qui 25 abr 2024
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Conselho Universitário recusa proposta de tombamento do Prédio Histórico da UFPR

A proposta de tombamento do Prédio Histórico da UFPR, feita pelo IPHAN (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional), foi recusada por unanimidade pelo Conselho Universitário (COUN). Segundo a moção do COUN publicada no mês de março, não há justificativa para a efetivação da proposta.

Maria Luiza Dias é arquiteta e professora da UFPR e acompanhou o processo de pedido de tombamento do prédio histórico, negado pela universidade, e explica algumas razões dessa decisão. Segundo a arquiteta, o pedido de tombamento não era válido. O edifício já havia sido descaracterizado arquitetonicamente com a reforma da sua fachada nos anos 50, e depois disso ainda sofreu diversas alterações e reformas menores. “Os argumentos até são válidos, especialmente em relação ao tombamento por valor histórico, o edifício simboliza a universidade e até foi escolhido como símbolo da cidade, tem força histórica, mas a simbolização dele é válida para o Paraná, então um tombamento federal não tem muito sentido”, reitera.

Além disso, Maria Luiza afirma que o prédio histórico adquiriu uma força tão grande que é efetivamente um patrimônio da universidade e da cidade.  “O prédio já está protegido por lei estadual, está inserido entre dois bens tombados: o Teatro Guaíra e a Rua XV”, diz “em vista disso a UFPR sempre fará um uso responsável do edifício, não faz sentido o tombamento”. Atualmente o prédio central passa por um processo de esvaziamento para que possa se manter conservado como patrimônio histórico da UFPR e de Curitiba. 

Fachada original do prédio histórico da UFPR. (Foto: Arquivo ACS)

Um centenário de história

Antes de ser federalizada, a UFPR era apenas Universidade do Paraná. Instituição privada, fundada em 19 de dezembro de 1912, teve sua primeira sede “oficial” em uma casa alugada na rua Comendador Araújo, onde hoje funciona o Omar Center.  “Lá inclusive tem uma placa dizendo que ali funcionou a UFPR inicialmente”, comenta Márcia Dalledone. Márcia é professora de história aposentada da UFPR e  trabalha com a história da instituição.

Segundo a professora, em pouco tempo a primeira diretoria da universidade – formada por Nilo Cairo, Vitor Ferreira do Amaral e outros integrantes – teve que providenciar uma sede maior, porque a casa foi ficando lotada e era necessário mais espaço. Depois de ter comprado um terreno na Rua Visconde de Nacar, esquina com a Carlos de Carvalho, e estar com um projeto basicamente pronto, a diretoria recebeu uma doação de terreno da Prefeitura numa área mais central. Esse terreno é onde atualmente se localiza o prédio histórico, e onde, na época, ainda não havia a praça Santos Andrade.

Depois de adaptado o projeto antigo, o prédio central começou a ser construído oficialmente em meados de 1913, sendo inaugurado em 12 de Abril de 1914.  “O edifício foi construído aos pedaços, eles fizeram uma parte central e já começaram a ocupar”, diz Márcia “eles foram construindo aos pouquinhos, não tinham o dinheiro para construir inteiro de uma vez”. A professora ainda ressalta que, como a universidade era particular no começo, quem custeava as obras era a própria diretoria, “às vezes até os professores ajudavam a custear a construção com o ordenado deles”, completa.

Hoje o prédio histórico é símbolo da cidade, eleito publicamente como tal em 1999 através de uma votação estimulada pela Prefeitura. Segundo Márcia, esse edifício é emblemático, pois mostra a conquista de se criar uma universidade no começo do século XX, hoje a mais antiga universidade em funcionamento do país. De acordo com a professora, isso não apenas representava uma pungência econômica, mas também uma questão política da importância do estado como centro cultural, um centro de saber. “Esse orgulho que se sentia lá naquele momento de fundação, a gente vê que continua nos paranaenses hoje, orgulho de ter uma instituição centenária que tem um peso do saber, uma importância na ciência como tem a UFPR”, finaliza.

Reconhecimento acadêmico

Mesmo que teoricamente a maior parte dos curitibanos reconheça esse valor histórico, ou ao menos valorize o edifício como símbolo, os mais vinculados ao espaço não tem uma ligação muito forte nesse sentido. Mateus Augusto Gapski cursa Direito na UFPR e comenta que são os alunos mais ativos academicamente dentro da universidade que compreendem melhor o valor histórico do lugar em que estudam. “Aqueles que se envolvem com a faculdade, com o centro acadêmico, acho que têm uma noção um pouquinho maior do valor do espaço em que estudam”, diz “mas a maioria dos alunos, por viver a vida acadêmica só a partir do estudo e das aulas, não tem muito essa noção, eu mesmo não acho que eu tenha”.

Sobre a conservação do prédio, Mateus comenta que a realidade das salas de aula não foge à estrutura de uma universidade federal, mas que no geral o prédio não se encontra tão bem conservado por dentro como aparenta por fora. “A fachada é linda, mas o interior é bem diferente”, afirma.

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