Instituto Mulheres em Ação acolhe e fortalece mulheres em Curitiba

O projeto IMEA atua no Boqueirão como uma rede comunitária de apoio, formação e enfrentamento à violência de gênero

Rede comunitária de mulheres é referência no Boqueirão. Créditos: Nicole Ribeiro.

Na Rua Denezar Andrade de Jesus, 609, no bairro Boqueirão, em Curitiba, uma casa branca e rosa chama a atenção de quem passa. Placas e banners revelam o trabalho ali realizado: atendimento a mulheres em diferentes áreas, com foco no empreendedorismo feminino e no fortalecimento comunitário.

Fundado em 2018, o Instituto Mulheres em Ação (IMEA), sem fins lucrativos, nasceu da necessidade de ampliar o atendimento social no bairro. Com o aumento do feminicídio, o grupo que atuava no núcleo de segurança local, decidiu centralizar esforços em iniciativas voltadas às mulheres. A presidente da entidade, Suerli Aparecida da Silva, afirma que cerca de 100 mulheres são atendidas semanalmente em diferentes frentes. “Tudo gira em torno da mulher, mas se estende à família, principalmente na área de psicologia”, diz.

O público atendido é diverso em idade e demandas, com destaque para situações de vulnerabilidade social e violência de gênero. Para estimular autonomia e autoestima, o IMEA oferece aulas de empreendedorismo, pintura, costura, yoga, pilates, massoterapia, crochê, violão, além de grupos de apoio, assistência jurídica e terapia. “Queremos que as mulheres tenham condições de ganhar o próprio dinheiro, se reinventar e se fortalecer com os cursos”, completa Suerli.

Em relação ao trabalho desenvolvido na instituição, Suerli destaca a satisfação em ver os resultados de uma iniciativa que começou sem grandes perspectivas de crescimento. “O IMEA é um sonho que se tornou realidade. Saber que o instituto tem vida, que ele pulsa, e ver tanta gente envolvida dá muito orgulho. Isso supera qualquer outra realização profissional”, afirma.

O CORAÇÃO DO IMEA: COLABORAÇÃO E VOLUNTARIADO

No IMEA, todo o funcionamento depende do trabalho voluntário. As aulas, atendimentos e oficinas são conduzidos por pessoas que oferecem tempo e conhecimento para fortalecer a comunidade. Entre elas estão Cris Nascimento, que atua na área de empreendedorismo, e Elen Cristina, psicoterapeuta responsável pela triagem e encaminhamentos.

Elen descobriu o instituto de forma inusitada. “Eu estava trazendo meu filho para tomar vacina e ele disse: “‘Mãe, você podia fazer seu estágio aqui, né?’”, lembra. O comentário acabou se tornando realidade: hoje, ela é uma das responsáveis por acolher mulheres que chegam em busca de apoio psicológico.

Cris, por sua vez, encontrou no espaço a chance de praticar o que aprendeu na graduação. “Passar conhecimento para as pessoas é uma satisfação. Ver o brilho nos olhos das mulheres quando entendem e aplicam isso no dia a dia é fantástico”, afirma.

O trabalho voluntário, no entanto, vai além da sala de aula. Ele garante que o instituto siga funcionando, mesmo diante de recursos financeiros limitados. “As coisas tendem a sempre ficar melhores quando ajudamos o próximo. E aqui a demanda é muito grande na área da terapia e psicologia, porque a gente sabe que o SUS tem dificuldade em atender toda a população”, explica Elen.

Segundo ela, o instituto conta com apenas três profissionais de psicologia e terapia, o que torna desafiador organizar os horários. Como complemento, a equipe indica os cursos como enfrentamento de questões psicológicas. “Quando alguém procura terapia, sempre falamos das oficinas. Sabemos que não substituem a psicoterapia, mas funcionam como terapia ocupacional”, detalha.

Cris reforça esse papel transformador das atividades do instituto: “Tem aula de costura, de pintura em tela, em tecido, e depois o empreendedorismo, que ensina a colocar no mercado tudo o que é produzido. Eu costumo dizer que capacitamos as empreendedoras para serem protagonistas da própria trajetória. Muitas vezes o talento está escondido, e o que fazemos aqui é despertar esse potencial”.

Nas tardes de terça-feira, são ofertadas aulas de pilates no instituto. Créditos: Nicole Ribeiro.

DESAFIOS PARA MANTER A GESTÃO

O IMEA sobrevive de doações, o que torna a manutenção um desafio constante. “Tudo o que você vê aqui foi doado: o salão, a cozinha. Nossa maior dificuldade é financeira, porque de voluntariado nós somos ricos”, afirma Suerli. Para equilibrar as contas, o instituto mantém um brechó e realiza campanhas mensais de arrecadação. A limitação de espaço também é um entrave destacado pela presidente, já que todas as atividades ocorrem em uma única sala comunitária. “Precisamos de espaço para ampliar, temos mais cursos a oferecer, mas hoje não conseguimos expandir”, conclui.

Sala comunitária onde são realizadas as atividades. Créditos: Nicole Ribeiro.

VIOLÊNCIA DE GÊNERO

De janeiro a setembro de 2024, a Secretaria de Estado da Segurança Pública (SESP-PR) registrou mais de 159 lmil boletins de ocorrência por violência contra a mulher. Em nível nacional, o 19º Anuário Brasileiro de Segurança Pública (FBSP, 2025) apontou 1.492 feminicídios em 2024, o maior número desde 2015, além de 3.870 tentativas, alta de 19% em relação a 2023. No Paraná, foram 109 feminicídios em 2024, contra 81 em 2023.

Créditos: Nicole Ribeiro.
Conversa completa com as voluntárias Cris Nascimento e Elen Cristina.
Sair da versão mobile
Acessar o conteúdo