O Guritiba — mostra voltada ao público infantojuvenil que conta com uma programação repleta de atrações teatrais — mais uma vez brilhou como um dos destaques da 33ª edição do Festival de Curitiba. Reunindo famílias, escolas e comunidades em torno de espetáculos que misturam arte, imaginação e reflexão. Com apresentações em teatros e espaços públicos entre os dias 25 de março e 6 de abril, o projeto mostrou que teatro para crianças pode — e deve — ser diverso, profundo e acessível.
Um dos compromissos desta edição foi com a inclusão: todas as peças contaram com tradução simultânea em Libras (Língua Brasileira de Sinais), garantindo que crianças surdas também pudessem vivenciar plenamente as experiências teatrais. Além disso, o Guritiba buscou ampliar o acesso econômico e geográfico do público, ao oferecer espetáculos tanto pagos quanto gratuitos, em diferentes espaços da cidade — dos teatros tradicionais, como o Bom Jesus, a praças e escolas públicas.
Elefanteatro aproxima as crianças da cidade de forma lúdica, acessível e gratuita
Nem o frio nem a chuva afastaram os espectadoresdo Passeio Público no último final de semana, 5 de abril. O motivo? Um enorme elefante cenográfico que tomou conta do parque no espetáculo Elefanteatro, uma das atrações gratuitas promovidas pelo Guritiba, braço infantil e familiar do festival.
Vindos de Belo Horizonte (MG), os artistas do Elefanteatro trouxeram a Curitiba uma experiência de teatro de bonecos ao ar livre, combinando música ao vivo, fantasia e interação com o público. A direção geral e a dramaturgia são assinadas por Eduardo Felix.
O enredo parte de uma imagem potente: um elefante gigante, místico e sagrado, que caminha pelas ruas e carrega dentro de si pessoas resgatadas durante o percurso. No palco a céu aberto — ou melhor, no gramado do Passeio Público — a plateia acompanha a jornada desse ser fantástico em busca de um lugar melhor.
Entre os espectadores estava Michele Lima, professora de 45 anos, que veio de Irati especialmente para acompanhar o Festival de Curitiba ao lado da filha, Cecília Silva, de 8 anos. Michele acredita que cultura é um direito e, sempre que pode, faz questão de trazer a filha para assistir.
Cecília saiu encantada: a parte que mais gostou foi a música e, quando questionada sobre como se sentiu, resumiu tudo em uma palavra forte e direta — “alegria”.
Clássico da literatura em versão musical
Um dos momentos mais afetivos da programação foi a apresentação de “O Menino Maluquinho – O Show”, uma releitura musical do clássico de Ziraldo assinada pela companhia curitibana Tupi Pererê. Com sessões gratuitas nos dias 28 de março e 1º de abril no Teatro Bom Jesus, o espetáculo encantou o público ao costurar a narrativa com as canções de Rosy Greca, em uma homenagem delicada ao autor e à magia da infância. A plateia, formada por pais e filhos, acompanhou emocionada — e, muitas vezes, cantando junto — cada cena, transformando a experiência em um verdadeiro encontro de gerações.

Dinossauros do Brasil transforma ciência em espetáculo para crianças e famílias
Se o palco do Teatro Bom Jesus virou uma verdadeira viagem no tempo nos dias 5 e 6 de abril, a culpa foi dos Dinossauros do Brasil. O espetáculo, parte da programação do Guritiba , usou o teatro como ponte entre ciência e imaginação para apresentar ao público os dinossauros que habitaram o território brasileiro há milhões de anos.
Palhaçaria e reflexão
Já “Ítaca”, de Thiago Andreuccetti — artista com passagem pelo Cirque du Soleil —, apostou em uma linguagem mais poética e filosófica. Em cartaz nos dias 29 e 30 de março, também no Teatro Bom Jesus, a montagem explorou temas como resiliência e destino por meio de um náufrago-palhaço que precisa reinventar sua jornada. Com um trabalho corporal preciso e uma estética minimalista, a peça conquistou até os pequenos mais inquietos

Teatro na infância: um espaço para o desenvolvimento e o afeto
Além do encantamento imediato, o teatro tem um papel essencial na formação de crianças e adolescentes. As experiências teatrais estimulam a imaginação, desenvolvem a empatia, promovem o pensamento crítico e ampliam o repertório cultural desde os primeiros anos de vida. Ao assistir a uma peça, a criança é convidada a explorar emoções, enxergar o mundo sob outras perspectivas e, muitas vezes, refletir sobre questões sociais e existenciais de forma acessível e simbólica.

O contato com a arte durante a infância contribui significativamente para o desenvolvimento emocional e cognitivo, fortalecendo habilidades como escuta, expressão, criatividade e convivência em grupo, explica a psicóloga Mariane Silveira.
Teatro que vai até a escola
O Guritiba também realizou atividades formativas e apresentações em escolas e instituições sociais da capital e Região Metropolitana. As peças “Vida Plástica”, “Yeye & Seu Espelho” e “Dia Claro, Noite Escura” circularam entre os dias 25 de março e 5 de abril, levando teatro, circo e dança para locais onde o acesso à cultura costuma ser mais limitado.
Um festival que fala com todos
Com sessões cheias, propostas diversas e atenção à acessibilidade o Guritiba 2025 reafirmou sua relevância dentro do festival. O programa ofereceu uma variedade de espetáculos que dialogaram com temas contemporâneos e valorizaram a imaginação, a cultura e a formação do público.
As produções destacaram diferentes linguagens artísticas, como música, teatro de bonecos, circo e dança, e foram pensadas para atender públicos diversos, incluindo famílias, escolas e instituições sociais. A descentralização das atividades e o investimento em ações formativas ao longo do ano também contribuíram para ampliar o alcance do projeto, aproximando a arte de crianças, educadores e comunidades.
Ao encerrar sua programação dentro do festival, o Guritiba se consolidou como uma iniciativa que combina criação artística, formação cultural e compromisso com o acesso à cultura na infância.


Reportagem por Larissa Neumann e Milena Hable
Edição:Flavia Keretch