
A passagem do asteroide 2012DA14, relativamente próximo da Terra, no último dia 15, mesma data da queda de um meteorito na Rússia, gerou preocupação em quem acredita que os maias erraram a data de suas previsões. Mas os apocalípticos de plantão podem ficar tranquilos os recentes fenômenos não são um sinal do fim dos tempos e, na verdade, são absolutamente normais.
Os fatos não tiveram relação entre si. O professor do departamento de Física da UFPR Dietmar William Foryta explica que é comum a entrada de meteoros na atmosfera terrestre. “Em média, deve cair um deles a cada mês e meio, um meteorito do tamanho de uma casa”, relata.
Além da passagem do asteroide e da queda do meteorito, outros fenômenos foram avistados logo após os acontecimentos. Um dia depois, uma “bola de fogo” foi vista no céu dos Estados Unidos. O fenômeno, já explicado, se tratava de um pequeno meteoro entrando na atmosfera. Ao longo da mesma semana, eventos semelhantes foram testemunhados em alguns estados no Brasil.
Para o professor, o fato da queda do objeto se dar justamente na data da passagem de um asteroide de 45 metros de diâmetro, a uma distância de 27 mil quilômetros da terra (mais próximo que alguns satélites de comunicação) atraiu mais a atenção das pessoas, que passaram a notar outros acontecimentos. “Essas coisas também estão sendo percebidas mais porque em praticamente qualquer lugar do mundo há um câmera à disposição”, opina.
Entenda a diferença
- Nos últimos dias, ouvimos falar de diversos corpos celestes. Mas o que diferencia um e outro?
- Meteoroide: Objeto com massa variada (grande ou pequeno), que viaja pelo espaço.
- Meteoro: Meteoroide que atravessa a atmosfera.
- Meteorito: Parte do meteoro que chega ao solo.
- Asteroide: Objeto sólido e rochoso, maior que o meteoroide.
- Cometa: Uma bola de gelo, composta basicamente por gases. Em razão disso, forma uma espécie de cauda.
- Estrela Cadente: Nome popular do meteoro. O termo cadente já implica em um objeto que cai.
Impactos do Meteoro
A queda do meteorito na Rússia deixou mais de mil feridos, grande parte em razão de estilhaços de vidros quebrados. Segundo Foryta, esse estrago é causado por conta da entrada do objeto na atmosfera. “Quando o meteoro entra na atmosfera e libera energia, ele empurra, desloca o ar. É, na verdade, um princípio semelhante ao da bomba atômica”, explica. No caso do objeto que atravessou a Rússia, o estrago foi maior porque o corpo se aproximou do solo.
A entrada de meteoros na atmosfera terrestre não é, por si só, ameaçadora à espécie humana. “A passagem do meteorito produz reações químicas dos próprios componentes do ar, que a princípio são venenosos, como o óxido. Mas a quantidade desse material normalmente é muito pequena, tal qual produz uma indústria. Então ela não causa estrago”, explica. Frequentemente, meteoros do tamanho de um carro entram na atmosfera, mas são desintegrados antes de chegarem ao solo.
Detecção e estudo de novos corpos celestes
Segundo o professor Foryta, o estudo da órbita e detecção de objetos menores, como os meteoros, é mais complicado. Em razão disso, não foi possível prever a queda do meteorito na Rússia. Mas objetos de maior porte, como os asteroides já estão bem catalogados e com órbitas previstas.
No momento, não há nenhum corpo celeste desses preocupando os cientistas. “É claro, de repente, pode ter alguma surpresa nova, mas, a princípio, não há nada que nos deixe completamente preocupados”, esclarece. “E se tivesse, os americanos dificilmente conseguiriam esconder”, brinca o professor, descartando uma “conspiração norte-americana para ocultar o fim do mundo”.
Para 2013, estão previstas as passagens de dois cometas. Os cometas Panstarrs e Ison devem chegar próximos a Terra em março e novembro, respectivamente. Os dois objetos não representam risco de colisão com o planeta.

Ouro de outro mundo
Pedaços do meteorito russo foram encontrados em um lago congelado, na cidade de Chebakul. A busca agora vai além de razões puramente cientificas. Grupos de pessoas estão atrás de outros restos do meteorito para fins comerciais. Estima-se que um grama do objeto valha cerca de 40 vezes mais que o grama do ouro.
Apesar da valorização dessas peças se dar pelas circunstâncias, o professor comenta que já se constatou a presença de metais preciosos em corpos celestes, como em asteroides. “Um pequeno asteroide, de 100 metros, tem tanta quantidade de ferro, de metais preciosos (como a platina), que seria extremamente interessante pegar um deles e fazer mineração”, conta. E acrescenta: “Um objeto de 100 metros pode trazer quase que o PIB do mundo inteiro em platina”.
Sistema de prevenção inexistente no Paraná e no Brasil
Segundo o Secretário do Meio Ambiente de Curitiba, Renato Lima, não existe no Paraná e no Brasil um serviço de detecção e prevenção de desastres ocasionados por corpos celestes. Lima, que também é o professor fundador do Cenacid (Centro de Apoio Científico a Desastres da UFPR), conta que há uma recepção de dados de serviços internacionais, mas que não há as ferramentas próprias necessárias no país para enfrentar esse tipo de situação.
“Nós temos sistemas de detecção de objetos na atmosfera, que seriam os radares para aeronaves, muito específicos”, fala. E completa: “Uma vez detectado, o tempo seria muito curto pra permitir uma ação de redução do risco até um possível impacto”.
Apesar disso, há a proposta do desenvolvimento de um plano geral, chamado de Gestão de Riscos, em Curitiba. Ele não seria específico para esse tipo de acidente, mas se trata de um plano de preparação para imprevistos em geral. “O projeto estabeleceria um conjunto de medidas e ações relacionadas à mobilização de recursos que são necessários para enfrentar as diversas possibilidades de situação”, diz Lima.
Queda de meteoro em solo paranaense
Em 2004, uma equipe de pesquisadores do Instituto de Geociências da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) descobriu uma cratera de quase dez quilômetros no interior do Paraná. A cratera de Vista Alegre, localizada no município de Coronel Vivida, foi formada pelo impacto de um meteoro há cerca de 120 milhões de anos.
Atualmente, a área serve de ponto turístico, e é uma das cinco grandes crateras descobertas em solo brasileiro.