qui 25 abr 2024
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Duas décadas após “pílulas de farinha”, anticoncepcional natural ganha adeptas

Com 97% de eficácia, Método Billings é cientificamente aceito pela Organização Mundial de Saúde como contraceptivo eficaz. Prática não possui efeito colateral, nem contra indicações

O Método Ovulatório Billings (MOB) vem sendo mais procurado nos últimos anos. Os motivos vão desde o desejo de fugir dos efeitos colaterais da pílula anticoncepcional, que incluem aumento de peso, enxaqueca, diminuição da libido, risco de trombose, e depressão, até questões ideológicas.

Por ser um método totalmente natural, o MOB pode despertar desconfiança caso seu funcionamento não seja compreendido. Porém, se as regras forem seguidas adequadamente, o método é tão eficaz quanto qualquer outro à base de hormônios, além de não depender de intervenções externas passíveis de erros, como o escândalo das “pílulas de farinha”.

Em 1998, 600 mil comprimidos foram fabricados pela farmacêutica alemã Schering com a finalidade de testar uma máquina embaladora do laboratório, e acabaram sendo comercializados indevidamente, causando dezenas de gestações indesejadas.

Apesar do problema, o mercado não foi afetado. Segundo a Close-Up International, empresa que acompanha os dados do mercado de medicamentos, em 2020 foram vendidas 2,7 milhões de unidades de anticoncepcionais a mais do que em 2019, um aumento de 1,8%.

Segundo Banco Mundial, taxa de fertilidade no Brasil é de 1,7 filho por mulher (Infográfico: Kaila Cristina)

O que é Método Billings?

Criado em 1953 pelo casal de médicos australianos John e Evelyn Billings, o método tem como objetivo promover o planejamento familiar de forma natural, a partir da observação de vários indicadores de fertilidade e infertilidade, das mudanças nos padrões do muco cervical, e das sensações da mulher ao longo do dia.

Em 1963, o casal fundou a Organização Mundial do Método de Ovulação Billings (WOOMB), desde então, o órgão se propôs a ensinar o método pelo mundo inteiro. John e sua esposa viajaram por vários países formando professores no Método, dando palestras para médicos e estudantes, e criando centros de ensino.
O Método pioneiro dos Billings foi aprovado pela Igreja Católica e utilizado pela Organização Mundial da Saúde desde 1970, além disso, ele foi o único método natural aceito pelo Governo chinês.

Como aplicar o método?

Para aplicar o método é necessário ficar sem qualquer contato íntimo por duas semanas, incluindo exames, pois eles podem provocar alterações nas células da região íntima feminina, dificultando a interpretação do estado vaginal. O segundo passo é começar a anotar todas as noites o estado da sua secreção. O mais indicado é que se inicie as anotações no início do ciclo, após o fim da menstruação.


A análise das sensações deve ser feita no dia a dia. Para isso, basta verificar se a região externa da vagina, a vulva, está completamente seca, ou úmida. Sempre que for ao banheiro, faça a observação, mas é importante não tocar, o método se baseia na sensação, e isso não inclui o contato direto com a secreção.

Você deverá fazer as seguintes anotações:

Uso do MOB não possui efeito colateral, nem contraindicações (Infográfico: Kaila Cristina)

Outra opção para quem preferir uma maneira mais prática é utilizar o aplicativo BillingsApp, disponível para Android e IOS. Ele foi desenvolvido para registrar as informações do seu ciclo e gerar gráficos mensais.

“Depois de alguns meses, o método se torna um hábito de vida”

Washington Domênico, 29 anos, advogado e adepto do método MOB

Erica Harumi, 25 anos, engenheira civil e Washington Domênico, 29 anos, advogado, conheceram o método em 2017, durante um curso de noivos, mas foi só no ano seguinte, após se casarem, que se interessaram em buscar mais informações. Pouco tempo depois, se tornaram adeptos do MOB.

O casal enfrentou muitas dificuldades no processo de entender o funcionamento e as regras do método por conta própria, e por isso, decidiram orientar outras pessoas. “Para nos tornarmos instrutores foi necessário fazer um curso de capacitação promovido pela Confederação Nacional Centros Planejamento Natural Família (Cenplafam), e após o curso, é preciso fazer um estágio supervisionado. Essa é a fase que estamos. Depois disso nos tornaremos instrutores credenciados”, explica Erica.

Usuários do método desde 2019, o casal afirma que nunca houve falhas, pois segue as orientações rigorosamente. Só engravidaram quando decidiram suspender as regras. “Em julho de 2021 continuamos fazendo as observações, mas deixamos de aplicar as regras para evitar a gravidez, e logo em seguida, em agosto, nós engravidamos, mas infelizmente, sofri um aborto espontâneo com dez semanas”, conta Erica.

Hoje, o casal administra uma conta no Instagram, onde compartilha experiências com o MOB e orienta casais que queiram aplicar o método. “Nós já influenciamos várias pessoas, amigos, familiares, colegas de trabalho e da igreja. No Instagram, nós selecionamos dois casais para darmos introdução no nosso período de estágio supervisionado, e ambos são de outros estados, o que nos mostrou o potencial de romper barreiras através da internet”, complementa ela.

O método é aconselhado principalmente para casais estáveis. Por ser colaborativo, ele requer o comprometimento de ambos para que alcance todo seu potencial. Washington aconselha que para não esquecer é indispensável colocar o celular para despertar, e aos poucos, fazer as anotações se torna parte da rotina. “Disciplina é fundamental para os casais que desejam usar o MOB de forma contraceptiva, mas depois de dois ou três meses, o método se torna um hábito na vida do casal, e a disciplina deixa de ser um fardo”.

Kaila Cristina
Estudante do curso de Jornalismo da UFPR.
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Kaila Cristina
Estudante do curso de Jornalismo da UFPR.
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