Quem passou pela Boca Maldita na tarde deste sábado (26) pôde conferir de perto a última Cavalete Parade da história. O evento é um protesto contra cavaletes políticos em situação irregular durante períodos eleitorais. Para isso, cidadãos são convidados a fazer intervenções artísticas nas propagandas dos candidatos e expor os trabalhos em ruas, avenidas e praças de diversas cidades do país.
Em 2014, a manifestação que transforma os cavaletes em obras de arte aconteceu simultaneamente em várias capitais do Brasil, incluindo São Paulo, Rio de Janeiro, Porto Alegre e Belo Horizonte. A edição curitibana da mostra contou com cerca de 20 peças, que ficaram expostas das 14h às 17h. Os temas das intervenções foram bem variados, indo de críticas ácidas, como a pintura de um político com um abacaxi no lugar da cabeça, até representações de elementos da cultura paranaense, como a gralha azul. Alguns artistas aproveitaram a oportunidade para promover a conscientização do público sobre temas como homofobia e aborto.
O humor foi o caminho escolhido pelo ilustrador Fernando Nolasco, que viveu a experiência de modificar um cavalete pela primeira vez. O desenho criado por ele era uma réplica do famoso padrão das calçadas em petit-pavé da Rua XV de Novembro. “Fiz essa intervenção como uma brincadeira. Desenhei o calçadão da Rua das Flores para representar uma troca: tirei o cavalete da rua e coloquei a rua no cavalete”, explica.
Para Nolasco, as criações funcionam como um modo muito eficiente de “chamar atenção para o problema das propagandas políticas irregulares espalhadas pelas cidades”. Fernando, assim como a maioria dos participantes do evento, recolheu um cavalete na rua entre as 22h e as 6 da manhã, período em que, segundo a legislação vigente, esse tipo de publicidade não poderia mais estar exposto em vias públicas. “Uma vez que o cavalete está numa avenida em um horário ilegal, eu, como cidadão, tenho todo o direito de retirá-lo de lá e fazer o que quiser com ele”, afirma o artista. Cavaletes que estejam em áreas verdes, atrapalhem a passagem dos pedestres ou dificultem a visibilidade dos motoristas também estão desrespeitando a lei.
Adesão
Organizada pela internet de maneira totalmente espontânea, a Cavalete Parade chamou atenção nas redes sociais. Foram mais de mil fotos da exposição postadas no Instagram e aproximadamente 600 pessoas com presença confirmada no evento da edição Curitibana da mostra no Facebook.
Além de conquistar os internautas, a manifestação também chamou a atenção dos pedestres que passavam pela Boca Maldita e não conheciam a iniciativa. A estudante Fabiana Bonfim, de 12 anos, foi uma das pessoas surpreendidas positivamente pela iniciativa. “Para mim tudo isso é bem importante, não porque o cavalete atrapalha, mas porque me faz lembrar dos políticos ruins, que só prometem e nunca cumprem. Achei bem bonito e criativo”, opinou a menina. Segundo dados da Associação Comercial do Paraná (ACP), estima-se que, em média, 140 mil pessoas passem diariamente pela região em que a exposição ocorreu.
Última exposição
Criada em 2012 pelo publicitário Victor Britto e pelo ilustrador Marco Furtado, ambos paulistas, a Cavalete Parade chega a sua segunda e última edição em 2014 devido a uma mudança na lei que regulamenta a propaganda de campanhas políticas. Uma minirreforma eleitoral realizada em 2013 proibiu o uso de cavaletes. A nova regra entrará em vigor a partir de 2016, quando ocorre o próximo pleito municipal.
Apesar de estar se despedindo da Cavalete Parade, Fernando Nolasco garante que a população encontrará outros alvos para as próximas manifestações artísticas. “Não teremos mais cavaletes, mas ainda existem muitas coisas que incomodam a população, como a poluição sonora e os panfletos que sujam a cidade. Vamos ver o que vai estar nos perturbando na próxima eleição”, afirma.