Por Giovana Bonadiman e Rafael Maldonado
O Imperial Futebol Clube, do bairro Mossunguê, levantou a taça de Campeão Paranaense Feminino sub-17 na última terça-feira (12). A premiação aconteceu no Estádio Octavio Nicco, casa do Imperial, antes de jogo-treino das campeãs contra o time sub-20 do clube. A conquista do título mostra como o time tem assumido um papel fundamental para um maior interesse no futebol feminino no Paraná.
A equipe confirmou o título sem entrar em campo, pois o time do Grêmio Madeirit, de Guarapuava, abandonou a competição e teve as partidas anuladas. Com os pontos das partidas contra o Madeirit retirados e a derrota do Londrina para o Toledo na última rodada, o time de Curitiba trouxe o título inédito para casa fechando uma “dobradinha” – o IFC levou também de forma inédita a taça do estadual feminino sub-15.
A FALTA DE INCENTIVO
O desenvolvimento do esporte tem sido mais constante – a Copa do Mundo na Austrália e Nova Zelândia e a final do Brasileirão da categoria quebraram recorde de audiência – mas o futebol feminino no Paraná caminha a passos bem mais curtos.
“Muita gente não acredita no futebol feminino, você vai bater na porta dos empresários pedir ajuda e fala que é futebol feminino, [a resposta] é ‘não’ ”, desabafa Fabiano Trevisol, presidente do Imperial. A falta de incentivo financeiro ainda é um grande obstáculo para o desenvolvimento dos times femininos, que sofrem com a falta de patrocínio de grandes empresas.
A diferença salarial também é um ponto que rende discussão. Uma jogadora profissional recebe em média cerca de R$ 5 mil, segundo dados do Caged (Cadastro Geral de Empregados e Desempregados). O número colocado em comparação com a média salarial dos jogadores – cerca de R$ 4 mil – até pode parecer mais alto, porém isso só ocorre pelo fato de que existe uma grande quantidade de atletas homens em divisões menores e campeonatos pouco expressivos. O número de mulheres que são profissionais e competem na primeira divisão nacional ainda é muito baixo, o que gera esse déficit. Com valores chegando a uma média de R$ 80 mil, o salário de um jogador da série A pode pagar as despesas de um time inteiro de futebol feminino.
O juiz da partida, Valdegênio Lima, também percebe as diferenças: “Quando eu vou apitar o profissional [masculino] eu chego no vestiário e está lá: gatorade, cafézinho, fruta. Vê se as meninas tem isso?”. Árbitro desde 1998, ele diz que falta atenção à modalidade: “Tem que focar mais no feminino, o futebol masculino já está bem estruturado. Tá crescendo por enquanto os times do Rio e de São Paulo, e no Paraná que tem uma tradição bonita, as pessoas fecham os olhos para as meninas, tem meninas muito boas aqui”.
“Uma menina pode jogar muita bola mas não vai ganhar o salário como um Neymar”
Valdegênio Lima
IMPERIAL
O time feminino do Imperial tem parceria com o Coritiba. Usa o escudo do alviverde nas competições profissionais e sub-20, além de receber auxílio financeiro e de pessoal para manter a equipe. “O Coritiba fornece material e subsídio além do nome para entrar em competições. Mesmo o feminino sendo menos, ainda é custoso”, comenta Marlon Major, treinador da equipe sub-17. Trevisol, o presidente do Imperial, diz que o grupo que comanda a SAF do Coritiba tem planos de continuar com o feminino para além da obrigação – desde 2019 a CBF exige que os clubes tenham time feminino para disputar a série A – e acredita no investimento e evolução do projeto.
O estádio do Imperial está localizado no bairro Mossunguê. Foto/Giovana Bonadiman
UM FUTURO PARA O ESPORTE
O Presidente fala com orgulho da jornada do clube, referência em formação no Paraná: “Começou em 2014 e vem crescendo cada vez mais, estamos revelando bastante atletas”. A zagueira Isabela Soares e a atacante Pamela Freitas, ambas de 17 anos, comentam o apoio dado pelo clube: “É um dos poucos aqui no Paraná que investe no futebol feminino […] aqui [Imperial] é para o futebol feminino”. Sobre o futuro da carreira, as campeãs estaduais se mostram otimistas: “É difícil mas não é impossível”, pondera Pamela. “Há dois anos atrás o futebol feminino não era do mesmo jeito que é hoje, então a gente tem muita chance de sonhar em viver só disso”, completa Isabela.
Jogadoras do Imperial recebendo o título do sub-17 paranaense. Foto/Giovana Bonadiman
Em 2023 o Imperial/Coritiba tem no calendário o paranaense profissional – ainda sem data para o arbitral –, a Ladies Cup sub-20 e a Girl Power Cup, organizada pela Next Academy para dar mais minutos às atletas. O clube ainda aguarda informações sobre o Brasileiro sub-17 e a recém criada Copa São Paulo, que tem previsão de ser realizada em dezembro. A Federação Paranaense de Futebol planejava o estadual sub-20, mas foi cancelado por falta de equipes inscritas.
Foto/Giovana Bonadiman