Mais uma morte estúpida acontece no Rio de Janeiro. Se nas manifestações de junho do ano passado foi possível perceber o despreparo da Polícia Militar, nas favelas a situação é ainda pior. O dançarino do programa Esquenta, Douglas Rafael da Silva Pereira, o DG, foi encontrado, já sem vida, em uma escola do complexo Pavão Pavãozinho, na zona sul do Rio. O incidente aconteceu no dia 21 de abril desse ano.
Segundo testemunhas, DG teria sido confundido com um traficante. Há também acusações, não confirmadas, de que o dançarino teria sido espancado pelos policiais antes de ser baleado.
O caso de DG não é único. Neste último dia 5, moradores do morro dos Macacos fecham a entrada da favela carioca. De acordo com os próprios, a polícia militar teria baleado um menino de oito anos. Três moradores de favela já foram mortos nas últimas duas semanas no Rio de Janeiro.
A política de segurança pública do Rio de Janeiro necessita ser revista. Segundo a diretora da Rede de Desenvolvimento da Maré, Eliana Souza Silva, em coluna publicada no jornal O Globo, nos primeiros 55 dias de 2014, houve pelo menos 45 mortes em operações policiais em favelas do Rio de Janeiro, sem contar feridos.
Nessa estatística, entram Edilson da Silva Santos, 27 anos, e Matheus, 12 anos. Ambos foram mortos em uma manifestação de moradores na favela do Pavão-Pavãozinho; o protesto começou após a morte do dançarino.
Guerra contra pobres
Não se pode simplesmente colocar quartéis em localidades pobres sem qualquer outra presença do Estado que não seja polícia para tomar conta das pessoas. É lamentável a tentativa de controlar os bandidos que estão soltos por aí através do estabelecimento de guetos onde esses marginais atuam.
Igualar cidadãos moradores de comunidades pobres a bandidos e traficantes é um erro fatal dessa política de segregação social. E é assim que as UPPs (Unidades de Polícia Pacificadora) funcionam. É necessário tratar o ser humano sem distinção de cor, credo e, principalmente, classe social.
Como disse o ativista Rafucko quando foi intimidado, digo, intimado pela PMERJ a comparecer a um posto policial: “se você parar pra refletir, você vai perceber que esta guerra que estamos vivendo não é contra as drogas, mas contra os pobres. Traficantes do morro e policiais não são lados opostos. Eles são o mesmo lado, o único lado cuja morte é aceitável para a nossa sociedade e para a nossa mídia”.
40 mil desaparecimentos impunes
Essa fala é respaldada pelo número lançado pelo ISP-RJ (Instituto de Segurança Pública), que alega que houve um aumento de praticamente 60% de mortes em conflitos da PMERJ em relação ao mesmo trimestre do ano passado.
Contudo, ainda tem mais. Nos últimos sete anos do governo Sérgio Cabral, desapareceram mais de 40 mil Amarildos, segundo os dados da própria Secretaria de Segurança Pública do RJ. E somam-se mais de 10 mil mortes registradas como autos de resistência, mecanismo que vem desde a Ditadura Militar para encobrir assassinatos promovidos pelos agentes do Estado, mantendo-os sem investigação e impunidade.
É visível a falta de preparo na implementação das UPPs. Deixar o povo resguardado por essa polícia, que nos últimos 10 anos, segundo os dados do ISP, matou cerca de 10 mil pessoas, é convidar o seu povo para um abatedouro e fechar a porta com um cadeado. A política das Unidades de Polícia Pacificadoras não é falha, mas deve ser revista de modo que não seja apenas uma máquina exterminadora de pobres.
Fontes
http://www.apublica.org/2014/02/desaparecidos-esquecidos/
http://oglobo.globo.com/opiniao/por-que-policia-tao-violenta-11702643
https://www.facebook.com/okcufar/posts/615557345193976
http://www.isp.rj.gov.br/Conteudo.asp?ident=150