Impulsionado pelo crescente número de leitores, a produção nacional de quadrinhos encontra-se no seu melhor momento em anos. O “orgulho nerd”, característico da geração atual, e os diversos eventos voltados aos quadrinhos, como a Comic Con Experience e a Gibicon, dão visibilidade aos quadrinistas do país e às suas obras.
A Graphic MSP, projeto da Maurício de Sousa Produções, é uma das iniciativas que mais estimulam o crescimento do ramo de HQs no Brasil. Criado em 2009, o selo Graphic MSP reúne diversos artistas para fazer releituras dos clássicos personagens da Turma da Mônica. Cada um ganha sua própria graphic novel (“romance gráfico”), histórias mais longas, normalmente beirando as 70 páginas.
Sidney Gusman, editor-chefe da Maurício de Sousa Produções e co-responsável pela criação da Graphic MSP, sente-se orgulhoso. “A ideia de fazer graphic novels sobre aTurma da Mônica surgiu depois do MSP 50 (comemoração dos 50 anos da carreira de Maurício de Souza)”, diz. “Nós esperávamos que a Graphic MSP fizesse sucesso como o projeto anterior, e fez”. O que deixa o editor-chefe mais feliz, no entanto, é o retorno que esta iniciativa dá aos quadrinistas convidados, que acabam ganhando mais visibilidade.
Os artistas tiveram, assim como os próximos convidados terão, liberdade para criar histórias completamente novas, usando seus próprios traços e trabalhando com temáticas que estão acostumados. “Mas a essência dos personagens não pode ser alterada. Não se pode matá-los, por exemplo”, observa Sidney Gusman, lembrando que mesmo que o alvo seja o público juvenil e adulto, essas graphic novels ainda são da Turma da Mônica e são lidas também por crianças.
Sobre o cenário atual das HQs no país, Gusman se mostra otimista. “Estamos na melhor situação do mercado nacional de histórias em quadrinhos. Estamos num processo artístico muito grande. Há muitas novas ideias, novas histórias”, analisa. “As pessoas têm mais interesse em HQs e os artistas estão conseguindo aproveitar isso. O leitor poder comprar pela internet também ajuda muito”. Para Gusman, outro fator que populariza as HQs é a redução do preconceito contra os leitores. “Hoje existe o orgulho de ser nerd e as pessoas perceberam que os quadrinhos também são para crianças, que tem HQs para todos os gostos”.
Além do entretenimento
Líber Paz faz seus próprios desenhos e é apaixonado por HQs desde criança, quando seu pai lhe dava gibis da Turma da Mônica, da Disney e de super-heróis. Mesmo tendo crescido, seu interesse continuou graças aos quadrinhos lançados nos anos 80, como “Watchmen” e “V de Vingança”, de Alan Moore, e “O Cavaleiro das Trevas”, de Frank Miller. “Esses autores faziam histórias realmente revolucionárias, que promoviam um choque entre a inocência e simplificação das histórias de super-heróis e a brutalidade e complexidade da vida adulta”, analisa.
Além de colecionador de quadrinhos, Líber Paz é professor e especialista no assunto e compartilha da mesma opinião de Sidney. “Quadrinhos oferecem uma experiência estética tão legítima quanto qualquer outra mídia. A questão é o que o leitor busca”, aponta. “Atualmente encontramos diversos quadrinhos que oferecem algo mais do que o mero entretenimento. Há obras falando sobre rock, arte, biografias, política…”
Professor, Líber Paz não vê preconceito contra quadrinhos nem mesmo no meio acadêmico. Ele diz que as pessoas já entendem que as HQs são um produto cultural legítimo e relevante da sociedade contemporânea. “Minha pesquisa aborda os quadrinhos pela perspectiva dos estudos culturais. Acredito que as HQs dizem muito a respeito de nós mesmos e de nossas realidades”, argumenta. “Não são apenas meios de repetir e reforçar, mas também de criar e questionar valores da nossa sociedade – assim como qualquer outra manifestação cultural”, completa o professor, cuja dissertação de mestrado lhe rendeu o HQ Mix, o prêmio nacional mais importante no ramo de quadrinhos.