O ballet é uma atividade que faz parte do cotidiano de muitas crianças e adolescentes, mas, por trás de uma forma de recreação, a dança esconde uma face obscura. De acordo com o site de informações esportivas CoachUp, uma em cada cinco bailarinas sofrem de distúrbios alimentares. Ainda segundo essa pesquisa, tais doenças estão mais presentes entre meninas de classe média alta, com idade abaixo dos 25 anos.
Ana Paula* (22), estudante de Direito, sofreu por estar acima do peso. Ela começou a dançar ballet por diversão aos 4 anos e parou aos 20, porque se sentia constrangida em algumas situações. “Me incomodava ficar de collant, não queria tirar medidas para os figurinos, nem aparecer em fotografias. Também via meninas que sempre faltavam às aulas em posições de maior destaque”, relembra a ex-bailarina.
De acordo com Ana Paula, no meio profissional da dança a imposição de um modelo corporal afeta ainda mais as bailarinas. “Para quem dança profissionalmente a pressão é muito maior e mais direta, podendo causar exclusão. Conheço bailarinas que passaram anos sem comer pão por medo de engordar”, conta.
Para a psicóloga Solange Oresten, a busca excessiva pelo corpo padrão é prejudicial à saúde da bailarina. “Quando a dança passa de uma atividade de lazer a uma profissão, existe uma exigência maior. Isso faz com que algumas pessoas percam a noção de peso. Um ou dois quilos a mais e a pessoa se sente gorda”, constata Oresten.
A psicóloga também comenta que a família tem um papel importante para evitar essa pressão. “Como são crianças e adolescentes, eles dependem que os adultos aprovem suas decisões. É importante que os pais conversem com os filhos e, se perceberem que há uma pressão, ofereçam outras atividades de lazer”, aconselha.
Pressão profissional
Dora de Paula Soares (81) é diretora da escola de dança Studio D1, em Curitiba, e conta que a exigência física das grandes companhias vai além do peso. “A bailarina tem que ter pés lindos, cabeça pequena, pescoço e membros longos. Algumas companhias ainda exigem certas medidas, tudo para que você não viaje de Curitiba até o Rio de Janeiro para uma audição que ninguém vai te aceitar”, afirma a diretora.
A administradora da escola pensa que a bailarina tem que ser comprometida à dança em qualquer situação, independente do peso. “Quem dança deve ter disciplina, mesmo se o ballet for só um hobby. Nós exigimos esforço, mas algumas bailarinas vem de qualquer jeito, faltam às aulas por três meses”, completa Dora.
*Nome fictício. A fonte preferiu ter sua identidade preservada.