sáb 27 abr 2024
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BBB22 evidencia necessidade de debater transexualidade no país

Devido a participação da cantora Linn da Quebrada, programa virou palco de “falsos aprendizados” de demais brothers sobre o tema

O Big Brother Brasil é um reality de entretenimento que começou em 2002 e, hoje, em sua vigésima edição, conta com a segunda participante que se identifica como mulher trans, a atriz e cantora Linn da Quebrada, de 31 anos. Mesmo após ter seus pronomes trocados diversas vezes entre os brothers, o que configura uma forma de violência, Linn continua assumindo um papel de educadora sobre a transexualidade — e dividindo opiniões do lado de fora da casa em relação a tal posicionamento. 

Depois de terem contraído a covid-19, Linn e outros dois participantes, Jade Picon e Arthur Aguiar, passaram por um período de isolamento e entraram depois na casa, o que já é motivo suficiente para que as relações entre os brothers fossem  complicadas. Entretanto, no caso de Linn, a situação é ainda mais difícil. O Brasil  lidera o ranking de ataques transfóbicos do mundo, ou seja, a violência contra pessoas trans, segundo a Defensoria Pública do Estado do Rio de Janeiro (DPRJ). 

As relações da cantora com os participantes é delicada, pois a sister foi chamada de “traveco”, pelo brother Rodrigo Mussi, de 36 anos, e tem seus pronomes constantemente confundidos pela sister Eslovênia Marques, de 25 anos.De acordo com as normas da língua portuguesa, o sufixo “eco” designa algo pequeno, descartável ou até mesmo de baixa qualidade e, além disso, a palavra “traveco” também é um substantivo masculino, ao contrário da forma como Linn da Quebrada deseja ser chamada. 

Ao ser repreendido por outros participantes que estavam presentes no momento do desrespeito, Rodrigo adotou uma postura de “aprendizado” e procurou Linn para buscar respostas do que deve ou não ser dito. Ao passo que muitos apoiam e declaram a importância da representatividade da sister, há também aqueles que comentam o fardo cansativo de educadora constantemente atrelado à ela. 

“À medida que você é sistematicamente agredido e tem o seu direito de ser respeitado perdido constantemente, você vai cansar e se sentir tremendamente frustrado, porque o desrespeito sistemático não é sem querer, é violência”, diz o contador em contabilidade processual trabalhista, coordenador nacional da área de homens trans e transmasculinidades da Aliança Nacional LGBTI+ e Secretário Interino do Instituto Brasileiro de Transmasculinidades (Ibrat), Fabian Algarte da Silva, de 48 anos. 

“Você é atacado em vários ambientes e ainda precisa ser paciente, dócil e cordial para ensinar. A pessoa consegue entrar na internet e ver um ornitorrinco correndo com um ovo numa colher, mas não consegue entrar para pesquisar termos relacionados à identidade de gênero”, complementa.

“Que responsabilidade social é essa que deseja ser isento do erro para poder ser violento novamente com o outro?”, expõe Fabian. Foto: Arquivo Pessoal/Reprodução

Segundo Fabian, a sociedade precisa entender que a importância da representatividade de Linn da Quebrada e outras pessoas trans nos mais diversos locais de fala, como os realitys shows, não se resume ao papel de ensinar o que é a transexualidade, mas sim a de imposição de respeito. “Ela não abaixa sua cabeça ou ignora os erros dos demais participantes, ela se impõe, mostrando que a sociedade que escolhe a ignorância é uma sociedade que prefere a doença, e isso não deve ser aceito”, explica.

Sobre as questões de identidade de gênero, ONGs trans e travestis, como a Antra, Fonatrans, Ibrate (relacionada à transmasculinidade), entre diversas outras, oferecem informações aos interessados a aprender. E, na dúvida de quais pronomes a pessoa deseja ser chamada, se apresente dizendo os seus: “Me chamo Louize Lazzarim, meus pronomes são ela/dela, quais são os seus?”

Louize Lazzarim
Estudante de Jornalismo da UFPR.
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