Incentivos literários em Curitiba encantam leitores e atraem autores nacionais 

Com projetos voltados à literatura e incentivo público, a cidade aproxima a população da leitura.

Bondinho da leitura no centro de Curitiba. Foto: Valentina Copack

Por: Valentina Copack

Eventos literários, bibliotecas públicas e espaços onde a população aproveita a leitura gratuitamente contribuem para que Curitiba seja considerada uma cidade que chama a atenção de amantes da literatura de todo o país. Além dos leitores, os próprios autores que estão ascendendo no cenário nacional da leitura consideram a cidade inspiradora e importante para a valorização da profissão. Profissionais da área da Cultura da capital do Paraná, como o diretor da biblioteca Pública do Paraná, Luiz Felipe Leprevost, também buscam aproximar cada vez mais a população da leitura. 

Em 2024, pela pesquisa “Cultura nas Capitais”, foi realizado um levantamento que analisa a participação do público em atividades culturais nas capitais do Brasil. De acordo com os dados, a atividade cultural mais aproveitada pelos moradores em Curitiba teve relação com a literatura, representando 67% dos entrevistados. Em relação às outras cidades do país, a capital paranaense fica em segundo lugar das cidades com o maior número de leitores, perdendo apenas para João Pessoa, no Pernambuco. 

Esse número considerável de leitores contribui para que a cidade seja a sede de eventos literários como a Bienal de Quadrinhos e o Festival da Palavra, além de também ter sido escolhida para sediar a Bienal do Livro do Paraná em outubro desse ano.  O evento, no entanto, teve a sua primeira edição adiada para 2026 por questões “operacionais, logísticas e impactos das condições climáticas”, de acordo com uma nota publicada nas redes sociais. 

Somente no Festival da Palavra, cerca de 200 autores nacionais marcaram presença e o público geral conseguiu participar de mais de 120 atividades, como oficinas de escrita, exposições e palestras, todas completamente gratuitas. Durante o festival, também foi inaugurada a “Rua da Literatura”, trecho da R. Ébano Pereira que liga a Academia Paranaense de Letras, no Palácio Belvedere, ao Bondinho da Leitura, na rua XV de Novembro. A rua tem o objetivo de traçar um caminho cultural que passa por lugares importantes para a literatura da cidade, como a Livraria Telaranha, Biblioteca Municipal Darcy Ribeiro e a Biblioteca Pública do Paraná. 

Um diferencial da cidade está no acesso à leitura nas ruas, onde a população pode aproveitar da leitura facilmente e de forma gratuita, no bondinho da leitura. O bondinho está no mesmo lugar na Rua XV de novembro desde 1973, sendo um ponto turístico na cidade. Em 2012 o espaço foi revitalizado em uma biblioteca com mais de 2.800 livros, que os leitores podem ler no local ou levar para casa mediante a um cadastro.   

Escritores na cidade

Os incentivos que a cidade oferece a favor da leitura não beneficiam apenas aos leitores, mas também os novos autores. Rafaela Kawasaki veio de Araçatuba, no interior de São Paulo, para Curitiba em 2019, e sempre foi apaixonada por criar histórias. Durante a adolescência, Rafaela morou no Japão, e para ela, a leitura se tornou um refúgio. Isso a fez ter a vontade de causar o mesmo efeito positivo para outras pessoas, mas com suas próprias palavras. 

Rafaela iniciou seus trabalhos na escrita ainda na faculdade de jornalismo, estagiando como repórter em um jornal regional, mas mesmo durante o curso, não deixava de escrever histórias mais experimentais, lançando seu primeiro livro, “Enterrando Gatos”, em 2018. Quando veio a Curitiba, a autora logo percebeu a influência da literatura na cidade. “Aqui há uma cena forte que é encorajadora para quem escreve com coletivos, com editoras, com livrarias de rua maravilhosas, eventos. Em Curitiba, eu tive uma vida literária muito mais ampla e fortalecida. Encontrei uma rede de profissionais da literatura e de pessoas interessadas em livros que me encorajam muito a continuar”, comenta a autora. 

Entretanto, de acordo com Rafaela, faz pouco tempo que a cidade abre um espaço maior para artistas locais, e mesmo quando são abertos, as possibilidades ainda são limitadas. É de costume que os artistas e editoras internacionais sejam mais divulgados em eventos, o que prejudica os autores da cidade e região, principalmente os independentes. Dessa forma, a autora afirma que existe uma valorização dos escritores locais, mas que muito ainda pode ser feito para ajudar os novos autores. De acordo com ela, uma das formas de contribuir para isso é a formação de novos leitores. 

Essa aproximação da leitura com o público mais jovem é essencial, considerando que dados revelados pela pesquisa “Relatos da Leitura no Brasil”, do Instituto Pró-Livro em 2024, pela primeira vez, o número de não-leitores foi maior do que o de leitores, representando uma queda de cerca de 6,7 milhões de leitores em comparação a 2019. 

Rafaela Tavares Kawasaki. Foto: João F Tavares Kawasaki  

Luiz Felipe Leprevost é ator, poeta, cronista e diretor da Biblioteca Pública do Paraná, um dos espaços mais relevantes culturalmente na cidade. Leprevost iniciou seu trabalho na biblioteca em outubro de 2019 e além dos 800 mil arquivos que a biblioteca armazena, o local também é palco de eventos literários como contação de histórias, bate-papos e sessões de autógrafos. Assim como Rafaela, o diretor também concorda com a ideia de que a formação de novos leitores garante a valorização da literatura local. 

“É pensar na biblioteca como um centro cultural, um lugar de pesquisa e acolhimento e dando oportunidades de trabalho. Isso ajuda para que os jovens estejam aqui. Então isso tudo leva a biblioteca além de ser um lugar de silêncio, mas sim um lugar de barulho.”

cita Leprevost.

Editado por: Leticia Negrello

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