Milhares de mulheres e homens são agredidos todos os dias por padrões de beleza e imposições físicas. Não é permitido ter cicatrizes, rugas, espinhas, marcas e, especialmente para as mulheres, estrias e celulites são características inaceitáveis. Porém, dentre as mais diversas características tidas como “feias” e “indesejáveis”, a gordura é a que mais incomoda. A palavra gordo (a) é comumente usada como xingamento, como se uma característica física fosse algo errado e motivo para humilhação.
Não é difícil ver sinais de gordofobia, ou seja, sentimento de repulsa e desconforto com pessoas gordas. Se você é gordo, vai ouvir muitas regras sobre como pode ou deve agir. Gordo não pode usar roupas justas, não pode mostrar o corpo, não pode postar fotos de biquíni, e principalmente: gordo não pode gostar de ser gordo. Quanto maior é a aceitação própria, mais revolta ela causa.
Recentemente, a professora Thaís Fonseca de Oliveira postou uma foto de biquíni em seu facebook, com a legenda “Sou gorda e nesse verão vou usar biquíni, sim, e, se reclamar, vai ter topless”. A foto incomodou alguns usuários da rede social e chegou ao cúmulo: vários compartilhamentos e ofensas à Thais por sua “atitude errada”, já que segundo um dos usuários “gordo não deve se expor”.

Após ser ofendida, Thais e uma amiga resolveram organizar um ensaio fotográfico na Urca, Rio de Janeiro, como forma de protesto. Intitulado de “Mulheres Reais”, várias mulheres foram convidadas a participar. O ensaio também contou com a presença da modelo Simone Daher.

Em meio a tanto ódio e críticas, é difícil não ser afetado por problemas físicos e psicológicos. É comum que o bullying aconteça desde a infância e o ódio a si e seu próprio corpo é estimulado. As consequências de tanta humilhação e pressão para emagrecer são gigantescas e afetam diretamente a autoestima. Muitos entram em depressão, se isolam em casa, acabando sofrendo com doenças como anorexia e bulimia, tudo pelo “corpo perfeito”. Com tantas críticas e regras de como devem viver, atividades como dançar, praticar esportes, se relacionar, sexo, e até mesmo sair de casa, se tornam fardos para pessoas gordas – tudo por conta de uma pressão da sociedade.
Comentários gordofóbicos, muitas vezes, podem ser disfarçados com desculpas como “estou preocupado com a sua saúde”, “estou querendo o seu bem” ou “você precisa se cuidar”. Não é possível estar completamente bem com o próprio corpo e saudável mesmo acima do peso considerado por muitos o ideal? Sim, é possível. O Sport England, órgão do ministério dos esportes inglês, lançou uma campanha chamada “This girl can” – essa garota pode. O vídeo retrata diversas mulheres magras, gordas, altas, baixas, fazendo exercícios, e apoia o que muitos já sabem, mas todos deveriam saber: todos os tipos de mulheres podem se exercitar, não existe um pré-requisito.
Uma notícia boa é que, aos poucos, avanços estão sendo feitos e barreiras sendo quebradas. No início desse ano, Tess Holliday, uma das modelos plus size mais bem sucedidas do mundo, foi a primeira modelo dessa categoria a ser contratada por uma grande agência, a MiLK Model Management’s plus-size division Curve.

Mas a questão principal está além desta: ninguém deve opinar e muito menos ofender uma pessoa por uma cobrança social que não leva em consideração o bem estar de cada um. Todo indivíduo é dono de seu próprio corpo e deve ter a liberdade, e o direito, de viver como acha que deve, sem sofrer nenhum tipo de pressão ou repressão por isso. Não precisamos nos encaixar em um molde. Ninguém deve impor o que é bonito ou não, afinal a beleza é completamente relativa e cada um pode ter a sua. O importante é se amar.