é outro exemplo da arquitetura japonesa em Curitiba. Abriga a Câmara de Comércio e o Instituto Cultural e Científico Brasil-Japão, além de contar com biblioteca, auditório, sala de exposições e uma sala com fotos e informações sobre Himeji, cidade japonesa irmã de Curitiba.
Firmada pela lei municipal 6484/1984, a irmandade entre Curitiba e Himeji é mais uma mostra das fortes relações entre japoneses e Curitiba. Localizada na província de Hyōgo e com cerca de 530 mil habitantes, a cidade de Himeji é marcada pelo Castelo de Himeji, famoso ponto turístico do Japão.
Reportagem: Vitor Yudi Beninni
Edição: Rodrigo Matana
Orientação: Cândida de Oliveira