Nomes de ruas em homenagem a repressores do regime militar podem ser alterados

No Cristo Rei, em Curitiba, avenida carrega o nome do Marechal Humberto de Alencar Castelo Branco, primeiro presidente da ditadura militar.

A Comissão da Verdade, órgão que investiga violações de direitos humanos ocorridas entre 1946 a 1988, estuda um projeto para mudar nomes de ruas e locais públicos que homenageiam figuras do regime militar. A medida já é discutida em São Paulo, Minas Gerais e Paraná pelas comissões de cada estado.

Em Curitiba, a Câmara Municipal não foi notificada formalmente sobre o projeto, embora tenha confirmado interesse em dar andamentos às alterações. Segundo a assessoria do vereador Paulo Salamuni, presidente da Câmara, a decisão ficou conhecida porque estava presente na ata em uma reunião.

Segunda Vera Karam,  da Comissão Estadual da Verdade, a ideia já é discutida desde a instalação do Fórum Paranaense de Resgate da Verdade, Memória e Justiça, em 2012, mas ainda não há nada decidido e concretizado para a cidade. Ela conta que outros países que passaram por regimes de repressão já adotaram medidas parecidas – como Chile, Alemanha, e países do leste europeu. “O Brasil teve um processo tardio com essa questão”, afirma Vera, que também é professora na UFPR. “Agora o país está olhando para o passado e processando tudo. É o tempo que precisou para a questão amadurecer”, conclui.

Em São Paulo, a rua Sérgio Fleury, que faz referência ao chefe do Departamento de Ordem Política e Social (Dops), vai receber o nome de Frei Tito, uma das vítimas de Fleury.

Na capital paranaense, o caráter das substituições nos nomes dos logradouros públicos ainda não foi decidido, mas Vera apoia a medida paulista. “Acho razoável que isso aconteça. É uma atitude de justiça”, diz.

No Cristo Rei, em Curitiba, avenida carrega o nome do Marechal Humberto de Alencar Castelo Branco, primeiro presidente da ditadura militar.
Foto: Victor Parolin

Alterações

A mudança de nomes de rua normalmente ocorre através de solicitação de um morador, passando por aprovação da Câmara de Vereadores. Depois, é feito um levantamento com os moradores para verificar se a maioria está de acordo com a alteração. O representante administrativo da Secretaria de Urbanismo Luiz Cláudio Capote, porém, diz que esses casos são raros e escolhas de nomes ocorrem mais com ruas novas.

A comunidade também terá participação na mudança proposta pela Comissão da Verdade. A população poderá opinar e comentar, além de ser levada a dialogar com a comissão. “A comunidade precisa entender a mudança”, diz Vera Karam.

Planos futuros incluem identificar e buscar personagens do período da ditadura para fazer um relatório das histórias, transformando os relatos em texto, imagem e documento. Há propostas também de construir locais de memória.

Marcas da Ditadura

Na cidade de Curitiba, vários pontos muito conhecidos já foram usados por militares no passado. A praça Rui Barbosa foi prisão para pessoas contrárias ao regime. Próximo ao local funcionava uma unidade do Exército onde aconteciam torturas – hoje a estrutura da lugar a um shopping center.

Outro projeto discutido pretende criar totens em lugares que, ao contrário, foram utilizados pela resistência ao governo, como a Igreja do Guadalupe e a Boca Maldita.

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