A banda Farol Cego é composta por quatro garotos curitibanos que veem na música uma forma de contribuir com a cena local, nascida da vontade de fazer música autoral quando metade dos integrantes tocava em um cover de Muse. Leonardo Gumiero (guitarra e vocal), Henrique Neves (bateria), Thomas Berti (guitarra e vocal) e Lucas Leite (baixo) – substituído por Felippe Mileke enquanto está em viagem – se juntaram em fevereiro de 2013 para compor, misturando suas influências. Desde então, lançaram um single, um EP e já fizeram vários shows, mas o que está para vir é o foco principal para a banda. Com lançamento de um EP experimental previsto para o segundo semestre de 2015 e um projeto de primeiro álbum surgindo, eles contaram sobre o sonho de ver o que será a Farol Cego no futuro.
Jornal Comunicação: Qual o momento atual da Farol Cego?
Henrique Neves: A primeira coisa que a gente lançou foi um single com duas músicas, as duas primeiras músicas da banda – que agora já é bem diferente do que estamos fazendo –, em junho de 2013. Evoluímos o som e fizemos nosso EP, que lançado em maio de 2014. São quatro músicas. Agora estamos achando bem nosso caminho, fazendo músicas que são a nossa essência.
Thomas Berti: Agora no fim do ano vamos ficar na chácara do meu avô por 10 dias, gravando sem ninguém por perto. A ideia é gravar músicas dos jeitos mais diferentes possíveis. São músicas que a gente não tem conseguido fazer como banda – duas guitarras, baixo e bateria –, portanto vai ser um EP que não seja necessariamente pra tocar ao vivo. Vamos esgotar todas as nossas ideias bizarras pra depois começar o álbum do zero, uma coisa mais bem pensada, mais específica.
JC: Então nos shows vocês são diferentes do que vocês apresentam na internet?
Leonardo Gumiero: O que a gente apresenta em show muda. O próprio show tem um leque gigante, desde Pouco a Pouco, uma das nossas primeiras músicas, bem mais normal e audível, mais feliz, até jams experimentais.
HN: Eu aconselho pra, quem quer ver quem a gente é, ir mais ao show do que se basear pelo que está na internet, porque tem muita coisa nova que a gente ainda não usou nas gravações.
TB: Tem muita música velha que a gente cansou e adaptou, colocou jams no meio. Agora elas são mais a gente do que quando a música foi feita. Também não temos muitos covers nos shows, mas mesmo assim a gente tenta adaptar e deixar meio Farol.
JC: Qual é cara da Farol? Como vocês definiriam o que tocam?
HN: Nas nossas músicas aparece que a gente está mudando muito rápido. Elas acabam saindo uma diferente da outra, mas todas elas têm alguma coisa que identifica a Farol Cego. Eu não sei o que é, ainda.
TB: Às vezes a gente escuta muito a mesma coisa. Por exemplo, a gente tem ouvido muito BadBadNotGood, uma banda de jazz, e tem saído músicas com influência dela. A gente tem feito muito o que a gente gosta, deixando um pouco de ser tão acessível, pra experimentar.
LG: Justamente porque a gente está nessa fase EP, misturando as coisas.
JC: Fica claro que muito do que vocês tocam vem das suas influências. O que vocês mais ouvem?
LG: Em comum, Grizzly Bear, Radiohead, Alt-J – que está ficando cada vez mais forte –, Tame Impala.
TB: Tem Beatles, né. E tem umas coisas mais eletrônicas, tipo Macintosh Plus.
HN: E a gente também pega bastante influência do que está bem próximo da gente, por exemplo Dunas e ruído/mm.
JC: Da banda, só o Leonardo faz curso de música. A formação acadêmica ajuda na banda ou são coisas diferentes?
TB: Ajuda, principalmente nos vocais, em questão de harmonias, e na hora de compor. Eu faço mais pelo feeling, eu não sei direito o que estou fazendo.
LG: Eu sabia um pouco de teoria antes, mas com o curso eu entendo bem mais. E está ajudando, estou tendo umas ideias de composição que se baseiam nisso. Isso que é o bom da banda: alguém ter a base teórica e alguém não ter, e dessa briga saem as coisas interessantes.
JC: Vocês fazem parte do Coletivo Atlas. Como ele funciona e como ajuda a dar visibilidade para as bandas que fazem parte dele?
TB: Ele surgiu com os integrantes da Dunas, banda que é bem nossa amiga, para lançar as coisas que eles gravavam em casa. Esse ano, eu tive a ideia de fazer dele uma gravadora: gravar nossas músicas e lançar por ele. É um selo que incorpora todas essas bandas: Dunas, Farol, Marrakesh, Veenstra, Cora. A gente tem a ideia de pegar uma casa, no ano que vem, para fazer ensaios, shows, gravações, tudo em parceria. Principalmente com a perspectiva de dar forma para essa cena curitibana.
JC: Considerando o contexto da facilidade que a internet dispõe pra gravar música própria, como é ser músico independente em Curitiba atualmente? O que é isso pra vocês?
TB: Você tem que correr atrás do público. Se você quiser que as coisas cheguem pra você fica meio complicado. Você precisa fazer as coisas acontecerem pra você – por isso, inclusive, a gente quer dar força pro Coletivo Atlas, pra todos poderem crescer juntos.
LG: Por ser tão acessível e por Curitiba ter uma cena tão grande – todo ano saem muitas bandas –, cada uma precisa ter um diferencial na cena independente pra você sair do padrão.
HN: É impossível você crescer nesse meio sozinho. É difícil também porque a gente não tem 100% do tempo pra música, muito pelo contrário: a música fica com a sobra do tempo que a gente tem, porque a gente estuda, faz faculdade. O pouco tempo que a gente tem, tem que correr atrás. Mas a gente gosta e não é um sacrifício, é bem espontâneo. As pessoas têm valorizado o que é diferente.
JC: E qual é o diferencial de vocês?
LG: O nosso enfoque, as influências que a gente mistura. Não é uma banda que ouve muito Radiohead e faz um Radiohead brasileiro. A gente tem a nossa cara.
JC: Qual perspectiva profissional de vocês? Qual o maior sonho da Farol Cego?
HN: O que a gente espera é que dê certo de viver da música fazendo o que você quer e não fingindo ser alguma coisa. E medo, bom, se não der certo não deu, não é algo que se não der certo acabou minha vida.
LG: O sonho não é só viver de música, mas fazer o que a gente realmente quer. Por exemplo, se esse EP maluco for o que a gente possa fazer pra vida inteira.
TB: Tanto que estamos caindo de cabeça, dando tudo pra fazer dar certo.