Reportagem: Moradores da Ocupação Tiradentes manifestam contra liminar de despejo em frente à Câmara dos Vereadores de Curitiba
Particularmente, gosto de temas sociais inseridos na pauta diária da mídia. Acredito que essa preocupação deve mesmo ser estimulada desde a universidade, diante dos presentes conflitos sociais que permeiam muitas de nossas grandes cidades. Ponto para o jornal e os autores da pauta. No texto, gostaria de chamar a atenção para algumas questões. Por exemplo: o texto afirma, sem citar fonte, que a área em litígio é ocupada por cerca de 800 famílias. Colocando em média que cada uma destas famílias pode ser formada por três ou quatro pessoas, no mínimo, teríamos no local uma pequena cidade, composta por uma população entre 2400 a 3200 pessoas. É muita gente. Números são importantes no texto escrito, mas devem ser cercados de todo cuidado e ter a origem bem clara, pois eles ajudam a dar uma dimensão importante a respeito da notícia publicada. De quem é, portanto, a informação das 800 famílias? Se são mesmo 800 famílias, a estar provisoriamente dentro de uma área pertencente a uma empresa falida, como é que essa população faz para garantir necessidades mínimas do dia a dia como água, despejo de dejetos e lixo? O detalhamento da rotina dos moradores num texto assim enriquece ainda mais o tema.
Por que “ocupação popular”? É ocupação e pronto.
Gostaria de ter lido no texto o posicionamento de um representante da Prefeitura, do governo estadual ou da própria empresa. O texto cita que representantes dos moradores mencionam essas instituições como partes importantes na resolução do problema da ocupação. Porém, em nenhum momento o leitor fica sabendo se a equipe de reportagem tentou contato para saber se as autoridades estão tomando providências para solucionar o caso. Faltou esse outro lado. Há no texto uma informação de que a Essencis tentou ajudar cedendo caminhões para a mudança, mas sem garantir para onde os pertences dos moradores seriam transferidos. No entanto, essa menção é feita de forma direta, mais uma vez sem citar a fonte (foram os moradores que disseram isso ou a empresa?).
Quanto mais claro um texto, no que diz respeito a suas fontes de origem, principalmente as envolvidas na história, menos contestação ele irá sofrer.
P.S. para reforçar:
Só o fato de o jornal ter essa preocupação de mandar repórteres para ouvir esses moradores desesperados por um teto merece aplausos. Isso mostra preocupação social e um jornalista que vive no Brasil, na minha humilde opinião, deve ter essa preocupação, ainda mais numa grande metrópole como Curitiba. A sugestão é que o jornal continue acompanhando essa história, tentando ouvir todos os lados possíveis do embate nas próximas reportagens, além de, dentro das possibilidades, visitar a ocupação para mostrar o dia a dia dos moradores, o que pode trazer histórias de vida enriquecedoras para abordagem do assunto.
Reportagem: Arte feita para ser vendida divide opiniões de especialistas
Tema interessante e bem fundamentado. O autor teve a capacidade de ouvir especialistas do ramo sobre uma polêmica discussão que, com certeza, nunca terá fim. Méritos também para o fato de ter publicado importantes citações bibliográficas de intelectuais renomados a respeito do tema. Notei que, tanto em relação às manifestações dos entrevistados, como dos pensadores da Escola de Frankfurt, o texto procurou oferecer posicionamentos distintos, dando ao leitor a chance de ele optar por uma das linhas de pensamento expostas. Isso mostra que a reportagem, em tema que desperta naturalmente tantos enfoques, não parte para a doutrinação do leitor expondo uma única “verdade”. Gostaria, no entanto, de ter visto também a manifestação de um artista a respeito do tema escolhido. É uma colocação pessoal, que não diminui o trabalho de apuração. Quero enfatizar que deixaria a reportagem ainda mais diversificada.
Reportagem: Resultados da sétima rodada do Campeonato Paranaense de Futebol Americano
Não havia algo mais interessante para anunciar? E pelo jeito, o texto dava conta de sustentar um título mais chamativo. Leio, por exemplo, no segundo parágrafo que a equipe do Paraná HP vai disputar a finalíssima do futebol americano contra o Coritiba Crocodiles. Por que essa informação não fez parte nem da linha abaixo da manchete? As coisas já estavam tão óbvias e previsíveis assim no campeonato, que restou apenas jogar a informação numa espécie de tabelão geral da rodada? Gostei de saber que o pessoal do jornal cobre esportes, ainda mais que uma equipe da Federal participa da disputa, o que denota preocupação com as coisas que acontecem na universidade.
Reportagem: Intercambistas do Ciência sem Fronteiras são aconselhados a usar do “jeitinho brasileiro” para se manter
Assunto envolvendo estudantes universitários da mais alta importância. Um absurdo enquadrar todo um grupo de estudantes enfrentando problemas no exterior como pessoas que “sempre dão aquele jeitinho”. Ponto para a reportagem que foi atrás de personagens exclusivos para detalhar melhor essa situação. Considerei ainda válida abordagem a respeito da falha da Rede Globo envolvendo a estudante que foi usada na reportagem e que depois viralizou nas redes sociais, mostrando toda sua indignação com a manipulação. Senti falta de um melhor detalhamento se a entidade dos Estados Unidos (IIE) é vinculada ou não ao governo daquele país. Percebi que os autores tentaram obter o outro lado, mas sem sucesso. Pelo menos, está lá o registro, este sim importante para deixar o leitor a par.
Reportagem: Falta de mobilização e menores salários afetam funcionários terceirizados na UFPR
Parabéns pela escolha do tema. A ampliação da terceirização no mercado de trabalho, após o encaminhamento das mudanças na Câmara dos Deputados, irá produzir mudanças profundas em todos os setores de mão de obra. Pior para os trabalhadores, uma situação que o texto procura deixar bem claro para o leitor, por meio de pesquisas e ouvindo especialistas. Gostei também da iniciativa de se colocar o posicionamento do empresariado, uma das partes mais interessadas no assunto. Quem quer saber de forma resumida e objetiva o que vem por aí, tem no texto um bom guia a respeito das mudanças impostas na terceirização de serviços. Mas também gostaria de fazer alguns reparos. Noto que a manchete tenta trazer o impacto da terceirização para a realidade da universidade. Mas quando se começa a ler o texto, percebe-se que a abordagem sobre o tema é de caráter geral. Só ficamos sabendo de forma detalhada sobre a situação dos terceirizados da UFPR quase no final do texto. Acredito que aqueles dados poderiam ser inseridos de forma mais destacada nos primeiros parágrafos do texto, até para reforçar o que a própria manchete enfoca.
Reportagem: UFPR enfrenta problemas na separação do lixo
Percebo uma preocupação legítima em dar cobertura a questões sensíveis da própria universidade. Acho legal, pois comunicação se começa mesmo no terreiro de casa. Como estou chegando agora para fazer parte da equipe, quero reforçar apelo para que a universidade continue sendo tema de muitas pautas nas próximas edições. A reciclagem é um dos assuntos atuais que, de fato, não pode ficar de fora da cobertura de um veículo de comunicação. Bacana ouvir os catadores se mobilizarem. Afinal, não é só entregar boa parte do serviço de limpeza para eles e considerar que os problemas estão resolvidos. O texto cita exemplos de como a situação se encontra nos campi da UFPR e aborda pessoas que comprovam que a política de reciclagem realizada atualmente na instituição merece reparos, algo que a representante da universidade ouvida na reportagem garante estar sendo encaminhada, apesar da falta de grana, dado que também chama a atenção. É o típico assunto que não pode cair no esquecimento do jornal e precisa voltar daqui a algum tempo ao site, com a finalidade de saber se alguma coisa mudou.
Reportagem: As tecnologias do futuro
O tema é instigante e convida o leitor, com base nas entrevistas realizadas com os especialistas, a pensar as bases de uma cidade grande daqui a algum tempo. A analogia feita com a franquia cinematográfica De Volta Para o Futuro foi bem criativa e ajuda a chamar a atenção para a reportagem. Os temas (saúde, planejamento urbano e informática) também foram bem selecionados. Mas senti falta da abordagem de um tema muito caro a todos nós, a educação. Partindo do princípio que o jornal é produzido em um ambiente universitário, a questão educacional merece receber tratamento adequado em temas centrais que procuram discutir reflexos na vida da população. No entanto, é uma ressalva pessoal minha e que nada diminui a qualidade do texto em relação a apuração e escrita. As gerações de hoje, mais conectadas do que nunca, devem mesmo ser informadas de tudo o que se passa no ambiente tecnológico, desde as tendências que estão por vir aos últimos lançamentos.
Sobre Dimitri Valle
Dimitri Valle, 41 anos. Está na profissão desde os 18 anos. Ainda estudante, começou a ter contato com a imprensa fazendo rádio escuta e rondas telefônicas em hospitais e delegacias de sua cidade natal, Brusque (SC). Desde então, continua a aprender por onde passou, seja em jornais, rádios e emissoras de TV do Paraná e Santa Catarina. Em Curitiba (que concentra a maior parte de sua carreira), teve passagens nos seus 17 anos como morador desta cidade pelas equipes de reportagem da Gazeta do Povo, Folha de Londrina e emissoras de TV (RIC e TV Iguaçu/Massa). Durante 10 anos, colaborou de forma frequente como repórter da Folha de São Paulo e do site UOL, vinculado a mesma empresa familiar que edita o jornal paulista. Mas hoje, com a internet e a demanda por comunicação de diversos setores de nossa economia, acredita ser possível também dedicar-se a projetos pessoais, como a produção de livros biográficos e textos de reportagens para sites independentes, no caso o “Jornalistas Livres”. Também trabalha atualmente como produtor e repórter freelancer na TV Evangelizar de Curitiba, emissora católica vinculada a Arquidiocese de Curitiba.