A cooperativa, localizada em Londrina, une agricultura familiar e tecnologia em benefício à produção local
O feijão está na base da alimentação dos brasileiros e o Paraná é um dos maiores produtores do grão em todo o país, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Foram 865 mil toneladas só nas safras de 2025 e, apesar do protagonismo do agronegócio na produção e importação de feijão, quando se trata de alimentar a população, a agricultura familiar tem um papel fundamental, sendo responsável por cerca de 42% da produção do feijão, segundo o último Censo Agropecuário de 2017.
Para ampliar esse percentual, a Cooperativa Agroindustrial de Produção e Comercialização Conquista (Copacon), localizada no assentamento Eli Vive, em Londrina, deu mais uma passo importante para o cooperativismo e para a agricultura familiar em outubro deste ano, com a inauguração do Complexo Agroindustrial de Grãos Agroecológicos.
A nova agroindústria do feijão, com capacidade para 40 toneladas, juntamente com a agroindústria do milho com capacidade para 15 toneladas, beneficiarão um total de 55 toneladas de alimentos por dia. Com produções sem agrotóxicos e livres de transgênicos, que prezam pela saúde do solo e uso consciente dos recursos naturais.
Fundada há 10 anos, com o objetivo de organizar a produção e comercialização dos agricultores do assentamento Eli Vive, a Copacon se tornou uma das principais cooperativas da Reforma Agrária do Paraná. São mais de 500 associados e cerca de 5 mil toneladas de feijão, derivados de milho e hortaliças processadas pela cooperativa anualmente, que chegam em diversas escolas do estado por meio de programas como o Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE) e o Programa de Aquisição de Alimentos (PAA).
São alimentos agroecológicos e sem agrotóxicos na merenda escolar dos estudantes paranaenses, um avanço no objetivo do estado de até 2030, a alimentação das escolas ser totalmente orgânica. Conforme o Conselho Federal de Nutrição, são os agricultores familiares e assentados da reforma agrária os dois principais grupos responsáveis pelo aumento da produção de alimentos orgânicos em todo o Brasil.
“Quem produz a maioria do feijão que está no prato dos brasileiros é a Agricultura Familiar”, diz Fábio Herdt, diretor-presidente da Copacon

Salézio Herdt, de 65 anos, é pai de família e agricultor e reside no assentamento Eli Vive desde 2014. Ele conta que nesses 11 anos sua vida mudou completamente. “Eu trabalhava empregado de pedreiro lá em Curitiba e quase passava fome. Aqui, com 10 anos, olha o que a gente construiu, minha vida mudou 100%”.
Salézio produz feijão e fala de como a agroindústria pode melhorar a vida dele e de outros agricultores da região. “É uma conquista, a gente pega um preço bem melhor pela cooperativa e o lucro não fica pra um só, fica para nós todos que somos cooperados na Copacon”.
O empreendimento possibilita uma melhor organização e comercialização da produção local e garante segurança aos pequenos produtores. Com a nova agroindústria do feijão, a cooperativa passa a atender a uma demanda antiga dos agricultores locais.
“Há muitos anos as famílias associadas da cooperativa vêm buscando a construção de uma indústria pra gente não precisar mais terceirizar o beneficiamento do feijão”, diz Fábio Herdt. Ele também fala sobre as vantagens da agroindústria para os produtores, “A gente vai poder receber aqui na nossa cooperativa todo tipo de feijão, ajudando aquele que tem 20 sacos até os que tem 60 ou 600 sacos, podendo estar entregando perto da sua casa e dentro de um contexto de comunidade e cooperação”, afirma.
A agroindústria também inova em termos de tecnologia, com máquinas de última geração que realizam a seleção, limpeza e empacotamento, além de separar o feijão-preto do carioca, e identificar e remover qualquer sujeira ou resíduo da produção, garantindo a qualidade e eficiência no processamento, e o preço justo, valorizando o trabalho dos agricultores.
O novo espaço representa um avanço para a Agricultura Familiar, que cada vez mais vem incorporando alta tecnologia na produção e agroindustrialização de alimentos. Além da modernidade, a unidade irá gerar cerca de 30 novos postos de trabalho para os moradores da comunidade.
Agricultura familiar e Reforma Agrária no Paraná

Responsável pela grande diversidade de alimentos presente no prato dos brasileiros, a agricultura familiar é uma das principais fontes de geração de emprego no campo, representando 67% das ocupações rurais. São mais de 10,1 milhões de postos de trabalho.
O setor também ocupa um papel central no desenvolvimento econômico, sendo a base da economia de 90% dos municípios brasileiros com até 20 mil habitantes, segundo Censo Agropecuário de 2017. Aproximadamente 77% dos estabelecimentos agrícolas no Brasil são familiares, e esses agricultores contribuem para frear o êxodo rural ao manter as populações no campo.
A agricultura familiar também se destaca na produção, em especial, de milho, mandioca, pecuária leiteira, gado de corte, ovinos, caprinos, olerícolas, feijão, cana, arroz, suínos, aves, café, trigo, mamona, fruticulturas e hortaliças. Nas culturas permanentes, o segmento responde por 48% do valor da produção de café e banana; nas culturas temporárias, por 80% do valor de produção da mandioca, 69% do abacaxi, conforme o Censo Agropecuário citado acima.
Na Reforma Agrária, parte da Agricultura Familiar, já são 25 cooperativas, mais de 62 agroindústrias e cerca de 100 associações produzindo alimentos agroecológicos. Ao todo, são 5.400 famílias cooperadas e outras 30 mil famílias beneficiadas pelo cooperativismo.


