Alimentos orgânicos apresentam benefícios para a saúde e manutenção do ecossistema. Segundo o Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae), o Brasil é um grande produtor e exportador desses alimentos, com mais de 25 mil propriedades certificadas, sendo 75% delas pertencentes a agricultores familiares. Porém, os orgânicos ainda podem ser vistos como alimentos mais inacessíveis devido ao encarecimento do produto causado pela mediação de grandes mercados que atuam no varejo. A Jornada de Agroecologia, evento popular que promove a agricultura familiar e camponesa, contradiz tal imaginário ao possibilitar a venda de produtos orgânicos por valores mais baratos ou na mesma faixa de preço que mercados convencionais, estimulando o consumo de alimentos agroecológicos.  

A 21ª Jornada de Agroecologia, realizada dos dias 4 a 8 de dezembro, ocorreu no campus Centro Politécnico, da Universidade Federal do Paraná, e teve como lema “A terra livre de transgênicos e sem agrotóxicos”. O evento é uma parceria entre movimentos sociais, do campo, populares e organizações não-governamentais do Paraná, e busca divulgar a causa, assim como promover as lutas envolvidas com a agroecologia e a reforma agrária, tendo como um dos principais focos a produção de alimentos. 

Os alimentos orgânicos são produzidos a partir da contemplação do uso responsável do solo, da água, do ar e outros recursos naturais. De acordo com o Ministério da Saúde, “ao adquirir produtos orgânicos, o consumidor leva para casa alimentos saudáveis, cultivados em sistemas produtivos livres de agrotóxicos e materiais sintéticos e contribui para o fortalecimento de um novo modelo de produção […], em que se leva em conta diversas questões fundamentais à sobrevivência do planeta”. Desta forma, os alimentos são opções mais saudáveis e de maior valor nutricional para o consumidor. 

Limites de acesso  
 
Apesar de garantirem maior bem-estar físico, muitos consumidores relatam a dificuldade de encontrar alimentos orgânicos em mercados convencionais com preços dentro do orçamento.  

 
                   

“É difícil de comprar, menos acessível”,

Polyana Grossl, estudante

A estudante Polyana Grossl afirma que, apesar de gostar muito, não consome alimentos orgânicos. “É difícil de comprar, menos acessível. E, inclusive, até de encontrar”. 

Para Adriano Gonçalves, consumidor de produtos da Jornada Agroecológica, faltam políticas públicas em favor de produtores de alimentos orgânicos e que, por isso, os produtos chegam de maneiras menos acessíveis financeiramente para a população. “Tem que ter esse apoio tanto para o produtor, também para que ele chegue com menos preço a quem precisa consumir, especialmente a alimentação orgânica nas escolas, nas compras públicas, é muito importante”, argumenta. 

Preços da Jornada 

Diferente da produção para varejo, disponível em grandes redes de mercado, a Jornada de Agroecologia incentiva a venda direto do produtor. Ao eliminar o intermédio, eliminam-se custos de logística, tais como transporte, armazenamento e margens de lucro da rede, associados à venda em larga escala. Com isso, os preços se mantêm em uma mesma faixa de preço dos alimentos convencionais.  

Jornada de Agroecologia propõe compromisso coletivo pelo enfrentamento da crise ambiental. Foto: Giuliano Boneti

A pesquisa comparativa realizada na Feira e em alguns dos mercados tradicionais de Curitiba revela uma diferença significativa nos preços dos alimentos consumidos diariamente pela população. O quilo do pinhão, um produto típico da região, custa R$ 6,00 na Jornada, enquanto nos mercados tradicionais o preço salta para R$ 9,90, representando uma diferença de 65%. Já a banana-maçã, outro item bastante procurado, é encontrada a R$ 6,00 o quilo na Jornada e a R$ 8,00 nos mercados, uma diferença de 33%. 

É mais do que alimento, é saúde”

Delfino José Becker, produtor

Delfino José Becker é produtor de arroz orgânico de três tipos, branco, vermelho e preto. “Tento sempre participar com meus produtos, porque são mais do que produtos da reforma agrária, são também mais saudáveis, livres de agrotóxicos. É mais do que alimento, é saúde.” Segundo o agricultor, a produção envolve todo um sistema de defesa dos minerais, com sementes orgânicas, respeito à natureza e cuidado com o destino da água. Tendo o consumidor como destinatário direto do produto, Delfino afirma que consegue oferecer o arroz negro, por exemplo, por menos da metade do preço do que é encontrado em mercados convencionais. 

Para a feirante Jéssica Cardoso Silva, da agricultura familiar Boa Ventura Orgânicos, a tentativa é manter preços acessíveis. Ela observa que alguns produtos que comercializa são de menor preço do que os convencionais. “A gente está sempre comparando para não ficar por fora da realidade [dos preços], por exemplo a banana: têm redes de mercado em que elas (as diferentes qualidades) são mais caras do que a nossa”, explica “a ‘da terra’, nós vendemos por 10 reais o quilo, mas tem mercados que estão vendendo por 15 ou 16 reais”. Ela diz que tenta tornar justo tanto para o agricultor quanto para o consumidor. 

O Ministério do Desenvolvimento Agrário e Agricultura Familiar ressalta a crescente adoção de métodos agroecológicos na produção de alimentos como uma forma de conduzir e gerir a produção rural. “Na prática, a agroecologia proporciona alimentos mais saudáveis e variados à mesa dos brasileiros, contribuindo para o combate à fome e à desnutrição, ao mesmo tempo em que impulsiona a economia local”, afirma o órgão. Assim, a prática também traduz uma alternativa viável aos produtores ao reduzir a dependência a insumos externos e aumentar a resiliência de suas culturas diante das mudanças climáticas. 


Ficha Técnica

Reportagem: Alice Lima, Ana Clara Osinski, Giuliano Boneti, Isadora Kovalczuk e Vitor Beninni

Orientação: Cândida de Oliveira