A avenida Victor Ferreira do Amaral passa por obras desde o início de 2024. As obras do Novo Inter 2 e do Complexo do Tarumã abrangem 3,8 km da via que conecta Curitiba com cidades da Região Metropolitana, como Pinhais e Piraquara. Com os trabalhos para a implantação de uma faixa extra destinada ao transporte público, ambos os sentidos estão em pista única. Essa situação atinge usuários do transporte público que utilizam as linhas da região.
No sentido Curitiba – Pinhais, a única faixa transitável no trecho entre a rua Dom Manuel da Silveira D’elboux e a rua Professor Eduardo Corrêa Lima é a faixa da esquerda. Os seis pontos de ônibus do trecho se tornaram inutilizáveis, obrigando as pessoas a esperar os ônibus na faixa que está em obras. Esses usuários do transporte público são submetidos a conviver com diversas condições climáticas e ao maquinário da obra.
A estudante do Colégio Estadual Paulo Leminski, Heloísa Tiller, 15 anos, utiliza o transporte público para chegar até sua casa em Piraquara. Ela diz que o principal problema é a falta de conforto na espera. “A aula acaba lá pelo meio-dia, então é bem complicado ter que ficar no sol e no calor. Quando chove também é bem ruim, tem que ficar só com o guarda-chuva”.
A estudante ainda cita o intenso trânsito da avenida, que torna a espera ainda mais demorada. “Até o ônibus chegar no ponto leva um tempão. Daí quando ele chega é aquela loucura para entrar logo”, afirma.

O tempo de espera para ônibus na faixa em obra. Foto: Matheus Neme – Jornal Comunicação
Público-alvo não é considerado
A avenida é um ponto muito movimentado de Curitiba, concentrando escolas, faculdade e shopping, além de ser uma das principais rotas de quem vem da Região Metropolitana. No mês de setembro, a linha Piraquara/Santos Andrade registrou mais de 175 mil passageiros, segundo dados da Agência de Assuntos Metropolitanos do Paraná (Amep).
Com todo esse impacto na avenida, a Urbanização de Curitiba (Urbs) disponibilizou linhas de ônibus temporárias e promoveu desvios. Porém, as linhas metropolitanas, gerenciadas pela Amep, continuam com a sua rota habitual. São essas linhas metropolitanas como Pinhais/Guadalupe e Piraquara/Santos Andrade que recebem uma grande quantidade de passageiros. Além disso, a implantação, relocação e manutenção das paradas de ônibus localizadas em Curitiba são de responsabilidade da Urbs.
O motorista de ônibus Luiz Fernando Jordão, 35 anos, trabalha na linha Piraquara/Santos Andrade. Ele comenta como as obras vêm atrapalhando não só o cotidiano dos passageiros, mas também o dos motoristas. “Tem motorista que está bem estressado, pedindo para trocar de linha, não aguenta mais passar ali, porque não anda né. Ali é uma loteria, tem dia que você leva 50 minutos e tem dia que você leva 2 horas”.
Além de todo o desgaste causado, Luiz Fernando fala sobre as preocupações que a situação gera. “Não tem sinalização, não tem nada. Arrancaram tudo os pontos de ônibus e deixaram as pessoas à mercê. Dia de chuva então, nem se fala, chegam tudo molhado, os ônibus atrasam e fica essa bagunça”, relata.

Toda essa situação faz com que as melhorias prometidas com as obras não sejam levadas em conta pelo usuário do transporte público que utiliza as linhas afetadas. O Novo Inter 2 e o Complexo do Tarumã são projetos que visam a melhoria do transporte público, porém a sua execução causa impactos negativos nesse tipo de transporte. Desde o início do ano, as obras são motivos de polêmicas e reclamações.
Segundo a engenheira civil Patrícia Monteiro, além da falta de conforto, a segurança das pessoas entra em risco. “As paradas de ônibus também desempenham um papel importante na segurança, facilitando a operação tanto para os motoristas dos ônibus quanto para os demais veículos que circulam no entorno, ao sinalizar, de maneira clara, a potencial presença e circulação mais intensa de pedestres”, comenta.
A inconveniência
As obras impactam os usuários do transporte coletivo e a todos que passam pela região. O trabalho que envolve ambas as pistas e o transito intenso pode resultar inclusive em uma mudança comportamental negativa. “Se soma a impaciência gerada pelos congestionamentos, tanto por parte dos usuários do transporte coletivo quanto dos demais motoristas, como condutores de veículos privados e motociclistas, o que pode levar a comportamentos mais agressivos”, observa Monteiro.
O primeiro trabalho iniciado foi o do Complexo do Tarumã, com previsão de término para outubro de 2024. As obras ocorrem na altura do Viaduto do Tarumã, para a duplicação da estrutura que vai receber novas estações-tubo para a integração do transporte público, permitindo a conexão entre as linhas de ônibus que circulam na Linha Verde e as que conectam o Centro de Curitiba às cidades da Região Metropolitana. O valor total da obra foi atualizado para mais de R$ 101 milhões em março deste ano.
Logo depois, foram iniciadas as obras para o Novo Inter 2, que estão sendo divididas em lotes. O lote 4 abrange os bairros do Tarumã e Capão da Imbuia, incluindo a avenida Victor Ferreira de Amaral. Dentre os 3.866 metros que serão requalificados, o corte de 40 árvores do canteiro central gerou uma grande repercussão entre a população. Esse projeto faz parte do Programa de Mobilidade Urbana Sustentável de Curitiba, que tem US$ 106,7 milhões em recursos financiados pelo Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID). A obra foi iniciada em novembro de 2023 e tem prazo de conclusão de 18 meses.
O Jornal Comunicação entrou em contato com a Urbs para averiguar o posicionamento da instituição a respeito da situação dos pontos de ônibus da avenida Victor Ferreira do Amaral, porém até o momento de publicação desta reportagem não obteve retorno.
FICHA TÉCNICA
Reportagem: Matheus Neme
Edição: João Marcelo Simões
Orientação: Cândida de Oliveira