sex 19 abr 2024
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Professora da UFPR explica o funcionamento das armas químicas

Soldados sírios de máscaras aumentaram as suspeitas sobre o ataque químico aos civis.
Foto: iStockphoto/Thinkstock

A suspeita de que o governo sírio usou armas químicas para reprimir os opositores na guerra civil que assola o país levantou discussões sobre esse tipo de armamento. Os conflitos na Síria acontecem desde março de 2011, quando a população mobilizou um levante contra o atual presidente Bashar al-Assad. Cerca de 100 mil pessoas morreram desde então, segundo dados da ONU (Organização das Nações Unidas). Os chefes de Estado da França e dos Estados Unidos acusam al-Assad de ter realizado um ataque com armas químicas à capital do país, Damasco.

As armas químicas representam uma ameaça para a segurança das pessoas e requerem uma regulamentação rigorosa. Entender o funcionamento desse tipo de armamento e quais são as suas implicações mundiais no armazenamento bélico é necessário no trabalho em prol do monitoramento dessas substâncias.

 

Efeitos no organismo humano

O poder destrutivo de um arsenal químico difere dos outros, principalmente, por seu efeito não explosivo. Segundo Elisa Orth, professora do Departamento de Química da UFPR – Universidade Federal do Paraná, as armas desse porte se baseiam no uso de substâncias que apresentem alta toxicidade.

Elisa afirma que existem diferentes armas químicas que podem provocar quatro tipos de efeitos: colapsos no sistema nervoso, impedimento de oxigenação no sangue (com o uso de cianeto), problemas crônicos no sistema respiratório, e irritação nos olhos – no caso de utilização de agentes lacrimogênio e com pimenta.

Fotos e vídeos de crianças e idosos agonizando com problemas respiratórios em Damasco, que se espalharam pela internet, são indícios que motivam o governo estadunidense a condenar o possível uso de armas químicas pela gestão de Bashar al-Assad. Vídeos de crianças com falta de ar, nas mãos de médicos que tentam prestar assistência, exemplificam alguns dos efeitos elencados por Elisa.

Dentre as armas com as consequências citadas, as que agridem o sistema nervoso são as mais preocupantes. Elisa explica que elas inibem enzimas fundamentais que atuam no processo de transmissão dos impulsos nervosos, o que pode causar a morte do indivíduo. “Em geral são fatais e atingem dimensões avassaladoras”, conta. Ela aponta que ainda não existem tratamentos consolidados para curar pacientes intoxicados.

Desconfia-se que o arsenal da Síria seja composto pelo gás Sarin e XV, substâncias desenvolvidas para serem usadas como pesticidas. “Na corrida à produção de armas químicas, os agentes neurotóxicos surgiram como subprodutos do desenvolvimento de pesquisas envolvendo inseticidas/pesticidas”, afirma o químico Luciano Albino Giusti, na revista Orbital de 2009. Essas armas diferem das biológicas que usam indivíduos vivos, como vírus e bactérias, para causar doenças e anomalias.

 

Convenção para a proibição de armas químicas

No site do Ministério da Defesa é possível consular um documento elaborado para o 8º Seminário de Ciência, Tecnologia e Inovação do Ministério da Defesa, intitulado “A Convenção para a proibição das Armas Químicas – CPAQ”, que apresenta dados sobre a situação do Brasil no panorama mundial do armamento químico.

Cerca de 98% dos Estados mundiais assinaram o acordo que proíbe a utilização de armas químicas, entre eles o Brasil. Já na lista dos cinco países que não aceitaram fazer parte da convenção, a Síria marca presença junto com Angola, Egito, Coreia do Norte e Somália. A organização preocupa-se com o “desarmamento, não-proliferação, assistência e proteção e cooperação internacional”, de acordo com o documento.

No período da Guerra Fria, Estados Unidos e União Soviética acumularam substâncias químicas que poderiam liquidar a população mundial por completo. O custo da produção de arsenal químico é muito mais barato comparado às outras formas bélicas, o que explica a escolha. Para combater esses perigos, a organização CPAQ se impôs. O Brasil, por sua vez, conquistou status de líder na luta contra o armamento químico.

No documento, afirma-se que o país não produz mais esse tipo de armamento e nem as tem em estoque. Em 2012, expirou o prazo para a destruição de todo o armamento químico no mundo. Entretanto, cerca de 30% continua intacto. Clique aqui para conferir o documento do Ministério da Defesa.

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