Quando se pensa em circo, é quase automática a associação com uma série de símbolos e
figuras que marcaram gerações. Entre eles, um dos mais famosos é o da Monga, a “mulher
macaco”. Julia Pastrana — a primeira Monga — sofria de hipertricose, uma condição rara
que provoca o crescimento de pelos escuros e grossos por todo o corpo. Vendida ainda
criança por sua mãe a um artista circense, Julia passou a integrar espetáculos que exploravam pessoas consideradas “aberrações”.
Sua trajetória foi marcada por preconceitos, abusos e violência. Agora, sua história está sendo revisitada sob uma nova perspectiva, mais sensível e humanizada. Jéssica Teixeira, atriz e diretora de Monga, tem como grande objetivo ampliar as possibilidades de futuros mais dignos para corpos diversos em nossa sociedade. Durante a coletiva de imprensa realizada no dia 25 de março, no Festival de Curitiba, a artista declarou: “Acho que não sou tão estranha assim. Sou igual a vocês.” Jéssica possui uma deficiência na coluna chamada fusão de arcos costais.
O grande diferencial de sua peça em relação a outras representações de Monga está no
compromisso de não reproduzir a violência sofrida por Julia em cena. “Não vou entrar na
jaula da Monga. Não aplico a ordem de violência que ela sofreu. O objetivo é trazer o
mínimo de dor e ressentimento possível”, afirmou a atriz.
Recentemente, Jéssica conquistou o Prêmio Shell — o mais importante do teatro brasileiro — na categoria de Melhor Direção. A vitória foi uma surpresa para a artista, que nunca
imaginou alcançar tal reconhecimento por se considerar “de fora da bolha”. Para ela, a
premiação não se trata de apontar o melhor ou o pior, mas sim de reforçar que o teatro é,
antes de tudo, uma grande comunhão. “Não sei fazer outra coisa tão bem quanto comungar”,declarou.
Monga estará em cartaz nos dias 26 e 27 de março no Teatro Paiol, com todos os ingressos já esgotados.
“Não vou reproduzir as violências que ela passou”, Monga nos convida a repensar o circo
Um dos números mais icônicos da história do circo ganha agora uma versão mais empática e humanizada.