ESPECIAL
Menstruar é um ato biológico. Há diversas opções de itens para a higiene menstrual disponíveis tanto para mulheres quanto para homens e pessoas não binárias que menstruam, como absorventes internos, externos e coletores. O que para todas essas pessoas é uma necessidade básica, para outras é artigo de luxo.
Uma a cada quatro adolescentes brasileiras não possui acesso a absorventes, de acordo com o relatório Livre para Menstruar, produzido pelo movimento Girl Up. No mundo, uma a cada sete pessoas não consegue obter nenhum método para cuidar da menstruação — 500 milhões, no total. Algumas delas sequer sabem que vivem em situação de pobreza menstrual.
Em uma sociedade que trata a menstruação como tabu, o problema não é discutido e acaba sem solução. Ou, por vezes, é até desmerecido, como aconteceu no ano passado, quando o presidente Jair Bolsonaro (PL) vetou uma proposta de distribuição gratuita de absorventes, ao mesmo tempo em que ironizou a causa: “Não sabia, a mulher começou a menstruar no meu governo”.
No início deste de março, pressionado pelo Congresso, Bolsonaro aprovou o repasse de R$ 130 milhões para a distribuição de absorventes em todo o país. O projeto de lei que vinha em discussão pelo parlamento incluía a participação dos ministérios da Educação, da Cidadania e da Justiça, mas o presidente restringiu a extensão da medida.
A pobreza menstrual está ligada a questões econômicas, ao encarceramento e até à evasão escolar. Confira, neste especial, como a falta de cuidados com a menstruação se relaciona com esses aspectos, bem como afeta a vida de quem menstrua.
Um dia, Adriana Bukowski ouviu da filha que uma colega de escola da menina tinha menstruado e parado de ir às aulas logo em seguida. A fotógrafa, então, descobriu que a estudante não possuía condições de comprar itens de higiene menstrual, como ela naquele momento já suspeitava. A partir daí, ela começou a pesquisar sobre o tema pobreza menstrual e, em março de 2020, decidiu, junto com a amiga Andressa Carmo, fundar o coletivo Igualdade Menstrual.
Hoje, a proposta da ação é promover a educação e o acesso a produtos de saúde menstrual a pessoas em situação vulnerável e contribuir para a construção de uma sociedade mais justa, como explica Andressa à repórter Louize Lazzarim. Confira.
Como surgiu a ideia de criar o coletivo?
O grupo começou apenas como um projeto organizado pela Adriana. Ela começou a pensar sobre a pobreza menstrual quando a filha dela, Olívia, chegou da escola dizendo que uma amiga tinha menstruado e parado de ir às aulas logo em seguida. A Adriana foi investigar com a diretoria do colégio sobre a causa dessas faltas e descobriu que a suspeita estava certa: a garota não tinha acesso aos produtos de higiene menstrual. Assim, a Adriana começou a pesquisar mais sobre o assunto e a ter vontade de fazer algo sozinha ou até mesmo fazer pressão aos representantes. Quando nos conhecemos na manifestação 8M, começamos a tirar a ideia do papel, porque não existe luta sozinha.
Atualmente, como vocês fazem a arrecadação dos itens? Alguma instituição patrocina o coletivo?
O início do projeto ocorreu pela realização das vendas de camisetas estampadas por uma amiga da Adriana, a Dayane. Com o recurso arrecadado, compramos absorventes. Agora, temos uma campanha permanente de arrecadação, com ponto fixo de coleta. Além disso, incentivamos doações pelas redes sociais. Também participamos de lives com empresas que, ao fim, acabam fazendo alguma doação.
Assim reunimos produtos para levarmos a vários locais. Uma vez fomos a Porto Amazonas [PR] e conversamos com as moradoras de uma associação. Além da conversa, também levamos coletores menstruais para doação e, ao final da ação, uma senhora veio falar comigo e questionou: “Então eu passei pela pobreza menstrual desde pequena e só não sabia?’ E isso é mais frequente do que imaginamos.
Como vocês receberam a notícia da proposta de distribuição gratuita de absorventes ser vetada por Bolsonaro?
Em junho de 2021, fizemos uma reunião com a deputada federal Rosa Neide, porque ela era relatora do projeto de lei em questão [de Marília Arraes]. O projeto de lei foi aprovado pelo Senado, mas sem recurso, então a lei acaba ficando inválida. A casa aprovou uma lei que combate a pobreza menstrual, mas que, na verdade, não combate nada.
Ele [Bolsonaro] disse que não era de interesse público distribuir absorventes gratuitamente, porque nem todas as pessoas menstruam, sendo que a população brasileira é majoritariamente composta por mulheres, representando 52% do total. Além disso, nós sabemos que não são apenas mulheres que menstruam, existem homens trans que continuam menstruando e há também as pessoas não binárias. Então temos uma população que menstrua muito maior que os dados estatísticos do IBGE [Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística].
A falta de acesso aos absorventes higiênicos é um problema sério no Brasil e no mundo por causar desde a utilização de objetos inseguros para conter a menstruação até restrições em atividades cotidianas. É o caso adolescentes que vivem em vulnerabilidade social e acabam faltando à escola no período menstrual. Segundo a Organização das Nações Unidas, uma em cada dez adolescentes perdem aulas durante o período de menstruação, e no Brasil o número chega a uma em cada quatro estudantes. A perda é de cerca de 45 dias letivos, o que indica que a precariedade menstrual se relaciona diretamente à evasão escolar.
Vários fatores contribuem para a pobreza menstrual nas escolas, sendo a principal delas a falta dos itens de higiene para o ciclo, pois muitas famílias não possuem condições de comprar absorventes. Neste contexto, o item se torna secundário, já que a prioridade das famílias é a alimentação. Sem absorventes, estudantes não possuem condições de frequentarem a escola no período menstrual.
Segundo Andressa, do coletivo Igualdade Menstrual, muitas meninas improvisam com pedaços de pano, papéis e até miolo de pão, o que gera problemas ginecológicos. Além disso, a falta de informação e de sensibilidade sobre o tema, considerado um tabu, impede o debate.
Ainda, muitas escolas não possuem condições de higiene básica, sem pias e lavatórios e, por vezes, sem um banheiro realmente adequado para ser utilizado. Segundo o relatório do Unicef e do UNFPA, três por cento das escolas do Brasil não possuem nenhum banheiro e 713 mil estudantes não possuem banheiro em casa.
A falta de saneamento básico é um dos principais agravantes em relação à pobreza menstrual no Brasil. Conforme dados do relatório de dignidade menstrual da Unicef, são 713 mil brasileiras(os) sem acesso a banheiros em seus domicílios e 900 mil meninas(os) que se encontram sem água encanada.
A falta de garantias básicas de saneamento impede um manejo adequado dos produtos reutilizáveis de contenção de fluxo menstrual — absorventes de pano, coletores e calcinhas menstruais. Além disso, as pessoas sem acesso a banheiros são propensas a realizar a higiene menstrual em ambientes insalubres, como fossas e valas, ficando expostas a contaminação de doenças.
“Na comunidade da Caximba, em Curitiba, as meninas costuram um saquinho com areia dentro e o utilizam como se fosse um absorvente reutilizável. Elas vão trocando a areia conforme menstruam, areia essa que elas pegam da rua. É bem insalubre e nos chocou porque são adolescentes”, lembra Andressa.
Estes fatores levam a diversos problemas para as pessoas que menstruam, como alergias e infecções que podem causar até mesmo a morte, bem como danos emocionais graves, sobretudo se tratando de adolescentes em seu período de desenvolvimento.
Se antes as pessoas que menstruam tinham apenas absorventes como alternativa, hoje existem diversos aparelhos de higiene menstrual. Um deles é o coletor, equipamento que permite maior conforto e segurança.
A estudante de Engenharia de Bioprocessos e Biotecnologia Sarah Thuma começou a usar o copo há um ano. “A minha iniciativa para usá-lo foi o incômodo com o absorvente, porque sempre que eu ficava menstruada, sentia que estava usando uma fralda. Eu não conseguia fazer exercícios físicos direito: sempre que eu saía para correr, por exemplo, sentia que o absorvente estava ‘sambando’ na minha calcinha”, conta. A jovem conheceu o produto que usa atualmente por meio das redes sociais, vendo a postagem de uma blogueira que acompanha.
Apesar da recente popularização dos coletores menstruais, as primeiras unidades datam, aproximadamente, da década de 1930. O primeiro modelo saudável e higiênico para os corpos que menstruam é de autoria da atriz e escritora Leona Chalmers, lançado em 1937. A inventora trabalhou juntamente com ginecologistas e engenheiros para elaborar o chamado receptor catamenial.
Chalmers também foi responsável por realizar as primeiras palestras de educação sexual, não só para vender os copos, mas também para melhorar o conhecimento das mulheres em relação ao próprio corpo. Na época, a medida não foi suficiente para aceitação do produto, levando ao fim temporário da fabricação.
Nos anos 2000, entretanto, alternativas aos absorventes buscaram aderência entre as pessoas que menstruam, devido a recomendações médicas. Junto à popularidade também ocorreu a propagação da ideia de que o coletor poderia ser uma possibilidade para pessoas que passam pela pobreza menstrual.
No começo, a adaptação de Sarah com o coletor foi difícil, já que ela não encontrava uma posição para colocar e tirar o item. Porém, com a prática, a estudante relata ser fácil de utilizá-lo. “Só vi vantagens em usar o copo. Nunca coloquei na ponta do lápis, mas acho que acaba sendo mais acessível do que absorvente, porque você gasta R$ 89 em dois copos que podem ser usados muitas vezes”, explica.
Entretanto, Sarah aponta que, para pessoas em situação vulnerável, o coletor pode não ser a melhor opção: “Não sei se quem está na pobreza tem como ferver o copo, já que ele precisa ser esterilizado”. Andressa, do coletivo Igualdade Menstrual, confirma — e expõe que o grupo não doa coletores para quem não consegue esterilizá-los.
Além do incômodo, a falta de higienização do copo pode causar doenças, tais como a Síndrome do Choque Tóxico (SCT), que decorre do contato com as toxinas produzidas por bactérias que já estão naturalmente presentes na vagina. Porém, quando mal higienizados, os coletores aumentam o risco dos microrganismos se proliferarem e liberarem as toxinas que causam a infecção.
Em relação a mulheres e homens trans em situação de rua, até mesmo a doação de absorventes externos passa por dificuldades, já que muitas das pessoas que recebem o produto não possuem peças íntimas para apoiarem o absorvente. Por isso, coletivos se reúnem para a doação de calcinhas, cestas básicas e, quando a realidade do público-alvo permite, coletores menstruais.
Além disso, há um tabu envolvendo o toque do canal vaginal. Ainda hoje as mulheres são desincentivadas e, mais do que isso, são vistas como pecadoras ao conhecerem seu próprio corpo. Por isso, o coletor é visto, ainda mais, como um inimigo.
Maria Leticia Fagundes (PV) é vereadora de Curitiba e autora do projeto de lei 63/2021, que institui a Semana da Conscientização do Ciclo Menstrual na cidade. Médica ginecologista graduada pela Faculdade Evangélica de Medicina do Paraná e pós-graduada em Ginecologia pela Universidade de São Paulo (USP), a vereadora tem como pautas questões como direitos humanos, saúde, meio ambiente e direito da mulher.
O repórter Eric Rodrigues conversou com Maria Leticia a respeito da pobreza menstrual nas perspectivas políticas e de saúde pública, destacando a importância do debate na sociedade para buscar alternativas e soluções. Confira.
Como você teve contato com a pobreza menstrual?
Sou ginecologista. Na profissão pude conhecer a dificuldade que as mulheres têm de lidar com o fluxo menstrual. Os outros pontos que levam à pobreza menstrual — problemas de acesso, higiene, precariedade — estão interligados ao meu compromisso com a política. Há muito tempo defendo essas pautas, que atualmente ganharam visibilidade no conceito da pobreza menstrual e a igualdade menstrual.
Qual é o perfil das pessoas em situação de vulnerabilidade menstrual?
As populações mais pobres compõem esse perfil. Pessoas que apresentam vulnerabilidade social, que enfrentam problemas de falta de acesso à água e a banheiros higienizados. As mulheres com mais recursos conseguem resolver essa problemática colocando embaixo do tapete.
Essas pessoas não conseguem ter voz: entra nesse contexto da falta de oportunidade que elas têm para se manifestar. Isso reflete a questão política eleitoral também, já que a Câmara Municipal reflete exatamente o que Curitiba é. Curitiba gosta de ser chamada de “cidade inteligente”, mas que cidade inteligente é essa que não cuida das pessoas que vivem em condição de vulnerabilidade?
Qual o problema de não ter absorventes para usar e como isso impacta na questão da saúde pública?
Se você não tem boas condições de moradia e não tem acesso a esses recursos básicos, você adoece mais. Julgo que a gestão pública acaba não enxergando dessa forma. Pratica-se uma saúde gastando mais recursos do orçamento. A saúde de alto custo trata doenças, ao contrário da saúde preventiva, que deve ser colocada como prioridade. Uma possibilidade seria aumentar o orçamento da Secretaria da Educação como forma de tratar saúde. As pessoas, à medida que puderem ter conhecimento de como cuidar delas mesmas e dos que vivem ao seu redor, evidentemente tomarão mais cuidado. O desenho é muito desigual, gastamos muito dinheiro curando, tratando e operando em vez de prevenir.
Qual a importância da efetivação de políticas públicas acerca da saúde menstrual, como a PL 63/2021, de sua autoria?
Quando protocolei o projeto de lei, em março de 2020, fui extremamente ofendida nas redes sociais. As pessoas diziam que eu estava conduzindo um trabalho desnecessário. Isso me dá a certeza de que elas não sabem mesmo o que significa a saúde menstrual, que de certa forma isso repercute até na saúde e na vida delas.
O debate sobre o conceito da pobreza menstrual é muito recente. Nós fizemos um levantamento no Google trends [ferramenta do Google que mostra as palavras-chave mais buscadas em um passado recente] sobre pobreza menstrual. A pesquisa sobre o tema era praticamente zero até março de 2020, e só depois do veto do governo federal [em outubro de 2021] que o tema ganhou uma maior visibilidade.
O projeto 63/2021 tem foco na educação e na conscientização do ciclo menstrual. Orientará não somente quem menstrua, mas a família, as escolas, os professores. Ademais, prevê recursos como forma de oferecer absorventes nas escolas, esses recursos já estão inseridos no orçamento atual, ou seja, não será um custo adicional aos cofres públicos.
A repercussão trará uma discussão da pobreza menstrual sem tabu em nossa sociedade?
Acredito no debate. Quanto mais falarmos sobre a pobreza menstrual, conseguiremos fazer com que mais pessoas entendam… Elas vão aprender e entender quando participarem do debate, mesmo que carreguem consigo ideias preconceituosas e equivocadas. Presumo que podemos transformar toda a sociedade, desde que consigamos aproximá-la ao debate. Algumas coisas já começaram a mudar: por exemplo, o imposto do absorvente já foi reduzido. É a ponta do ‘iceberg’, mas podemos ver algumas coisas acontecendo.
É possível erradicar a pobreza menstrual? Como?
Podemos pensar em várias frentes: pode-se retirar o absorvente da ala de cosmético — como ele é taxado atualmente — e colocá-lo como item de saúde pública. A Secretaria de Saúde precisa desenvolver estratégias. Existem também algumas possibilidades comportamentais, como copo coletor, calcinhas absorventes, além de outras alternativas reutilizáveis.
A menstruação é muito atrelada às mulheres graças ao padrão da cisnormatividade, ou seja, a imposição de que o indivíduo deveria se adequar ao sexo atribuído ao nascer. Assim, menstruar é visto como “coisa de mulher”, mesmo que existam homens que passaram pela transição de gênero e também menstruem, além de pessoas não-binárias.
“Eu odeio que a minha menstruação tão regularmente abale a ilusão de que o meu corpo tem um gênero neutro. Eu odeio que isso torne o meu gênero designado no nascimento imediatamente visível para quem prestar atenção em um calendário”, expõe Sol (nome fictício), de 24 anos, no site do aplicativo Clue. “Quando chega a minha menstruação, a disforia aumenta e fica muito desagradável: não consigo ignorar o fato de que tenho uma vagina. Para mim, os aspectos emocionais da menstruação são tão reais e horríveis quanto os sintomas físicos”, conta.
Apesar desta realidade, a indústria insiste na feminização da menstruação e a sociedade, por sua vez, reprime e encaixota a menstruação numa caixinha exclusiva para a performática feminina. Propagandas de absorventes transmitidas na televisão, por exemplo, não apresentam homens trans ou pessoas não-binárias como parte do público-alvo do produto.
Limitar a ideia de menstruação à cisnormatividade apenas afasta uma grande parte da população menstrual, impactando a saúde física e mental, já que muitos deles param de comprar métodos absorventes, desistem de ir ao ginecologista, fazem uso indevido de medicamentos e até se suicidam — colaborando para a alta da estatística de que homens trans adolescentes têm a taxa mais alta de ideação, tentativa e suicídio da comunidade trans, beirando os 50%, de acordo com o estudo Transgender Adolescent Suicide Behavior (Comportamento Suicida do Adolescente Transgênero), realizado entre 2012 e 2015 chamado, apurado pelo professor Russell B. Toomeydurante.
A pobreza menstrual de homens transexuais, em resumo, está intimamente ligada à transfobia. De acordo com relatório da Transgender Europe (TGEU), o Brasil continua sendo o país que mais mata transexuais no mundo, posição que ocupa há mais de 13 anos. A violência é cotidiana: homens trans relatam agressões físicas, psicológicas e morais sobretudo em lugares públicos (78,2%), mas também no espaço doméstico (63,8%). Os dados são do informe de 2021 do Instituto Brasileiro de Transmasculinidades (Ibrat), em parceria com a ONU, o Instituto Race and Equality e a Revista Estudos Transviades.
Entre as dificuldades enfrentadas pelos homens trans e pessoas não-binárias estão ascender profissionalmente, falta de incentivo para participar do debate e da produção científica e também o apagamento da menstruação.
No Brasil, existem 338 pessoas encarceradas para cada 100 mil habitantes, de acordo com dados do Conselho Nacional de Justiça. Apesar dos problemas amplamente discutidos do sistema carcerário, como superlotação e condições precárias de higiene, ainda há outro aspecto que não recebe tanta atenção: a falta de acesso a itens de higiene menstrual pelas detentas.
“Além de serem poucos e de não ter o suficiente para todas nós, a qualidade dos absorventes era horrível. As que tinham muito fluxo cortavam o lençol, a toalha, as camisetas, para fazer forro para a menstruação, porque não tinha outra opção”, relatou Amália Cristina, ex-detenta do sistema prisional de Piraquara entre os anos de 2012 a 2013, em entrevista a uma reportagem especial sobre o tema produzida pelo Jornal Comunicação.
Assim, os itens de higiene menstrual, apesar de serem de necessidade básica, passam a ser vistos como apenas um custo. Muitos presídios nem mesmo recebem absorventes, enquanto outros recebem em pequenas quantidades. “Ao serem questionadas por que não comiam o miolo do pão, as detentas responderam que seria para produzir absorventes, que quando chegam não são suficientes para o ciclo menstrual completo”, explica Maria Teresa dos Santos, presidente da associação e que mobilizou parentes e amigos do segmento prisional de Minas Gerais, criando o movimento Flores no Cárcere.
Andressa, do grupo Igualdade Menstrual, também escutou histórias sobre o uso do miolo de pão nas penitenciárias. “As mulheres moldam certinho, como se fosse um absorvente interno, colocam o barbante e fica como se fosse um ‘OB’ mesmo, e elas acabam utilizando”, lembra.
Em 2020, a jornalista Jess Carvalho, em reportagem ao Jornal Plural, publicou depoimentos de mulheres detidas na Penitenciária Feminina de Piraquara, na Região Metropolitana de Curitiba, que receberam para uso absorventes vencidos dois anos antes.
O kit de higiene, segundo a advogada da Associação de Amigos e Familiares de Pessoas em Privação de Liberdade, Fernanda Vieira de Oliveira, pode ser entregue somente após cadastro, que demora entre 15 a 30 dias depois da prisão. Ex-detentas ainda relatam que o discurso de que cada uma seria responsável por sua higiene é comum. Isso porque os produtos “deveriam ser trazidos” por meio de familiares, e a fala é até mesmo aplicada em diversas penitenciárias do país.
A política apaga a responsabilidade do Estado de suprir as necessidades básicas das pessoas em privação de liberdade, e ignora o fato do abandono que as detentas sofrem, já que muitas delas sequer possuem assistência familiar.
Esta reportagem especial é resultado da adaptação de um fanzine produzido durante o primeiro semestre letivo de 2021 na disciplina Fundamentos da Comunicação Visual (1° semestre letivo). O material foi editado como atividade do Programa de Voluntariado Acadêmico (PVA). A disciplina e o PVA foram, respectivamente, ministrada e orientado pelo professor Hendryo André.
PRODUÇÃO
AMANDA OLIVEIRA
BIANCA WEISS
CLARISSA FREIBERGER
ERIC RODRIGUES
FRANCISCO CAMOLEZI
LEONARDO SOBRAL
LÍVIA BETIM
LOUIZE LAZZARIM
PAOLA SILVA
POLLYANI BRITTO
EDIÇÃO FINAL
ISABELA STANGA