dom 13 abr 2025
HomeCulturaEntre memória e afeto, “A velocidade da luz” conecta gerações no Festival...

Entre memória e afeto, “A velocidade da luz” conecta gerações no Festival de Curitiba 

Em parada no Brasil, peça que já esteve em 6 países se adapta aos símbolos locais e emociona público

“É mágica, fantástica, fiquei muito emocionada”, essas são as palavras de Marília Milani, que acompanhou o desenrolar da obra com lágrimas nos olhos. A peça a qual ela se refere é “A velocidade da luz”, produzida pelo diretor argentino Marco Canale e apresentada pela mostra Lúcia Camargo na 33ª edição do Festival de Curitiba. 

O espetáculo internacional é interativo e se adapta ao público, criado em conjunto com pessoas idosas que compartilham suas vivências, em uma relação de pertencimento com os espaços físicos de Curitiba. A obra, que tem a rua como seu palco, já foi apresentada na Argentina, Alemanha, Japão, Suíça, Espanha e Chile, sempre se moldando aos elementos locais. 

Para a construção da peça, o diretor realizou uma oficina no início de março, na Universidade Federal do Paraná (UFPR). Após o evento, selecionou atores amadores e profissionais para dividirem suas histórias com o público. Dentre os atores selecionados está a cantora de fandango, Chica Merlo, aos 88 anos, que nunca tinha entrado em cena. “Estou muito feliz, foi uma experiência que nunca imaginei que faria com a minha idade. Isso é o que quero passar para as pessoas, que não precisam ficar em casa dizendo que têm idade, que já viveram muito. A gente viveu muito e pode passar muito para os outros”, relata. 

Chica faz a sua estreia aos 88 anos. Foto: Alice Lima 

Diante das ruas, lembranças, causos e riso, o objetivo da peça é reconstruir “lugares de encontro” entre as gerações. Em uma tentativa de conectar vivências passadas às crises da atualidade, a obra faz uso de uma ferramenta principal: a memória. Segundo o diretor, a ideia nasceu de uma crise pessoal que o fez questionar o sentido da vida. Assim, em uma viagem à intuição, Canale sentiu que encontraria as respostas quando se conectasse às gerações antigas.  

“Senti que precisava trabalhar com idosos para atravessar meu pânico da morte. Isso foi central. Sinto que muita depressão juvenil vem porque se romperam os espaços de encontro com idosos”, explica. 

Explorar a cidade

Atriz compartilha memórias pessoais. Foto: Alice Lima

Separada em dois momentos, a peça acontece primeiro em movimento pelas ruas do centro de Curitiba. No primeiro ato, a plateia é levada ao “palco”, onde são narradas as histórias dos atores. O resultado é um cenário de identificação e reconhecimento, no qual os espectadores se veem nos olhos de quem interpreta as memórias, muitas vezes adormecidas. Já a segunda parte se desenrola na praça Santos Andrade, no centro da capital, e mistura a realidade com a ficção em uma trama sobre a criação de uma casa de repouso para artistas. 

A gente viveu muito e pode passar muito para os outros

Chica Merlo, cantora

Ao final do espetáculo, a plateia leva para casa as lembranças que passaram na velocidade da luz e se entrelaçam com o futuro, deixando um questionamento no ar: Quais são os seus lugares de memória pela cidade? 

Atravessando fronteiras 

Apesar das peças internacionais não serem o foco do Festival de Curitiba, o impacto positivo no público e a troca de saberes contribui para o crescimento do cenário artístico em níveis globais. Uma das curadoras da edição, Giovana Soar, explica o que pode ser esperado da seleção de trabalhos para a próxima edição: 

“Tendo em vista que as obras tocaram tantas pessoas, nós certamente continuaremos fazendo esforços para trazer peças internacionais. Salpicar o festival com essas obras internacionais nos parece agregar nessa interlocução, trocas e intercâmbios. É muito importante.” 

A curadora ainda afirma que, para o próximo ano, há expectativas de estender o convite para peças de outros continentes do mundo, além da América Latina.  

Peça lota praça Santos Andrade. Foto: Giuliano Boneti

Ficha Técnica

Repórteres: Alice Lima e Giuliano Boneti 

Revisor: Luisa de Cássia

Edição Final: Alana Morzelli

NOTÍCIAS RELACIONADAS
Pular para o conteúdo