A 3ª Marcha das Vadias começou cedo – manifestantes já se reuniam para o evento às 11 da manhã deste sábado (13). A Praça 19 de Dezembro – famosa Praça do Homem Nu – ficou mais conhecida como Praça da Mulher Nua e foi palco da luta feminista. Tomado por manifestantes, o local foi ponto de partida de um protesto que seguiu até a Boca Maldita, passando pelo Paço da Liberdade e pela rua XV de Novembro. Para a Polícia Militar (PM), mais de 1500 pessoas compareceram. De acordo com a organização do evento, foram três mil participantes.
Segundo uma das organizadoras da Marcha, Máira Nunes, a preparação para o evento envolveu mais de cinquenta pessoas. A expectativa era de que o público superasse a adesão nas redes sociais, em torno de 3 mil confirmações. “Este ano a divulgação não foi feita só pela internet, mas também com cartazes nos terminais e nos ônibus”, explicou.
Os gritos de ordem da Marcha não foram só contra o machismo, mas também a homofobia e o estatuto do nascituro. Pelas ruas do centro, os manifestantes entoavam “Se o Papa fosse mulher, o aborto seria legal e seguro”, “Estado laico já”, “E daí? Eu também sou travesti”, “Até o Papa renunciou. Feliciano, a sua hora já chegou” e outros gritos de protesto. Nos cartazes, o assassinato de Tayná, em Colombo, e também de outras mulheres vítimas de violência foram lembrados.
Machismo no dia-a-dia
Laís Machado participou pela segunda vez da Marcha neste sábado. Este ano, ela também integrou a organização do evento. “Sou feminista desde a adolescência. Sempre lutei contra o machismo e a opressão”, diz. Ela conta que já fez parte de movimentos LGBT, mas se envolveu na Marcha por tratar-se de uma manifestação mais abrangente. “Sofro com o machismo todos os dias. Já ouvi colegas questionando como uma mulher pode se atrever a casar com outra mulher e se sustentar sozinha”, conta.
O machismo no trabalho também foi lembrado. As geólogas Andreza da Costa e Carolina Ferreira foram à Marcha pela primeira vez. A participação foi uma resposta ao preconceito que sofrem na profissão, predominantemente masculina. “Meu chefe já me pediu para providenciar a limpeza do nosso local de trabalho, porque eu entenderia melhor disso”, afirma Andreza. Para Carolina, a mulher deve ser dona do seu corpo. “Fui taxada de vadia por exercer minha liberdade sexual. O machismo nos oprime em todos os sentidos”, coloca.
Para a jovem Gabriela Ferreira, o que mais revolta são os padrões estéticos impostos pela sociedade. “Durante o verão, já vi programas de televisão ensinando as mulheres como esconder melhor seus corpos”, relata.
Enegrecendo o feminismo
A Marcha deste ano – a terceira realizada em Curitiba – trouxe também a bandeira da inclusão das mulheres negras no feminismo. A ideia era desconstruir a noção do movimento feminista como branco e de elite. No jornal da Marcha, distribuído aos manifestantes, meia página foi dedicada ao manifesto das mulheres negras de Curitiba. O texto foi lido durante o protesto e destaca a opressão sofrida por negros e negras que vivem na capital paranaense, tida como a “capital europeia do Brasil”.
Letícia de Oliveira é estudante de Pedagogia na UFPR. Ela é negra e escuta com frequência piadas relacionadas à escravidão e ao seu cabelo. Participando pela segunda vez da Marcha, ela conta que viu mais negras no movimento este ano. “Desta vez, a Marcha está se posicionando contra o preconceito racial. No fundo, esses comentários que ouvimos todos os dias são uma ofensa”, conclui.