qua 24 abr 2024
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Projeto de lei paulista pretende proteger mães discriminadas ao amamentarem em público

O projeto de lei aprovado na semana passada na Câmara de São Paulo prevê multas de R$ 500 aos estabelecimentos que constrangerem ou mesmo proibirem mulheres de amamentarem. Essa proposta surgiu após diversos casos de preconceito que tiveram como resposta manifestações conhecidas como mamaços, nas quais mães se juntavam para amamentar seus filhos nos locais que discriminaram alguma lactante. O PL agora depende da sanção do prefeito Fernando Haddad.

Para Deise Basqueira, mãe, enfermeira obstetra e doula (acompanhante de parto e gestação profissional) há 2 anos, a lei será um marco e precisa ser expandida para o país inteiro, inclusive para Curitiba. Enfatiza que as mães precisam ter muito orgulho de alimentarem seus filhos e não vergonha por serem constrangidas pelas pessoas que enxergam obscenidade num tão ato natural.

Segundo as recomendações da Organização Mundial da Saúde (OMS), é necessário que até os 6 meses de idade crianças se alimentem exclusivamente do leite materno. A partir de então, outros alimentos deverão ser implementados na dieta do bebê, mas o leite da mãe continua sendo muito importante até os 2 anos de vida ou mesmo além dessa idade. Este é um dos importantes embasamentos do projeto de lei paulista.

“Uma fraldinha vai bem”

Isto é o que as mães mais escutam ao amamentar seus filhos em locais públicos, mas Deise rebate “Ninguém gosta de comer escondido e com um pano no rosto. Por que fazer isso com um bebê?”. Fabíola Benetti, 26 anos, mãe, gestante de 3 meses, lactante, doula e consultora de amamentação também pensa dessa forma. Além dessa “sugestão”, destaca outra que ouve com muita frequência “Vai para o banheiro dar de mamar”. E responde no mesmo sentido “quem gosta de comer no banheiro? Eu não faria isso com meu filho”.

Fabíola amamentando seu filho no dia do seu casamento. "Mesmo sendo difícil, não há nada melhor e natural do que a amamentação" (Foto: Acervo Pessoal/Fabíola Benetti)
Fabíola amamentando seu filho no dia do seu casamento. “Mesmo sendo difícil, não há nada melhor e mais natural do que a amamentação” (Foto: Acervo Pessoal/Fabíola Benetti)

Fabíola conta que já enfrentou inúmeras situações de preconceito e discriminação. Na primeira vez que isso aconteceu, sentiu-se realmente incomodada por poder estar causando algum mal a uma senhora que a encarava no shopping. Mas ela continua amamentando seu filho mesmo depois de passar por outros vários constrangimentos, alguns até por médicos que reproduzem preconceitos e desinformações sobre a amamentação. A gestante acha que a exposição do seio ao amamentar é algo extremamente natural e alheio a qualquer outra interpretação.

A origem da discriminação

Deise atribui o preconceito à sociedade extremamente machista e desinformada que as mães têm que enfrentar. Como se quisessem algo além de confortar, aconchegar e alimentar o seu bebê ao expor o seio. “Não há nenhuma intenção sexual neste ato, mesmo que muitos homens e mesmo mulheres não enxerguem assim” diz.

Salienta ainda que, mesmo que seja a minoria dos casos, alguns maridos impedem suas esposas de amamentar em público, esta segundo ela é a situação mais difícil de contornar. Porém, investe no diálogo, na conscientização e no esclarecimento para tentar ajudar.

Como doula e consultora de amamentação, Fabíola orienta várias mulheres que se sentem constrangidas. Explica a elas que a mãe nunca estará fazendo mal a ninguém por dar de mamar ao seu filho, que o vínculo que se cria com esse gesto é muito maior que a vergonha e aos preconceitos que pode enfrentar. Mesmo achando que o projeto de lei é um grande passo para a defesa da amamentação, fica em dúvida quanto à efetividade dele. Aposta que a informação e a conscientização poderiam ser ainda mais eficazes.

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