Confira a crônica de Victor Lobo Guimarães para a matéria de Redação Jornalística I.
O ano é 2022. Chego na triste e acabada Praça Tiradentes, marco zero curitibano. Estou em uma aula de jornalismo e devo realizar a pauta de entrevistar algo que remeta a Catedral Basílica Menor de Nossa Senhora da Luz dos Pinhais. Logo que entro nela vou com o foco de entrevistar aquele que conhece até os piores pecados das pessoas que ali passam, por isso não tive outra pessoa para falar além do padre do confessionário. Eu, um evangélico de carteirinha entrando na maior igreja católica de minha cidade, era lógico que surgiria algo dessa história.
Se você é de Curitiba, talvez saiba pelo menos um pouco da importância desta igreja, caso não seja, saiba que mais 1,5 mil pessoas, em média, passam por ela todos os dias. Fundada pelos portugueses, são mais de 350 anos de história e pode ter certeza que a capital paranaense não seria a mesma sem ela. E é lá que encontro o padre Jorge Ramos, me olhando de dentro de um cubo de madeira com uma cortina aberta. Parece que ele sabia que eu o procurava.
Eu chego já me apresentando e digo o porquê estou ali. Ouço um sotaque difícil de entender, ainda mais com a voz fraca que o sacerdote falava. Ele me elogia e me entrega um papel simples de São Josemaria Escriva. Eu pergunto de onde ele vinha e ele me responde dessa vez com um sotaque indiferenciável: “Sou português”. Em seguida me pergunta se frequento alguma religião e o respondo esperando um sorriso de encontrar um irmão em Cristo, mas sinto uma estranheza no seu olhar. Ele busca saber se já fui da santíssima igreja, respondo que frequentava por causa de minha avó e que sou batizado, mas parei com o passar dos anos. A entrevista começa a ir para um tema que não era meu foco, sabia que a partir dali ele poderia dizer algo que afetaria o meu olhar sobre a Igreja Católica, assim, continuo tentando conhecer mais de sua vida para fugir disso.
Ele me conta que faz parte da Opus Dei, instituição quase centenária que chegou ao Brasil em 1957, fez teologia em Roma e se tornou sacerdote em 1986, em Portugal. Faz apenas um ano que ele veio morar no Brasil e se tornou fixo na Catedral. Ele me disse que recebeu o seu chamado e soube que o Brasil precisava de padres, então veio para cá.
Pergunto se ele sente muita diferença dos fiéis daqui do Brasil para os portugueses. Ele me diz que os dois são parecidos, porque são fervorosos em sua paixão a Deus, e aproveita a oportunidade para me convidar a voltar para a Igreja Católica, para servir e congregar. Desconverso. Apesar da conversa fluir, uma fila (comum para o curitibano) para confessar seus pecados começa a aumentar. Então faço a minha última pergunta sobre como ele vê o centro curitibano, e em tom rápido ele diz: “É lindo”. Confesso que achei estranho alguém dizer isso na situação de pós-pandemia da Covid-19. A resposta marca bem as diferenças de visões que temos, mas no fim, assim como nós dois somos cristãos, somos também, os dois, curitibanos.