A Universidade Federal do Paraná (UFPR) tem cerca de 3 mil estudantes negros, segundo dados da Procuradoria Jurídica da instituição – número baixo em relação aos quase 30 mil alunos de graduação. Apesar de 20% das vagas da Universidade serem ofertadas para os negros, o número de cotistas raciais em sala de aula chega a apenas 13%.
Para representar esse grupo, a UFPR possui o Núcleo de Estudos Afro-brasileiros (Neab), conjunto de projetos que produzem conhecimento relacionado às “africanidades” no Brasil. Por ser voltado para estudos e não para ações, o Neab tem dificuldades para avaliar o preconceito que ocorre dentro da universidade contra os negros. É o que diz o professor do setor de Educação e especialista em diversidade, Paulo Batista da Silva. “Existem pouquíssimas iniciativas para combater esse tipo de problema. Mas não só aqui na UFPR, no Brasil inteiro é assim”, afirma o professor.
Para ele, o estudante afrodescendente é tratado com opressão e as cotas não melhoraram esse aspecto. “A única diferença é que agora há negros em cursos onde antes não havia nenhum. O que muda é o número de afrodescendentes, mas a discriminação continua a mesma”. A integração com os demais alunos, segundo o professor, tem um balanço positivo, mas isso não significa que não existam dificuldades.
Exemplo disso é o caso da estudante de Pedagogia e cotista racial da UFPR, Eliane Graciano. A aluna acredita que os cotistas são tratados de forma diferente dentro e fora da Universidade. “Ao se declarar cotista racial, a pessoa passa a ser tratada como alguém que merece compaixão e que só está na faculdade porque existem cotas, do contrário ‘não teria capacidade para estar ali’”, afirma Eliane. “O desempenho não tem a ver com a cor da pele e sim com o comprometimento e motivação da pessoa”, completa.
Preconceito
Eliane conta que já foi vítima de preconceito dentro da sala de aula, a partir de um comentário feito pela própria professora. “Ela disse que eu e minha amiga éramos duas macaquinhas comendo banana”. Para a aluna, a frase soou ofensiva, já que no Brasil não há igualdade racial. “Ao igualar uma pessoa a um animal, se coloca toda a concepção de não humano, não racional e sem direitos”, explica.
O episódio levou a estudante a entrar com uma ação contra injúria racial no Ministério Público e a buscar o apoio de amigos e familiares para superar o abalo psicológico. Segundo Eliane, faltou suporte por parte da Universidade.
“A única coisa que aconteceu foi uma reunião com vários professores e só
nós duas de alunas. Foi desigual, num tom ameaçador e nada acolhedor”, conta.
O cotista racial do curso de Matemática, Dihego Fernandes Gomes, já presenciou casos parecidos. “Tem um aluno no meu curso muito inteligente, que sempre tira nota máxima nas provas. Por ele ser negro, há uma piadinha de que as notas não vêm do esforço, mas das cotas. Como se existissem cotas para nota”, indigna-se Dihego. “E ele não entrou por cotas”, esclarece o estudante.
Dihego não vê problemas de convivência com demais alunos brancos. Mas, para ele, isso é resultado da facilidade de se relacionar com os outros. “Nunca tive dificuldade em conviver com diferentes tipos de pessoas, mas isso é porque eu sou meio extrovertido”, diz.
Ações
Dihego e Eliane compartilham a opinião de que o preconceito que acontece na Universidade é um reflexo da sociedade. Os estudantes sugerem que a UFPR ofereça atendimento psicoterapêutico a quem sofre discriminação, divulgue os estudos realizados contra o racismo e o preconceito, e ministre curso de formação aos professores a respeito da lei que obriga a inclusão dos estudos sobre história e cultura afro-brasileira na rede de ensino.