Quando se fala em música paranaense é impossível não citar o grupo Fato. Desde 1994, o grande objetivo do Fato é trabalhar musicalmente as produções de compositores da cena independente nacional. Sempre trazendo pitadas da música paranaense e demais experimentalismos em suas aventuras musicais.
O Fato já firmou parceria com 43 músicos ao longo dos seus 20 anos de existência, dentre eles Siba (PE), Marcelo Sandmann (PR), Maurício Pereira (SP) e Alexandre Nero (PR) – que fez parte da primeira formação do grupo. Hoje, o Fato é representado por Daniel Fagundes, Grace Torres, Ulisses Galetto, Priscila Graciano e Sergio Monteiro, sendo que todos eles cantam e alternam instrumentos, do violão à tamancalha – instrumento de percussão inventado pelo grupo para simular os tamancos do fandango paranaense.
O Álbum
Agora, devidamente apresentados, vamos ao “Próximo”. Em seu quinto trabalho de estúdio, o grupo Fato mostra que mantém a sua criatividade costumeira afiada, mesmo depois de tanto tempo. O álbum traz uma variedade de arranjos e ritmos para agradar os ouvidos atentos e cativar os ouvintes distraídos, indo do tango à canção.
Nota-se, em “Próximo”, um uso muito maior de elementos eletrônicos e sopros, aliados à tamancalha e a instrumentação tradicional do grupo. Como é visto no interlúdio do tango “Bandida”, no qual um acordeon surge distorcido em meio a sintetizadores e teclados. Esse aspecto é responsável por boa parte do sentimento de renovação que acompanha as 13 faixas do CD.
Um ponto forte do álbum são as suas várias participações especiais. João Cavalcanti canta em “Bandida”, Bárbara Kirchner em “Raiz” e Gabriel Schwartz, do Trio Quintina, é responsável pelas flautas em “A Fio”, uma das melhores faixas do disco. Aliás, “A Fio” traz outro nome de peso: Lenine. Nela, Lenine e Daniel Fagundes alternam vozes, guiados por uma letra de tom existencialista, acompanhados de uma instrumentação sutil e fluida, com arranjos que parecem se desfazer na brisa conforme a música avança e cresce.
O disco é recheado de boas músicas, especialmente na sua primeira metade. “O Homem”, faixa de abertura, começa tímida e cresce com sintetizadores, programações e sopros. “Raiz”, merece destaque pelo ótimo diálogo entre os vocais de Priscila Graciano e Bárbara Kirchner, além do trabalho criativo de Yuri Queiroga que programou e fez loops da tradicional tamancalha do Fato nessa faixa, promovendo o encontro do analógico com eletrônico.
A melancólica “Rumo ao Sumo” (poema musicado de Paulo Leminski) e a cadenciada “Indivídua” merecem destaque graças a suas letras. “Vez Por Outra” segue nesse mesmo caminho e cativa pela aliança entre sua letra e os arranjos mais tímidos e reflexivos, que depois somem para dar espaço às cinco vozes do grupo cantando juntas, na distância.
No time das músicas mais experimentais estão “Carros Blindados” e “Labirinto”, sendo esta última a mais eletrônica do álbum inteiro. Ela abusa dos loops, repetições, beats eletrônicos, sintetizadores e oscilações de afinação. Cada elemento novo é adicionado ao longo da música, sem coexistir ao mesmo tempo, não deixando a faixa “poluída”.
Em termos gerais, esse álbum é um grande passo na carreira do Fato. Em comparação aos trabalhos passados do grupo, esse disco soa muito mais coeso, e consegue aliar as influências gerais deles com novos elementos musicais. “Próximo” tem um tom um pouco mais melancólico do que os trabalhos anteriores do Fato, mas traz essa melancolia em trajes leves. Inclusive, é provável que seja essa a palavra que melhor descreva o álbum: leveza. Esse é mais um disco que prova a qualidade da música paranaense e que pode dar um pouco mais de uma merecida visibilidade para a música local. Indispensável.
O grupo fez um pocket show de lançamento na Livraria Cultura, no Shopping Curitiba, onde o álbum pode ser encontrado por R$ 20.