sáb 20 abr 2024
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Alta evasão nos cursos de licenciatura preocupa a UFPR

O índice de evasão nacional chega a 48%. Entre os cursos mais abandonados
estão Física e Matemática. Foto: Divulgação

O índice de evasão nos cursos de licenciatura atingiu níveis preocupantes no Estado do Paraná. Segundo informações divulgadas pelo Instituto Lobo com base no Censo Escolar, 39% dos estudantes que iniciam uma graduação em licenciatura abandonam as aulas. Cerca de 15,3% dos alunos desistem dos cursos a cada ano.

Os dados mostram a clara dificuldade em atrair os jovens para a área da educação e refletem os já muito conhecidos problemas no setor. É o que acredita a professora associada ao departamento de Teoria e Prática de Ensino da Universidade Federal do Paraná (UFPR), Araci Asinelli. Segundo ela, o alto número de desistentes se deve à pouca valorização e às péssimas condições da área. “Trabalho com a formação de professores e pergunto por que eles estão aqui, na sala de aula. A maioria diz que é mais uma opção que o curso oferece, mas não quer lecionar”, conta. “Ao longo das aulas, ocorrem duas situações. Alguns dos que não queriam ensinar acabam se encantando com o magistério e descobrindo a real importância da docência. Outros abandonam a licenciatura”, completa Araci.

O recém-formado Mateus Dubiela estava no quarto período da faculdade quando desistiu da licenciatura em Português/Inglês na UFPR devido à frustração e ao conflito de crenças. O jovem ficou decepcionado com a estrutura e o conteúdo das aulas e com a preparação que recebia. “Nas aulas, víamos teorias e teóricos que falavam sobre situações em sala de aula muito fora da realidade em que o Brasil, ou pelo menos as escolas públicas que eu conheço, se encontra”, explica.

Para ele, as teorias ensinadas se mostravam difíceis se serem aplicadas em turmas com 40 alunos da classe baixa, por exemplo. “Esses alunos estão mais preocupados em ter o que comer do que aprender como escrever”, diz o ex-estudante. Ele ainda afirma que os conhecimentos transmitidos aos futuros profissionais da educação são ultrapassados. “Parece que os professores que tive pararam no tempo ou nunca entraram em uma escola de verdade nos dias de hoje. E eles estavam lá, dizendo como a gente deveria fazer as coisas, mas sem ter ideia de como a escola está hoje em dia”, acrescenta.

O problema apontado por Mateus Dubiela soma-se aos descritos pela professora Asinelli, que também leciona no programa de pós-graduação e mestrado em educação na universidade. Ela coloca a má qualidade do estágio e a violência sofrida dentro das escolas ao lado da desvalorização profissional do professor como grandes responsáveis pela alta evasão. O salário de educador desanima os estudantes e faz com que muitos cogitem atuar no setor privado – quando não os leva a desistir da formação –, o que deixa a escola pública carente de profissionais qualificados. De acordo com o Sindicato dos Trabalhadores em Educação Pública do Paraná (AAP), a remuneração de um professor no estado é de R$ 1.112 por 20 horas semanais de trabalho.

O baixo salário é um dos motivos que deixam as salas vazias nos cursos de licenciatura. Foto: Divulgação

 

Crença na carreira

Ana Paula Gorski é uma das estudantes que não se intimidou com as dificuldades que acompanham a licenciatura. Ingressou no curso de Letras da UFPR com a intenção de dar aula e manteve o objetivo até a conclusão do curso. Ela trabalha como professora há três anos. Para ela, os únicos empecilhos foram as greves ao longo da graduação – uma amostra dos problemas que enfrentaria na carreira escolhida.

Quanto à preparação que os alunos recebem dentro da universidade, ela concorda com os pontos mencionados por Dubiela. “Com relação aos discentes que  querem, efetivamente, ser profissionais da educação, o curso deixa a desejar, pois há muita teoria para pouca prática. O aluno sai da graduação com muito conhecimento, mas com pouca experiência”, alega.

Mateus Dubiela concluiu o curso de Letras, mas voltado para o bacharelado. O jovem leciona em uma escola de inglês particular e não descarta a possibilidade de ampliar a atuação em sala de aula. “Pretendo um dia também dar aula em uma universidade. Não tenho interesse em lecionar em escola regular. Não vejo incentivo suficiente para fazer isso ainda. Mas também é uma possibilidade, dependendo da proposta”, conta.

Para Araci Asinelli, a salvação da educação está na valorização do setor. De acordo com a professora, é preciso tratar o magistério como prioridade, investindo em práticas efetivas que valorizem a formação do professor principalmente para a educação básica, área que mais sofre com a evasão. “A mudança tem que começar pela administração das universidades. Enquanto a educação não for a ‘menina dos olhos’ de todos, nada vai mudar”, lamenta.

 

Em nível nacional

Os números são gritantes não apenas no Paraná. A média nacional de evasão dos cursos de licenciatura é de 48%. Por ano, são 19,6% de desistentes. A Física é a área com o maior índice de abandono, em que 60% dos alunos não chegam a se formar. Literatura Estrangeira e Matemática seguem logo atrás, também com números elevados.

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