qui 26 dez 2024
HomeNewsletter#001 - Entrevista com Mariana Souza

#001 – Entrevista com Mariana Souza

Nas Entre Linhas entrevistou a autora da reportagem "A voz de quem está no front: relatos de uma UTI Covid recém-fechada". Confira na íntegra.

Qual seu nome, em que ano você está do curso de Jornalismo e quanto tempo está no Jornal Comunicação?

Mariana Souza, estou no 3° ano do curso e escrevo matérias para o Jornal Comunicação desde o início deste semestre letivo em que estamos.

Por se tratar de um tema tão difícil, houve uma preparação especial para entrevistá-la? Como foi esse processo?

Não teve uma preparação pelo pelo seguinte fato: eu tinha uma pauta anterior que não era essa das UTI COVID, só que na mesma editoria em saúde. Só que eu percebi que eu não ia conseguir os dados a tempo de entregar a matéria no meu prazo. Então faltava três, quatro dias mais ou menos, para terminar o meu prazo e eu vi que era o momento de partir para uma outra coisa, um “plano b”. Eu acompanho o trabalho da Natália há um tempo já né, eu sabia que ela atuava em UTI covid-19, não mais agora né. Eu estava acompanhando a repercussão do fechamento das UTIs covid pelas redes sociais, vi que o HC, da federal, fechou uma UTI covid, postou nas redes sociais, deu uma repercussão, é um momento de muita emoção, um pouco de alívio enfim. E aí eu pensei, preciso falar com alguém que tenha trabalhado numa UTI covid para saber o que ela tá sentindo, o que que ela pensa. Na verdade, antes Natália eu até tentei contato com HC, pedindo para eles me indicarem profissionais, se eu podia entrevistar alguém sobre o fechamento, só que não consegui resposta a tempo e aí eu lembrei da Natália. Fui conversar com ela e ela topou na hora, me passou o número dela, conversamos e fizemos entrevista. Então uma preparação assim, não, porque não foi a minha primeira opção de pauta e eu fiz em um tempo bem curto. Eu entrevistei ela na sexta-feira e eu escrevi a matéria no domingo e entreguei, ela foi postada na segunda-feira, então não houve assim uma preparação para realizar esse trabalho. É claro que eu já fiz, a minha primeira reportagem no curso lá no primeiro semestre foi sobre saúde, foi na editoria de saúde, é um tema que eu gosto foi sobre o potencial do sequenciamento genético para salvar vidas de crianças com doenças raras. Então foi uma matéria que é um tema que eu tenho interesse e foi uma reportagem muito legal de produzir, então esses temas ligados à saúde são temas que eu gosto muito de pesquisar, de fazer qualquer trabalho. 

É aqui só complementando, mesmo que eu não tenho me preparado de uma forma assim, elaborada, porque a matéria foi meio que um “plano b”, isso não exclui o fato de que a gente tem todo um trabalho contínuo ali de preparação naturalmente durante o curso de jornalismo, então eu me senti ali de certa forma já preparada para fazer uma matéria como essa assim. Eu me senti capaz de fazer uma matéria como esta e eu gostei do resultado. Então a gente tem uma preparação contínua no curso né, para escrever sobre qualquer assunto, em diferentes formatos, então acho que não houve uma preparação um pouco porque não era muito necessário, porque a gente aprende no curso a lidar com diversos tipos de situação e também pela questão do prazo porque o meu prazo era bem curto 

Em vários momentos percebemos que a entrevistada demonstra emoção ao relembrar o que viveu. Foi difícil ouvir os relatos? Você chegou a se emocionar enquanto ouvia?

Olha, sim, isso até se relaciona um pouco com a pergunta anterior, porque eu não tinha muito tempo para produzir essa matéria, essa reportagem. Então eu fiquei muito preocupada em como lidar de uma maneira delicada né, de maneira cuidadosa que o tema merece, mas também ser ágil em captar exatamente o sentimento da Natália, o que que ela tava pensando e transmitir isso para matéria e para o leitor. Então tudo quando eu ouvi, tudo que a Natália falou assim, me bateu de uma maneira muito forte, porque é um relato forte né e a Natália tem a minha idade, então ela viveu tudo isso já, isso é muito doido para mim assim é muito doido. Então eu tinha que escrever, fiz a entrevista na sexta, prometi escrever a matéria no sábado de manhã, eu não consegui, eu fiquei o sábado inteiro digerindo tudo que eu ouvi. E aí só no domingo à noite que eu consegui sentar com calma, ouvir tudo de novo e escrever, então foi um processo assim realmente. Eu me emocionei muito e foi difícil ouvir, mas claro que também tem a questão de pensar que mais do que ouvi, eu imagino o quão difícil foi viver tudo isso né? Então acho que isso de alguma forma me consolou, eu fiquei mal, mas eu pensei não mas para ela deve ter sido muito pior, então eu vou fazer um ótimo trabalho, vou tentar fazer um bom trabalho, para honrar tudo isso que ela falou e tudo enfim né.

Como você correlaciona os aprendizados de sala de aula em relação a fontes com essa sua experiência?

Acho que o que eu mais levei em conta é o fato de deixar a fonte confortável e mostrar para ela a importância desse trabalho, para motivar ela a falar a se abrir. E nem foi tão necessário mostrar muito a importância né, da matéria, porque a Natália sempre foi muito aberta e ela foi muito receptiva, então foi muito legal conversar com ela. Em vários momentos ela citou que tava muito feliz por ter esse espaço, para falar, para contar uma coisa que não é todo mundo que tem interesse de ouvir, não tem interesse em saber, em conhecer, enfim. E também ela falou que foi um processo muito interessante, relembrar tudo isso, todas essas histórias, apesar de serem dolorosa enfim, mas né, muito sofrimento. Mas que mesmo assim foi bom para ela relembrar e reviver tudo isso e lembrar que ela fez parte de algo que é histórico, então isso foi muito legal e eu fiquei muito feliz em ouvir isso dela. Porque eu fiquei muito preocupada em fazer ela acessar memórias tristes e ficar triste e às vezes eu achava que ela ia desistir. A Natália é uma pessoa muito forte e eu me sinto muito feliz de poder ter entrevistado ela. Mas eu acho que eu tentei deixar o mais confortável possível e deixei também sempre claro que ela poderia não responder alguma pergunta se ela não se sentisse confortável, mandei todas as perguntas para ela antes da entrevista e ela falou que tudo bem, topou, respondeu todas as perguntas com detalhes enfim, foi tudo certo, tudo bem.

Você tem alguma dica para quem tem interesse em trabalhar com esse assunto?Não sei se eu sou a melhor pessoa para falar isso porque eu estou aprendendo ainda, aprendendo todo dia, eu ainda sou estudante de jornalismo, ainda não sou formada, não sei se tenho propriedade para falar. Mas eu acho que uma coisa que eu aprendi, que é o principal, não só com esse tema, mas com todos os temas é: você estar disposta a ouvir o que vier assim, não só coisas felizes mas também coisas muito tristes e que vão te deixar mal, mas pensar que você tá fazendo um trabalho que vai ajudar muitas pessoas e que vai fazer as pessoas terem noção de tudo o que aconteceu, algo histórico que aconteceu. Então você tem que ter uma sensibilidade, ter empatia, ter essa disposição de ouvir coisas tristes né, se a fonte quiser falar coisas tristes, deixar ela aberta para falar sobre isso, nesse caso da matéria que eu fiz a gente fala muito sobre luto, sobre o sofrimento de muitas pessoas que passaram pela UTI. Então são temas delicados. Você tem que tentar trabalhar com esse material da melhor forma possível, com muito cuidado, enfim né, como todo tema merece, acho que é isso. A primeira matéria, que eu comentei ali em cima, a primeira matéria que eu fiz quando eu entrei no curso, que foi sobre saúde, eu fiquei muito receosa, mas ainda assim eu tinha muito interesse em fazer sobre esse tema do sequenciamento genético. Eu entrevistei a mãe de uma criança de acho que dois anos, não lembro, um ano pouco, dois anos, que estava com uma doença rara, que não sabia se tinha tratamento e ela decidiu fazer então o exoma, que é um teste genético para entender melhor, tentar chegar no diagnóstico e eu fiquei assim, o que que eu vou perguntar e como que eu vou perguntar? Porque eu não queria mostrar ali que eu só queria saber da história dela. Eu queria realmente entender, ouvi-la, saber tudo que tava passando, como que ela estava passando por aquilo e não só por curiosidade, mas para ajudar a incentivar outras pessoas que estejam passando pela mesma questão, pela mesma coisa. Para esclarecer algo que as pessoas às vezes não sabem que existe ou sabem e têm muitas dúvidas. Enfim, acho que mostrar para a fonte que você não tem interesse apenas de produzir um conteúdo e publicar ele, ganhar muitos views, muitas visualizações na sua matéria, mas sim de expor algo que às vezes as pessoas não sabem, não conhecem, tem muitas dúvidas e que pode ajudar elas de alguma forma, acho que é isso.

Nas Entre Linhas
Newsletter do Jornal Comunicação.
NOTÍCIAS RELACIONADAS
Nas Entre Linhas
Newsletter do Jornal Comunicação.
Pular para o conteúdo