Logo ao chegar à rua em que se encontra o atelier, percebo no lugar uma característica que depois verificaria no próprio ambiente de trabalho e na pessoa de Luiz: a serenidade. Localizado no Seminário, o atelier de Luiz Amorim, um dos luthiers mais conhecidos de Curitiba e do Brasil, é calmo e cheio de cellos, violinos, violas. E o som da música clássica ao fundo… Certamente é um ambiente perfeito para um trabalho tão detalhista e complexo.
A profissão de luthier é uma das mais antigas, uma vez que os instrumentos de corda em madeira – foco do trabalho – surgiram há cerca de quatro mil anos. A profissão consiste, basicamente, na construção e no reparo de instrumentos musicais. Mas o que antes era limitado a instrumentos clássicos, hoje foi expandido, com o trabalho em guitarras, baixos e violões. Luthiers famosos, como Leo Fender – que construiu as guitarras mais famosas do mundo -, seguiram nesse caminho. Por outro lado, vários profissionais continuaram produzindo instrumentos clássicos, artesanalmente. Esse tipo de trabalho, mais minucioso, garante ao músico um instrumento com maior qualidade, tanto sonora quanto estética.
Luiz começou a construir instrumentos em 1995. Foi convidado a participar de dois ateliers em 1998 e, em 2001, já trabalhava no próprio atelier, que leva seu nome. Ele explica que além de sua paixão por música e por instrumentos, sua formação também lhe ajudou muito no aperfeiçoamento das técnicas. É artista plástico pela Escola de Música e Belas Artes do Paraná e também já fez Engenharia Mecânica no CEFET-PR.
Além de reparar instrumentos de clientes, Luiz também é contratado pela Fundação Cultural de Curitiba para atender a Camerata Antiqua de Curitiba e dedica um bom tempo na construção de seus próprios instrumentos. “Consigo fazer em média cinco, seis instrumentos por ano”, diz ele. Um cello, por exemplo, leva em média 500 horas para ficar pronto, o que acaba criando uma fila de espera para compra de seus instrumentos de aproximadamente três anos. Também faz réplicas de peças famosas, como os del Gesùs, de Guarnieri. Nesse tipo de trabalho, ele explica que o mais difícil é se alcançar uma sonoridade semelhante aos instrumentos originais.
A pessoa de Luiz Amorim é fascinante. Lembra aquele professor de filosofia que todo mundo teve, ou deveria ter tido. Calmo e atencioso, medita todos os dias e mantém uma dieta vegetariana. Para ele, essas atitudes ajudam o ser humano a se conhecer melhor e a ser mais paciente com os problemas da vida. E a música, assim como todas as outras artes, também estimula esse lado mais introspectivo nas pessoas.
Local de trabalho
O atelier possui diversos espaços. Na entrada, a sala de espera: um sofá, diversos instrumentos feitos e restaurados por ele, revistas especializadas em música clássica e instrumentos tradicionais, som ambiente. Depois passamos pela loja, onde ficam expostos mais instrumentos e acessórios, e só então chegamos ao cantinho dele.
A decoração do espaço remete a algo mais clássico, mais tradicional. Desde os móveis, o chão em madeira, passando pela iluminação, tudo condiz com o estilo do trabalho que ele faz e – não pergunte o motivo – não me sentia no século XXI. Talvez porque, com a contemporaneidade, perdemos um pouco essa forma de apreciação da arte. A música clássica, quase esquecida, soa diferente quando a escutamos em um ambiente adequado e não no ônibus Santa Cândida/Capão Raso.
Luiz tem o apoio dos dois filhos mais novos (Luan, 21, na parte de vendas e marketing; e Gaian, 16, na confecção de instrumentos), da esposa e de mais um funcionário. E apesar de ter dois filhos trabalhando junto com ele, não podemos dizer que apenas ele influenciou no gosto pela música: na verdade, Luiz Amorim foi influenciado também. Começou a ter contato com instrumentos após seus filhos, ainda pequenos, começarem a estudar em uma escola que musicalizava as crianças. A influência foi mútua, especialmente em relação a Gaian, que fará um curso de luteria na Itália – escola que também influenciou no estilo de seu pai.
Quer ser Luthier?
A Universidade Federal do Paraná oferece um curso de três anos de Tecnologia em Luteria. Todo ano são abertas 30 novas vagas, concedidas a alunos aprovados no processo seletivo da Universidade. O curso dá uma ideia ampla sobre a profissão, explorando diversas áreas de conhecimento, como química, física, música, arte, desenho entre outros, além da habilidade no trabalho com madeira e ferramentas manuais.