Marcha no Centro de Curitiba marca abertura da 21ª Jornada de Agroecologia  

Reunindo movimentos populares, o evento começou com mobilização pelo direito à terra, moradia e alimentação saudável

A agroecologia é prática, movimento e ciência que busca promover a produção de alimentos saudáveis e a segurança alimentar, relações sociais justas e cuidado com o meio ambiente. Foto: Alana Morzelli

 “Terra pra produzir alimentos saudáveis! Casa pra morar e ter dignidade! Solidariedade aos povos em luta!”. Esse foi o tema da Marcha que, nessa quarta-feira, 04, simbolizou o início da 21ª Jornada de Agroecologia em Curitiba. O ato começou às 8h da manhã, com café da manhã agroecológico na Praça Tiradentes, no centro da cidade, e seguiu em marcha até Praça Nossa Senhora de Salette, no Centro Cívico.  

Criada em 2001, a Jornada de Agroecologia é fruto de um amplo processo de diálogo envolvendo movimentos sociais, organizações populares, coletivos do campo e entidades não governamentais no Paraná. Ao longo de sua trajetória, o evento consolidou-se como uma articulação política que promove o debate e a prática da agroecologia, conectando diferentes atores sociais em torno de um modelo sustentável e inclusivo. 

Com a participação de movimentos como o MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais sem Terra), a resistência indígena e coletivos urbanos, a mobilização de abertura da Jornada destacou pautas como despejo zero, regularização fundiária, direito à moradia e acesso a serviços essenciais. No destino da Marcha, no Palácio das Araucárias, parte do público participou de uma audiência com autoridades legislativas, reivindicando soluções concretas para as demandas apresentadas.  

Um grito por direitos 

“Só avançaremos quando tivermos sinergia entre campo e cidade para essa construção plena”

João Damasceno, dirigente nacional do MST-PR

Para o dirigente nacional do MST no Paraná, João Damasceno, a marcha simboliza mais do que a abertura da Jornada. “Estamos aqui anunciando a Jornada para a sociedade, mas também pautando questões fundamentais como terra, moradia e trabalho, que deveriam ser direitos universais”. João Damasceno destacou que a agroecologia representa o bem-estar tanto no campo quanto na cidade, promovendo a produção de alimentos saudáveis que atendem às necessidades urbanas. “Só avançaremos quando tivermos sinergia entre campo e cidade para essa construção plena”, ressalta.  

Damasceno salientou que questões como terra, moradia e trabalho são fundamentais e deveriam ser tratados como direitos universais. Para isso, destaca que o diálogo com o poder público para solucionar conflitos agrários e urbanos é essencial. “Nossa intenção é negociar com as autoridades para buscar soluções para os conflitos sociais, que devem ser tratados como questões de política social, não de polícia”. 

A educadora do campo Elizandra Fygsanh Freitas, representante da resistência indígena no MST, trouxe à marcha a pauta da demarcação de terras indígenas e o papel das mulheres no cuidado com a natureza. “As mulheres foram as principais responsáveis por guardar as sementes para plantar”, relembra. Elizandra ressaltou que, em pleno século XXI, comunidades como Terra Indígena Rio das Cobras ainda enfrentam dificuldades para demarcar seus territórios, uma questão que estará nos debates da Jornada. “E a gente vai brigar”, alerta a educadora. 

Resistências políticas e demandas sociais estiveram presentes na marcha. Foto: Alana Morzelli 

Resistência ao retrocesso 

 
A marcha também questionou políticas públicas que criminalizam ocupações de terra e favorecem a especulação imobiliária. João Pedro Ambrosi, militante ambiental, criticou o cenário atual. O ativista denuncia que “enfrentamos retrocessos legislativos, como projetos que criminalizam ocupações de terra e retiram direitos básicos, como vale-gás e Bolsa Família, de quem luta por moradia”. Ambrosi relacionou essas medidas à luta territorial, enfatizando que ações como a campanha “Fora Essencis” – grupo que luta contra o Lixão da Essencis, localizado no bairro CIC em Curitiba – são fundamentais para combater a degradação ambiental e garantir o direito à terra para comunidades locais. 

A edição deste ano da Jornada aborda os impactos da crise ambiental e a agroecologia é apresentada como uma forma de frear os efeitos desses eventos. Foto: Alana Morzelli

A edição de 2024, que se estende até o dia 8 de dezembro, será palco de seminários, oficinas, shows e feiras agroecológicas. Toda a programação ocorre no campus Politécnico da Universidade Federal do Paraná (UFPR) e está aberta ao público. Com uma programação diversa e nomes como Leonardo Boff, filósofo e escritor brasileiro, e João Pedro Stédile, economista e ativista, a 21ª Jornada de Agroecologia reafirma seu compromisso com a luta por justiça social, direitos humanos e um modelo sustentável de produção e convivência. 

Serviço  

As atividades fixas ocorrem de 4 a 8 de dezembro no Centro Politécnico da Universidade Federal do Paraná, em frente ao prédio da administração. Avenida Coronel Francisco H. dos Santos, n. 100, bairro Jardim das Américas – Curitiba (PR). A programação completa está disponível no site oficial da Jornada: jornadadeagroecologia.org.br

Ficha técnica

Entrevistas: Alana Morzelli 

Produção: Gustavo Gomes 

Imagens: Gabriel Costa e Alana Morzelli 

Reportagem: Sophia Martinez 

Edição: Marya Marcondes 

Orientação: Cândida de Oliveira

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