sáb 20 abr 2024
HomeCulturaLivro dos professores da Unespar registra os primeiros marcos do cinema no...

Livro dos professores da Unespar registra os primeiros marcos do cinema no Paraná

"Cineastas do Paraná: Primeiros Tempos" traz os primeiros passos de um mercado em ascensão

Por Paula Bulka Durães e Carolina Genez

Desde A Chegada do Trem na Estação (1896) dos irmãos Lumière até o sulcoreano Parasita (2019), o cinema ocupa um importante papel de discussão e reflexão, ultrapassando a tão simples barreira do entretenimento. As produções nacionais também ganham espaço em festivais internacionais e rodas de conversas no bar. Para além do eixo Rio-São Paulo, o mercado cinematográfico ganha cada vez mais forma e características únicas. 

De volta do túnel do tempo, o cinema paranaense surge da fascinação estrangeira pelas belezas naturais do estado, como as Cataratas de Iguaçu e passa por nomes grandiosos como Annibal Requião, João Groff e Arthur Rogge. É essa história oculta da cinematografia paranaense que Eduardo Tulio Baggio, Cristiane Wosniak e outros estudiosos da área revisitam em “Cineastas do Paraná: Primeiros Tempos”, livro publicado pela editora Intermeios entre os dias 25 e 29 de novembro e que reúne a pesquisa sobre os grandes nomes do audiovisual do estado até meados dos anos 1950.

Linha do Tempo
O audiovisual paranaense ao longo dos anos.

Cristiane, professora da Unespar e co-autora do livro, conta que a obra surgiu de uma pesquisa iniciada em 2016 dentro da Universidade Estadual do Paraná (Unespar), através de uma carência de materiais sobre os registros dessa história. “Basicamente, foi uma pesquisa que se utilizou de fontes primárias, como arquivos municipais, casa da memória, cinemateca, fotogramas e das próprias produções da época. O livro sempre foi uma vontade nossa, embora não estivesse previsto no projeto inicialmente”, conta.  

O objetivo do livro é dar visibilidade à memória cinematográfica paranaense, não só através da pesquisa, mas também para organização cronológica dessas produções. “Nós temos oito capítulos que englobam todas as pesquisas realizadas pelos colegas que adentraram o projeto lá em 2016. Temos também um prefácio que não é apenas uma apresentação, é uma aula de historiografia também, elaborado pela professora Rosane Kaminski”, relata Cristiane. 

Segundo Eduardo Baggio, cineasta e professor da Unespar, a principal característica dessa primeira geração é a predominância de produções no estado de caráter documental. “Têm alguns filmes que a gente não chamaria exatamente documentário, mas que também não são ficções, são em sua maioria filmes institucionais, um cinema sob encomenda por interesses de alguns grupos econômicos e industriais”, diz Baggio, também autor do livro.

A cinematografia paranaense também teve seus primeiros nomes ligados à lógica da imigração. “Os primeiros cineastas eram filhos de imigrantes e eventualmente até netos. Até mesmo nomes pioneiros como o Annibal Requião e o João Groff eram filhos ou netos de imigrantes europeus, uma característica que tem muito a ver com a formação do nosso estado”, acrescenta o professor. 

A participação das mulheres no cinema paranaense também é ressaltada no livro, no capítulo elaborado pela professora Cláudia Priori que evidencia o olhar do feminino na cinematografia e historiografia paranaense. Essa presença teve um crescimento significativo nos últimos anos, mas as diferenças entre a presença masculina no cinema paranaense ainda são evidentes. 

“É preciso permitir que elas sejam ouvidas e que cheguem aos seus públicos”

Segundo o Mapeamento do Audiovisual Paranaense realizado em 2018 pela Associação de Vídeo e Cinema do Paraná, as mulheres ocupam apenas 30,5% no audiovisual paranaense, número que comprova a desigualdade nas oportunidades de trabalho, principalmente fora do eixo Rio-São Paulo. 

A publicitária Victória Gonçalves entende que a crescente participação feminina ocorreu, mas de forma condicionada. “Os cargos em que a presença das mulheres é maior, são aqueles que possuem tarefas mais ‘domésticas’, envolvidas como a produção (principalmente executiva), figurino, maquiagem, direção de arte e edição; funções comumente menos prestigiadas e remuneradas no meio”, comenta.

Gonçalves ainda acrescenta que a desigualdade atinge também a questão salarial. “A maioria das mulheres costuma receber menos para executar tarefas iguais, ou ocupa cargos com menos responsabilidades apesar de sua formação e tende a abandonar a profissão em menos tempo”, diz. Essa representação desigual nos bastidores impacta fortemente a representatividade na frente das telas, a maneira como as mulheres são retratadas, e quem tem poder sobre o olhar feminino. 

A publicitária explica que não existe solidez na produção do mercado a menos que haja uma diversificação de profissionais e de produtos, e expressa a necessidade dessa diversidade na indústria cinematográfica. “Isso permite não só maior representatividade nas telas na hora de retratar produtos audiovisuais de diferentes partes do país, mas também a possibilidade de mais estruturas de mercado de acordo com as características de cada região. E com relação à igualdade de gênero não é diferente: não existe uma única voz feminina no Brasil, no Paraná ou em Curitiba. É preciso permitir que elas sejam ouvidas e que cheguem aos seus públicos.” 

Cineastas do Paraná: Primeiros Tempos
Capa do livro “Cineastas do Paraná: Primeiros Tempos”. Foto: Reprodução/Editora Intermeios

Apesar do cinema oriundo do eixo Rio-São Paulo ser ainda bastante consagrado, existe um processo de descentralização gradativa iniciado nas últimas duas décadas. Hoje, para o professor Baggio, já é possível reconhecer a força do mercado audiovisual paranaense. Quanto ao consumo das produções, elas estão cada vez mais presentes nos streamings do que nas salas de cinema. “A atuação cinematográfica dentro da sala de cinema é muito menor do que a produção visual, integrando contemplando aí televisão, streaming e internet.”

A qualidade das produções do estado é visível e dessa vez o reconhecimento veio com a nomeação do Brasil ao Oscar, o filme Deserto Particular, da produtora paranaense Grafo Audiovisual. O longa-metragem também foi destaque no Festival de Veneza. As indicações ressaltam o cinema nacional e paranaense trazendo consigo a representatividade da região para um cenário mundial. 

O livro Cineastas do Paraná: Primeiros Tempos está já disponível à venda deste link.

NOTÍCIAS RELACIONADAS
Pular para o conteúdo