Para lidar com a questão do lixo tóxico em Curitiba, o Departamento de Limpeza Pública criou, em setembro de 1998, o caminhão de coleta especial. No decorrer do mês, ele visita 24 dos 27 terminais de ônibus da cidade e lá permanece das 7h às 15h, facilitando o processo de coleta e injetando mobilidade no mesmo, visto que viabiliza o seu acesso. O lixo tóxico é uma das maiores preocupações de estudiosos e cientistas, visto que trazem doenças e poluição para o meio ambiente.
São comumente recolhidos medicamentos vencidos, pilhas, baterias, lâmpadas fluorescentes, restos de tinta, toner, solventes, embalagens de inseticidas e, mais recentemente, óleo de fritura que apesar de não ser um resíduo tóxico, pode causar sérios danos ao meio ambiente (veja abaixo).
E a boa notícia é que o projeto gradativamente conta cada vez mais adeptos. É o que afirma Eliane Train, do Departamento de Limpeza Pública. “Em 1999, a coleta mensal era, em média, 700 kg/mês; em 2007, a média foi de aproximadamente 3000 kg/mês”, ou seja, um recolhimento quatro vezes maior do que o inicial.
Os maiores divulgadores
Os próprios usuários fazem questão de, além de dar um destino correto ao seu lixo, conclamar outros a fazerem o mesmo. Irineu Burigo, morador do Campina do Siqueira, precisava jogar fora lâmpadas fluorescentes e foi instruído a fazer uso da coleta especial. “Entre jogar na praça ou levar ao caminhão, eu prefiro levar. Isso é muito bom, assim o pessoal não joga na rua. Com cada um conservando um pouquinho, fica tudo em ordem”, diz Irineu.
O curitibano Hermínio Firmino da Silva também acredita na importância de aumentar a conscientização e, para tanto, coloca a mão na massa. Ele reúne as lâmpadas fluorescentes de todos os moradores de seu condomínio para levá-las mensalmente à unidade móvel, e critica aqueles que não dão o devido valor à coleta seletiva. “Aqui perto tem uma oficina de rádios e televisões, e o funcionário às vezes deixa os tubos das TVs na rua. Eu falei que ele poderia trazer tudo aqui, duas quadras abaixo, mas ele não gostou. Já avisei que eu seu ver isso novamente, vou denunciá-lo”, diz. Hermínio resume de forma bem-humorada sua visão sobre responsabilidade ecológica com a seguinte frase: “A gente já está de saída, não é? Mas e quem vem depois da gente, o que eles vão encontrar?”.
Destino final
A engenheira do Departamento de Limpeza Pública de Curitiba, Carolina Tozetto, explica as particularidades do lixo tóxico. “Os resíduos perigosos são definidos como aqueles que possuem características de inflamabilidade, corrosividade, reatividade, toxicidade ou patogenicidade. Cada tipo de resíduo perigoso deve passar por um tratamento específico, de maneira a neutralizar ou inertizar a característica que lhe confere periculosidade”.
Todo o trabalho de coleta e separação descrito até agora seria inútil caso não houvesse o cuidado certo na fase final. O lixo é encaminhado à CTRI (Central de Tratamento de Resíduos Industriais), na Cidade Industrial, e tratamentos específicos são administrados de acordo com cada tipo de resíduo. Alguns são até parcialmente recicláveis. “Lâmpadas fluorescentes, por exemplo, possuem alguns componentes que podem ser reciclados, mas somente após a recuperação do mercúrio. O óleo de fritura é transformado em sabão; óleos e lubrificantes também podem ser recuperados. Alguns materiais podem e devem ser recuperados, reciclados, transformados”, afirma Eliane Train.
Apesar de geralmente associado à industria e ao comércio, parte do lixo tóxico é gerado em nossas próprias casas. Veja o que aquela inocente pilha jogada no fundo da gaveta ou aquele supostamente inofensivo litro de óleo de cozinha podem causar se não formos cuidadosos na hora de jogá-los fora:
Óleo de cozinha Danifica o encanamento residencial se despejado diretamente no ralo da cozinha ou no vaso sanitário, impede a transferência de oxigênio para a água em córregos e rios (dificulta a vida animal e vegetal do ecossistema em questão), impermeabiliza o solo (impede a penetração da água, dificultando o escoamento da mesma em caso de enchente) e contamina a água em larga escala 1 litro de óleo polui 10.000 litros de água potável.
Pilhas e baterias Contêm metais pesados como zinco, chumbo, manganês e mercúrio (uma das substâncias mais tóxicas conhecidas) e ao serem jogadas no meio ambiente ou em aterros podem romper-se, liberando seus componentes no solo, atingindo lençóis freáticos, etc. Os metais pesados entram na nossa cadeia alimentar pela ingestão de água ou produtos irrigados com a água intoxicada, e causam sérios danos à saúde humana. E para piorar, alguns desses metais têm o chamado “efeito cumulativo”, isto é, uma vez dentro do organismo não há formas de removê-lo.
Lâmpadas fluorescentes – Também contêm mercúrio, é um metal pesado conhecido por afetar o sistema nervoso humano e o meio ambiente, e possui efeito cumulativo.