Foi com as palavras Ja ne que o nosso grupo se despediu de uma das maiores imersões culturais que tivemos até agora. Em japonês, Ja ne quer dizer algo parecido com o nosso “até logo!”, e é assim que queremos lembrar do Japão e das amizades que fizemos por lá.
Foram 32 dias de viagem, 72 horas entre aviões e escalas, 7 voos, 2 barcos, 2 trens-bala e mais viagens de ônibus e metrô do que posso lembrar, mas todo esse deslocamento valeu a pena para que pudéssemos conhecer a realidade de um povo hospitaleiro que consegue manter as tradições milenares de cuidado com o planeta Terra e ainda ser um dos mais desenvolvidos do mundo, especialmente no que diz respeito às tecnologias.
Em Choshi, última cidade que visitamos com o programa, descobrimos que apenas um ventilador eólico é o suficiente para abastecer todo o Instituto de Ciência de Chiba com energia elétrica. Vimos que a cidade inteira, como muitas no Japão, tem a energia eólica como matriz energética principal e que os ventiladores são silenciosos e decorados com mosaicos.
Aprendemos que a tecnologia está aqui para nos ser útil, para manter contato com os que moram longe, nos comunicar com novos amigos e, o mais importante, nos ajudar a preservar a natureza, pois não somos nada sem ela.
É demorado entender como funciona a cultura japonesa. Um mês foi pouquíssimo tempo, o suficiente só para dar um gostinho. A própria língua e a escrita são duas dificuldades que empacam o processo logo de cara.
Mas aos poucos, conversando com os japoneses e tentando entender os motivos por trás das diferenças e contradições que parecem bizarras a primeira vista, aquele modo de vida tão diferente te cativa.
Aos pouquinhos, o carinho e a paciência dos japoneses ao nos explicar como as coisas funcionam por lá vai conquistando. Quando você menos percebe, já não é mais tão esquisito tirar os sapatos antes de entrar em casa e faz todo o sentido do mundo carregar um leque na bolsa em um dia de sol.
Hospitalidade Oriental
Em qualquer lugar por onde passássemos ficava claro que éramos turistas. Não só o rosto nos denunciava, mas principalmente nosso modo de falar, alto demais para o padrão japonês. “Vocês [brasileiros] especialmente falam muito alto. Eu acho que é cultural isso, mas para a gente chega a ser meio engraçado”, comenta Mayu, uma amiga japonesa.
Mesmo chamando a atenção e muitas vezes ignorando ingenuamente detalhes da cultura local (e o povo japonês é conhecido por prestar atenção aos mínimos detalhes), fomos bem recebidos por onde quer que passássemos.
Faz parte da tradição. No congresso do Japão, por exemplo, as portas principais e o magnífico hall de entrada só são utilizados em duas ocasiões: quando o imperador vem em visita oficial ou quando o parlamento recebe convidados de outras nações em missão diplomática. Dentro do parlamento, os convidados sentam-se em um camarote simétrico ao da família real.
Em todas as universidades que visitamos e nas três casas de família que nos hospedaram, fomos tratados com carinho e educação. Todos estavam sempre preocupados se estávamos gostando da viagem, mas em nenhum momento abriram mão de nos poupar das experiências mais diferentes, como colher o próprio jantar, passear de yukata ou relaxar nos banhos públicos.
Antes de ir ao Japão tudo o que eu conhecia da cultura era o que via nos animes do sábado de manhã ou nos novos mangas da Turma da Mônica. Aprendi que esses produtos são um pequeno reflexo que nos chega aqui no ocidente de algo muito maior, que é a valorização da honra, da honestidade e da hospitalidade.
Posso dizer que foram meus novos amigos que, nessa convivência multicultural de brasileiros, americanos e japoneses, fizeram com que abríssemos o olhar para o novo, redescobríssemos o respeito pela tradição e as crenças de uma cultura muito diferente da nossa e, não menos importante, que o mundo é bem menor do que a gente imagina e que, no fim, 72 horas de voo não são nada se comparadas com a experiência cultural que levaremos para a vida.
Portanto, Ja ne Japão! Até logo! Porque, com certeza, um dia vamos voltar. Temos muitos amigos para rever e você ainda tem um monte para ensinar.
O Programa de Embaixador Cultural
Se você é aluno da UFPR ou da PUC-PR você também pode participar do programa de intercâmbio cultural. Não importa o curso e não precisa saber falar japonês.
A parceria entre as duas universidades e o Instituto Kake do Japão já dura 28 anos. Os grupos de embaixadores são selecionados em março e partem para o Japão em julho.
O professor Carlos Siqueira, chefe da Assessoria de Relações Internacionais da UFPR, que nos acompanhou no programa, descreveu perfeitamente como nos sentimos no final desse mês: “Uma imersão na cultura japonesa que não se pode ter em nenhum outro lugar fora da universidade”.
O programa não é uma simples viagem ao Japão, é preciso estar disposto a mergulhar de cabeça em uma nova cultura que nem sempre vai te deixar confortável.
Todas as despesas, exceto passagem aérea e o visto são bancadas pelo Instituto Kake, porém os alunos selecionados devem contribuir com uma quantia que gira em torno dos 3 mil reais e pode ser paga em parcelas. Esse dinheiro será utilizado para bancar as despesas dos alunos japoneses que virão em agosto para a UFPR e PUC-PR no mesmo programa de intercâmbio.
Para mais informações sobre o programa e datas de inscrição, confira o site da ARI se você for aluno UFPR ou da Diretoria de Relações Internacionais se você for aluno PUC-PR.
O departamento de letras japonês da UFPR também pode ajudar com mais informações.