seg 20 maio 2024
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Cota não é esmola: Terceiro encontro da jornada fala sobre políticas afirmativas

Bate-papo com pesquisadores do Núcleo de Estudos Afro-brasileiros aborda o preconceito e a diversidade no ambiente acadêmico

Produção: Ana Rocha e Jonatas Cidreira

O terceiro encontro da 1ª Jornada de Comunicação e Raça aconteceu nesta quinta, 05, no auditório do Departamento de Comunicação (DECOM), onde o tema Políticas Afirmativas foi debatido por Paulo Vinícius, professor e pesquisador do Núcleo de Estudos Afro-Brasileiros (NEAB) da Universidade Federal do Paraná (UFPR), e Judit Gomes da Silva, mestra e doutora em Antropologia e também pesquisadora do Núcleo.

O bate-papo iniciou com uma breve explicação sobre o que é a Superintendência de Inclusão, Políticas Afirmativas e Diversidade (SIPAD), que visa propor, fortalecer e concretizar políticas que promovem a igualdade para as minorias através do sistema de cotas nos vestibulares, mestrados e doutorados.

Paulo Vinícius e Judit Gomes apresentaram um pouco do Núcleo em que atuam, que possibilita a pesquisa e a difusão do conhecimento sobre a cultura afro-brasileira e africana, desempenhando um papel importante na propagação da diversidade e na luta contra o racismo no contexto educacional e na sociedade em geral.

Judit Gomes frisou que foi pelo NEAB que compreendeu como a desigualdade está entrelaçada ao racismo, mudando sua percepção como pesquisadora e mulher negra. Foi assim que entendeu o lugar que a colocam no mundo em comparação com o outro, em suas diferentes camadas de opressão.

“FOI NO NEAB QUE ME RECONHECI COMO MULHER NEGRA […] A QUESTÃO DO LETRAMENTO RACIAL SE TORNOU MUITO PROFUNDA.”

Judit Gomes da Silva, mestra e doutora em Antropologia.
Judit Gomes da Silva, no terceiro encontro da Jornada de Comunicação e Raça. Foto: Eric Rodrigues.

É por meio da pesquisa que estudantes e futuros pesquisadores pretos podem reconhecer o espaço que pertencem, potencializando o estudo da comunidade preta na autodescoberta e pertencimento no meio acadêmico. Segundo Judit, o sentimento de acolhimento não é um trabalho apenas da comunidade, mas das pessoas brancas que precisam reconhecer seu local de privilégio, e fazer parte da luta antirracista.

A SIPAD apoia e desenvolve cursos para a reeducação racial, como o “Desconstruindo o racismo de cada dia”, que também é voltado para os servidores, visando a transformação desde a base da universidade.

Paulo Vinícius reforça que as cotas são de extrema importância para trazer esses assuntos em evidência, uma vez que é preciso de pessoas pretas inseridas na faculdade para haver debates sobre direitos e a diversidade. Desmistificando também a ideia errônea que prega contra as cotas em nome da utópica meritocracia.

Segundo Paulo, o aluno que entra por cota racial tem um rendimento igual ou superior aos alunos que entram pela ampla concorrência, tanto na UFPR quanto nas demais universidades que adotam as políticas afirmativas. A nota até pode ser mais baixa na entrada, mas se iguala ou ultrapassa as demais assim que o estudante é inserido em seu curso.

O pesquisador também considera todo o racismo que o universitário sofre diariamente na faculdade, além da desigualdade financeira que é a realidade da maioria dos alunos pretos. Que não só resistem contra essas desvantagens, como se superam a cada dia e prosperam mais que o restante dos alunos quando o assunto envolve a desistência do curso.

Paulo Vinícius, no terceiro encontro da Jornada de Comunicação e Raça. Foto: Eric Rodrigues.

“PARA ESSAS PESSOAS, FAZER O CURSO É A POSSIBILIDADE DE MUDANÇA EM SUA VIDA. A ABERTURA DE UMA VAGA É A CHANCE DE UMA MOBILIDADE SOCIAL.”

Paulo Vinícius, professor e pesquisador do NEAB.

Próximos eventos da Jornada de Comunicação e Raça:

26/10 — COLETIVOS PRETOS

09/11 — CULTURA PRETA

O evento é realizado pelo Comunica Black, coletivo negro de comunicação social da UFPR, em conjunto com a disciplina optativa de Comunicação e Raça, ministrada pelos professores Juliana Barbosa e Marcelo Garson. Foto: Eric Rodrigues.
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