sex 06 dez 2024
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14º Encontro das Crianças Sem Terrinha promove conscientização da luta pela terra 

O evento, que ocorreu em Almirante Tamandaré, região metropolitana de Curitiba, reuniu cerca de 450 crianças paranaenses que estão em acampamentos e assentamentos do MST

“Participar de um movimento de luta pelos direitos das crianças, pelo direito de estudar, de plantar e de não ser discriminado”. Esse é o significado de ser um Sem Terrinha para Vicente Rodrigues Monteiro, 12 anos, que frequenta os encontros Sem Terrinha desde que tinha um ano de idade, acompanhado pela mãe. 

O 14º Encontro das Crianças Sem Terrinha do Paraná reuniu cerca de 450 crianças do Movimento Sem Terra (MST), de todo o estado do Paraná. O evento aconteceu em Almirante Tamandaré, região metropolitana de Curitiba, nos dias 23 a 25 de outubro. Com o objetivo de proporcionar um espaço para que as crianças Sem Terrinha compartilhem experiências, aprendam sobre seus direitos e fortaleçam seu sentimento de pertencimento na luta por reforma agrária popular. Esse é o primeiro encontro após a pandemia e teve como lema “Brincar e Estudar fazendo História por Reforma Agrária Popular”. 

Realizado no mês das crianças, o evento também comemorou os 40 anos do Movimento Sem Terra. O encontro contou com debates, oficinas de arte-educação realizadas por parceiros do MST, apresentações culturais e momentos de lazer pensados especificamente para os Sem Terrinha. 

A diversão é sinônimo de educação no Encontro Sem Terrinha. Foto: Vitória Smarci 

Além das brincadeiras, o encontro foi um espaço para as crianças do Movimento Sem Terra exigirem seus direitos. Foi o que aconteceu na sexta-feira (25), quando as crianças lotaram o Plenário da Assembleia Legislativa do estado (ALEP) para apresentar uma pauta com 20 reivindicações que dizem respeito ao cotidiano dos Sem Terrinha. Entre as principais demandas apresentadas durante a audiência estão a conquista definitiva da terra para as cerca de sete mil famílias acampadas no estado, melhorias nas condições de estradas para o transporte escolar, acesso ao lazer, à saúde e à educação de qualidade. 

A pauta foi elaborada durante as semanas que antecederam o encontro, resultado de rodas de conversa e debates protagonizados pelas crianças. Jaqueline Baim, 36 anos, faz parte do setor de educação do MST e entende o encontro e, em especial, a apresentação da pauta na ALEP, como um momento de formação cidadã para os Sem Terrinha.  “O MST é formado por todos os sujeitos. Esse é o espaço das crianças, onde elas reforçam aquilo que elas têm por direito e muitas vezes é negado a elas”, ressalta Jaqueline. 

Ana Clara, uma vez Sem Terrinha, hoje educadora Sem Terra. Foto: Ana Livia Barboza 

Ana Clara Garcia Lazzarin, 19 anos, graduanda no curso de licenciatura em Artes Visuais na Universidade Federal do Paraná, frequentava os encontros quando era criança. Dessa vez, Ana trocou de papel e aplicou uma oficina de pintura com tintas feitas de materiais orgânicos para os Sem Terrinha. Ela se lembra dos encontros com carinho. “Eu me sentia parte de um todo. A gente só escuta nossos pais falando MST, MST, MST e não entende o que é ser Sem Terra, o que é o MST, quando é criança. E o encontro dos Sem Terrinha nos faz entender que nossos pais são Sem Terras e nós somos Sem Terrinhas. Nós somos organizados como nossos pais são organizados”, diz Ana. 

“Nossos pais são Sem Terras e nós somos Sem Terrinhas.” Ana Clara Garcia Lazzarin, educadora Sem Terra 

Sem Terrinhas reunidos na ALEP defendendo suas reivindicações. Foto: Juliana Barbosa 

 >> Confira a pauta de reivindicações na íntegra: 

Pauta de Reivindicações do 14° Encontro das Crianças Sem Terrinha do Paraná 

Nós, 350 crianças Sem Terrinha, estamos reunidos desde o dia 23 de outubro, representando as mais de 7 mil famílias acampadas e 22 mil famílias assentadas no estado do Paraná. Desde o início do ano de 2024, estamos celebrando os 40 anos do MST, nos preparando para este momento de encontro com estudo, místicas, brincadeiras, momentos de cultura e arte e também de luta para reivindicar nosso direito de brincar e estudar fazendo história por Reforma Agrária Popular. 

Como síntese desse processo construído coletivamente, apresentamos nossa pauta: 

1. Acesso à terra: Assentamento imediato para as 7 mil famílias acampadas no estado do Paraná. 
2. Aprovar o convênio das Escolas Itinerantes, em regime de urgência. 
3. Acesso às escolas no e do campo com um currículo que atenda a especificidade dos sujeitos do campo. 
4. Ampliação, melhorias e reformas das Escolas Itinerantes e de assentamento. 
5. Não tornar as escolas dos assentamentos em escolas multianos ou multisseriadas. 
6. Garantir energia elétrica de qualidade nas escolas, assim como nas residências das crianças, pois muitos ainda não possuem, garantindo qualidade no ambiente familiar, assim como a garantia da produção de alimentos. 
7. Garantia de fornecimento de água de qualidade nas escolas, através de conservação e proteção de fontes, ou buscando outras formas para o fornecimento de água potável. 
8. Garantia de alimentação em quantidade e qualidade adequada, priorizando alimentos orgânicos e produzidos nas comunidades, oriundas da agricultura familiar. Fortalecer e ampliar o PNAE e PAA e ser menos burocrático. 
9. Melhorias nas estradas e nos transportes escolares. 
10. Construção de quadra poliesportiva nas escolas itinerantes e de assentamento, com cobertura e arquibancada, materiais esportivos e pedagógicos. 
11. Biblioteca, com acervo de Literatura diversificado nas escolas do campo. 
12. Acesso à tecnologia na escola, com internet de qualidade, computadores e tablets em quantidade que atenda a demanda da escola. 
13. Formação continuada dos professores, em caráter presencial e financiados pelo estado. 
14. Garantir as políticas públicas de Educação Infantil nos assentamentos e acampamentos. 
15. Acesso a recursos para construção e melhoria de moradias. 
16. Garantir o cadastro do produtor a todos os acampados. 
17. Acesso à cultura e lazer nos espaços de acampamentos e assentamentos: desenvolvimento de projetos, oficinas abrangendo as várias dimensões das artes, música, dança, etc. 
18. Acesso à saúde (UBS, primeiros socorros) em todos os acampamentos e assentamentos. 
19. Acesso a linhas de crédito para fomentar a produção e geração de renda. 
20. Disponibilidade de cursos integrados com ênfase em agroecologia. 

Ficha técnica: 

Reportagem: Ana Livia Barboza e Vitória Smarci 

Edição: Maria Flávia Ferreira 

Orientação: Cândida de Oliveira 

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